Acho que desde os meus 8 ou 10 anos de idade eu já sabia que o mês de janeiro era o mês das chuvas de verão. Era assim que elas eram conhecidas… agora, com o aquecimento global e destruição ambiental e quem sabe mais o quê, as estações do ano estão meio malucas por aqui e as chuvas idem.
A enchente que mais me chamou a atenção foi aquela de 1966 (eu tinha 15 anos), considerada até hoje como a pior enchente do Rio de Janeiro e, se eu não estou equivocado ou o alemãozinho não está me pregando uma peça, foi em 1965, ano do 4o centenário da cidade, em que a Assembleia resolveu acabar com o feriado do dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião.
Pronto, esta foi a deixa para nossos governantes se eximirem de culpa, jogando-a em cima de São Pedro que teria ficado “zangado” pelo desleixo com que foi tratado o dia do Padroeiro da cidade. A ideia, na verdade, era trocar o feriado de 20 de janeiro para 1o de março, data de fundação da cidade, mas São Sebastião não gostou e teria usado de sua influência junto a São Pedro para “castigar os devotos ingratos”.
Na semana seguinte, um projeto de lei deu entrada na Assembleia para voltar com o feriado como era antes… e assim foi feito!
Toda esta história é só pra dizer que todo mundo sabe que em janeiro, no Rio de Janeiro, chove. Governos passam, voltam e as soluções não são tratadas. A limpeza dos bueiros das águas pluviais tem que ser constante.
Bem, aqui uma parada: os bueiros entupidos são culpa exclusiva da má-educação da população, que joga lixo em qualquer lugar, mesmo com o excelente trabalho (há que se reconhecer) da COMLURB (para os de fora do Rio, Companhia Municipal de Limpeza Urbana), mas o despejo de lixo aleatório, em valões a céu aberto (culpa do governo e da população), só complica o trabalho da COMLURB.
Agora em 2020, passamos por janeiro quase incólumes. De certa forma, porque tivemos deslizamentos, ruas alagadas etc… tudo normal, em qualquer cidade do mundo, se o volume pluviométrico exceder os limites previstos na rede apropriada. Mas já estamos em fevereiro e ontem, dia 05/02/2020, 54 anos depois da “pior enchente do Rio de Janeiro (http://www.ebc.com.br/noticias/meio-ambiente/2015/12/pior-enchente-do-rio-de-janeiro-completa-50-anos) tivemos outra enchente que tumultuou a cidade.
Neste meio tempo, tivemos a construção de 3 piscinões que aliviariam as águas dos 3 rios que descem da Floresta da Tijuca: o Maracanã, o Joana e o Trapicheiros que deságuam nos 3 piscinões, que acumulam não sei quanto de água para ir canalizando-as para o mar, através do Canal do Mangue ou do outro (não me ocorre o nome) na Rua Francisco Bicalho…
Segundo as autoridades, a quantidade de chuva de ontem NÃO FOI, historicamente, a maior, longe disso, mas segundo seus técnicos, choveu onde não devia, ou seja, na Floresta da Tijuca, nas cabeceiras dos três rios da Tijuca, ocasionando uma força enorme na correnteza e causando os estragos que causou.
Casualidade? Provavelmente, mas já vimos que o que foi feito não atendeu às maiores chuvas. Como eles declararam, e eu não tenho como não concordar, sem eles a situação teria sido muito pior…
Como eu disse, o que vemos são os efeitos de sementes plantadas ao longo dos anos, representadas pelos projetos malfeitos por urbanistas incompetentes, ambição econômica exacerbada, ações desastradas praticadas por administradores incapazes, irresponsáveis e muitas vezes corruptos, e uma população que desrespeita a natureza.
Ocorre agressão o tempo todo, com ocupação de áreas de risco, descarte de lixo de forma inadequada, destruição das margens dos rios e degradação de tudo na ausência do poder público. A natureza é um organismo vivo, uma dádiva que cada vez mais vem sendo agredida, desrespeitada e encurralada. A sua força é imensa.
Não, a chuva não castiga. Ela é necessária, providencial, ainda mais nesta época de desperdícios, queimadas e maus-tratos ao meio ambiente. Quem castiga um estado ou uma cidade é a incompetência de seus governantes e a própria população, que não trata o ambiente como se fosse sua casa.
Moro numa rua, próximo ao Maracanã, que é uma pequena ladeira, logo não alaga, mas o que desce de água para a rua principal é uma grandeza… é uma rua pequena, sem saída e os moradores colaboram com o despejo de lixos. São apenas 25 casas e um prédio de 6 andares, com 4 apartamentos por andar.
Segundos os lixeiros – sim, a gente conhece cada um deles, pois são os mesmos há muitos anos – a rede pluvial, em nossa região, pareceu funcionar muito bem. A maior parte dos resíduos era de sacos de lixo deixados à espera da Comlurb para retirá-los. Muitos destes sacos são rasgados por pessoas (catadores, “crackudos”, etc) que buscam meios de sobreviver, o que, entretanto, acaba por expor seu conteúdo.
Há catadores que vêm durante a semana e os moradores já separam pra eles as garrafas pet, copos descartáveis, papelão, logo, nada disso fica para o lixo comum…
Nesta semana separei em caixas de papelão, garrafas que vazias, deveriam ser coletadas de forma diferente… dei-me ao trabalho de escrever nas caixas, com Pilot: CUIDADO: GARRAFAS DE VIDRO, já que não temos coleta seletiva… na zona sul pode até ter, mas no subúrbio, sem chance… mas os garis pegaram as caixas, ETIQUETADAS com aviso “GARRAFAS DE VIDRO”, e simplesmente pegaram as caixas de papelão e as jogaram dentro do caminhão…não se importando com meus avisos e com o conteúdo.
Ok, já não temos a coleta seletiva e quando a gente tenta separar, eles c… e andam solenemente, misturando lixo que pode ser perigoso para alguém na fase posterior da coleta…
Chega, já falei demais: a população tem que ser educada, de uma forma ou de outra. A COMLURB precisa aumentar sua coleta seletiva e os governantes têm que fazer a limpeza frequente dos bueiros, facilitando assim o escoamento melhor possível, das águas pluviais.
Educação e compromisso são as palavras de ordem contra as chuvas!!!
Boa tarde, Valter!
Realmente, esse problema de escoamento de águas pluviais sempre foi assunto desde que me entendo por gente.
A Praça da Bandeira, por exemplo, era reportagem de primeira página de jornais. Qualquer chuvinha que caía…, logo se pensava na Praça da Bandeira.
Lembro-me de meu avô reclamando da dificuldade em cruzar a praça alagada com seu minúsculo Ford Prefect. Era a década de 50!
Aconteceu que a situação piorou tanto, tanto, que naquela poça da Praça da Bandeira ninguém fala mais. E mais: ninguém morria por conta daquela piscina rasa.
O lixo, descartado irregularmente há anos, é lançado até por janelas. As pessoas que se importam em não sujar o espaço público são mínimas. E…, de uns anos prá cá…, o mau exemplo é visto também, infelizmente, em salas de cinema. A falta de educação é tanta – é celular ligado, é gente mastigando pipoca com a boca aberta, é barulho de papéis sendo amassados, é barulho de copos que são descartados no chão, é gente falando em alto e bom som…Meus Deuses! -, que deixei de ir ao cinema.
Abraço!
Rute Abreu de Oliveira Silveira 2 de março de 2020
Bom dia, Valtinho.
Acho inacreditável e de uma ” burrice extrema” uma cidade como o Rio de janeiro, que sempre sofre e sempre sofrerá com as chuvas de verão, não ter uma coleta seletiva de lixo em toda a cidade.
Esse tipo de coleta, que vai muito além da ideia de prevenir as enchentes, deveria ser uma preocupação básica dos governantes, arriscaria a dizer que até, deveria soar como um dos diferenciais de quem quer ser leito. O planeta agradeceria.
Mas quem vai erguer essa bandeira e ensinar ao povo a importância de uma atitude assim? Algum visionário que já aprendeu o valor dessa ação, claro! Voluntários apresentem -se.
Moro em Curitiba desde 1971 e desde que cheguei aqui essa campanha existe. A primeira iniciativa desse tipo trazia a “Família Folhas”, bonequinhos em forma de folhas, com pai, mãe e filhos, com o slogam: lixo que não é lixo, não vai para o lixo SE PA RE.
E assim vivemos. Separando o lixo e tendo, em média, três vezes por semana um caminhão da prefeitura, que percorre os bairros, recolhendo esse tal de “lixo que não é lixo”.
Fica a dica, prefeitura do meu querido Rio de Janeiro. Não é tão difícil assim e muito menos impossível.
Rute Silveira
Rute,
Vou responder neste último para não replicar, ok?
Vc está absolutamente certa. Só pra vc saber, há dois meses passado, alvíssaras, recebi um folder da COMLURB dizendo que toda 3a e 5a feiras, nosso endereço estaria incluído na COLETA SELETIVA para plásticos, vidros, papel etc… aquelas 4 cores já conhecidas… oba, blz, separamos o lixo. Esqueci de dizer que nossa coleta é sempre às 2as, 4as e 6as. A seletiva seria justamente nos dias em não viesse a normal. Legal, pensei. Na 2a feira, separei meu lixo, exatamente como previsto. Deixei de colocar vidro, papelão, plásticos, pets etc… No dia seguinte, não apareceu o caminhão para a coleta. Liguei para o 1746, telefone da Prefeitura para “reclamações e elogios”. Disseram ser um absurdo. Pensei, perfeito! Amanhã devem vir recolher… Doce ilusão… não veio. Eu, com dificuldades, convenci a Vera a esperar a 5a feira… Nada… sem coleta seletiva… me dei ao trabalho de colocar em cxs de papelão, identificadas com PILOT: VIDROS, PLÁSTICO, PAPELÃO… o caminhão da coleta normal pegou todos e jogou no mesmo lugar, no compressor do caminhão… vale lembrar que isto foi há dois meses. De lá pra cá, NUNCA APARECEU O BENDITO CAMINHÃO SELETIVO… hoje, com as chuvas, o Prefeito veio, ao vivo, dizer que a culpa da enchente é do povo que joga lixo na rua… Desculpe, mas pqp, se eles jogam na rua (e jogam) se alguém recolher, nada acontece… desculpe a longa resposta… bjs
Rute Abreu de Oliveira Silveira 2 de março de 2020
Valtinho, é isso: uma via de mão dupla.O cidadão deve ser responsável pelo seu lixo. Correto.O governo responsável pela coleta e tem que ser seletiva.Correto.Campanhas e mais campanhas nas escolas farão as novas gerações se conscientizarem da importância de darem um destino correto ao lixo que produzem.Essa geração atual, de cidadãos e governantes parece não ter mais jeito, logo, somente educando os pequenos para que tentem reeducar os adultos com os quais convivem, parece ser o norte, a solução. E agora, quem se habilita a começar campanhas assim?! Acho que os cidadãos, como “ formiguinhas” nas mídias sociais, poderiam começar a arregaçar as mangas. Tic, tac, tic, tac…começando…
Rute Silveira
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