

A novela do Pix teve um recuo por parte do governo depois da campanha avassaladora do deputado Nikolas Ferreira nas redes sociais.
Chamem-no de moleque para desqualificá-lo com têm feito alguns, mas o fato é que os quatro minutos de seu pronunciamento atingiu uma abrangência fenomenal e funcionou como um referendo em meio à população que endossou com curtidas.
Ele desatou o nó na garganta do brasileiro assim que soube que as operações do Pix seriam rastreadas pelo fisco.
Não porque ele é jovem, articulado e competente no seu trabalho, mas porque ele atingiu o ponto nevrálgico daqueles que têm nesse formato de moeda a simplicidade nas transações comerciais para movimentar seus negócios, com retorno seguro e rápido. Foi um alívio.
A mensagem do deputado recebeu mais de 200 milhões de curtidas, número que engloba não só a opinião de conservadores, liberais, adeptos da direita, mas da esquerda também. Gente que integra os 40 milhões de trabalhadores informais do país. Aqueles que sustentam suas famílias através de pequenos negócios lícitos.
Para não se dar como vencido diante desta queda de braço popular, o governo está torcendo o pepino, mudando a narrativa, reinterpretando o que Nikolas disse e mobilizando seu exército de raivosos para partir para cima dele e ter motivos para cassar seu mandato.
Inclusive aquela turminha de advogados do grupo prerrogativas, que enriqueceu defendendo os criminosos da Lava-jato, foi convocada para destroná-lo.
Isso porque no meio do povão, tal mobilização, renderia no mínimo um bom presidenciável.
Já há memes pela internet com o Lula passando a faixa para ele. Brincadeira com um fundo de verdade, um desejo confesso de quem não tem mais estomago para ver o atual presidente no posto, mentindo desbragadamente e fazendo trapalhadas nacionais e internacionais.
Ele só tem 29 anos e a idade mínima para o cargo presidencial é de 35 anos. O fato é que a população não aguenta mais e anseia por uma alternativa diferente do que aí está. Nikolas nem está pensando nisso agora, até porque ele defende a volta de Jair Bolsonaro em 2026. Mas esse embroglio todo serviu para medir o nível de aceitação catastrófico do governo e seu senil representante.
Se a proposta do governo para o Pix passasse, mais um elo da economia informal seria fortemente prejudicado, com consequências imprevisíveis.
O tráfico de drogas sentiu na carne o peso de ter que fazer o imposto de renda e justificar seus ganhos para o fisco.
Desde os traficantes varejistas, que vendem pinos de cocaína a cinco reais e pacotinhos de 10 g de marijuana nas ruas até os grandões que agem nos bastidores do poder sentiram o baque.
Mesmo com a ajudinha do STF descriminalizando a posse de drogas em até 40 g e só acima disso é considerado tráfico e sujeito às penas da lei, cair no crivo do Pix seria uma hecatombe.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o crime organizado fatura R$146,8 bilhões no país, englobando todos tipos de atividades ilícitas que não podem deixar rastros. As drogas são só mais um dos tentáculos, que azeitam as engrenagens do crime organizado para a compra de armas. Tudo informal.
Em se tratando só de cocaína e maconha o consumo é altíssimo no Brasil. Em 108 cidades com mais de 200 mil habitantes, 8,8% já consumiram maconha e 2,9% cocaína. No total do país, entre as idades de 18 a 24 anos, 7,4% já usaram cocaína e entre 12 a 65 anos já utilizaram maconha.
A polícia enxuga gelo nesse mercado promissor de varejistas e atacadistas que circulam pelos meandros do poder e das cidades Brasil afora.
O Paraná liderou o ranking das drogas confiscadas no ano passado, com um volume de 326 t, das 816 t apreendidas no Brasil, o que representa 39,2%. Isso não significa que o estado é o maior consumidor, mas vendedor.
Essa mazela é de São Paulo, seguido do Rio de Janeiro, justamente onde se concentram as principais quadrilhas do narcotráfico do país.
Esse é só o lado tenebroso da informalidade, se é que essa indústria, cujos nomes, CPFs e CNPJs são conhecidos pela justiça e nem todos eles estão presos, pode ser enquadrada como atividade informal como a de manicures, confeiteiras e pedreiros.
Muitos diriam que esse seria um bom motivo para enquadrar o Pix no imposto de renda ao final de um ano letivo. Mas os malefícios sociais seriam muito piores sem que as pessoas que vivem na informalidade com trabalhos lícitos tenham como garantir o sustento das famílias.
Mesmo com o foguetório que se seguiu ao recuo do governo, que sabidamente é comemoração do narcotráfico, a população não pode ser penalizada. Isso é responsabilidade dos governos e as consequências de todos.
Se faltam empregos e o governo asfixia a população com impostos pesados não há de ser o Pix a fazer a diferença. Com os 28% cobrados, através de produtos, bens e serviços o governo tem uma arrecadação inigualável no planeta, para gastar da forma inconsequente como vem fazendo.
Mas a aposta dos populares é que um dia Nikolas Ferreira vai ocupar o Palácio do Planalto. Pode ser um desejo momentâneo entre tantos. Mas não se pode dizer que esse jovem deputado não tem talento e brilho. Será?


Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.