28 de março de 2024
Colunistas Walter Navarro

Soturno e Saturno nos Trópicos


Tentando viver e sobreviver no que sobrou do Brasil, entendo e muito o Michael Douglas em “Um Dia de Fúria”.
Basta acompanhar o noticiário para mandar este país de volta ao jardim de infância ou para aquela outra que o pariu.
O pior ou melhor é que a gente vai se acostumando e acaba achando normal, o castigo, o calvário de ser contemporâneo do José de Abreu.
Foi Sérgio Buarque de Hollanda, pai de um desses vagabundos aí, Caetano, Gil ou sei lá que outro nefasto, quem cunhou o conceito “Homem Cordial” para definir o brasileiro, de estatura mediana que gosta de fulana, mas sicrana é quem o quer; apenas um rapaz latino-americano.
Acontece que “Homem Cordial”, para variar, não é exatamente o que o nome indica. Não é bem um elogio. Está mais para um babaca psicopata.
O “Homem Cordial” não é o brasileiro bonzinho, hospitaleiro e simpático. Este é o Mané.
Este, digamos, convívio social é “justamente o contrário da polidez”. A “cordialidade” descrita por Hollanda faz com que o brasileiro sinta, ao mesmo tempo, o desejo de estabelecer intimidade e o horror a qualquer convencionalismo ou formalismo social (…) Por isso, em geral, os indivíduos não conseguem compreender a distinção fundamental entre as instâncias públicas e privadas, principalmente entre o Estado e a família”.
Volto a citar, não a Dilma, mas Margaret Thatcher: “Parece-me bem claro que o Brasil não teve ainda um bom governo, capaz de atuar com base em princípios, na defesa da liberdade, sob o império da lei e com uma administração profissional”.
Margaret não conheceu o Bolsonaro.
Por falar no Jair, o ator Carlos Vereza, ainda bem, voltou à moda. Há mais de 30 anos, quando morava em Campinas, fui ao lançamento do filme “Memórias do Cárcere”, protagonizado por Vereza.
Depois, Vereza falou sobre o filme, Graciliano Ramos e o Brasil. Lembro-me apenas de uma frase mais ou menos assim: “Este negócio de brasileiro malandro, de jeitinho brasileiro, de levar vantagem em tudo; é uma besteira. Brasileiro é mesmo um Mané, um otário”.
Acho que o brasileiro tem nada de cordial, nem de tão otário. Brasileiro simplesmente não é.
O fato de transformar tudo, rapidamente, em piada, além da criatividade comprovada, mostra também que, entre limão e limonada, o brasileiro virou suco.
A História do Brasil, mesmo repleta de som e fúria, poderia ser contada em piadas. Mesmo o que não aconteceu seria bem possível.
Por exemplo:
Informações da Polícia Federal do Brasil, FBI e Polícia francesa revelam que o Estado Islâmico teria ordenado a execução de um atentado na capital carioca.
O alvo da ação seria o Cristo Redentor. Dois terroristas foram enviados para sequestrar um avião que seria lançado contra a estátua-símbolo dos infiéis cristãos.
A dupla desembarcou no aeroporto Galeão/Tom Jobim num domingo, 1º de novembro, às 21h47m, voo da Air France.
A missão começou a sofrer embaraços já no desembarque, quando a bagagem dos muçulmanos foi extraviada para o Paraguai.
Depois de quase seis horas de peregrinação por diversos guichês… pegaram um táxi pirata. O motorista percebeu que eram estrangeiros e rodou duas horas pela cidade, até abandoná-los Baixada Fluminense. No trajeto, ele parou o carro e três cúmplices os assaltaram e espancaram…
Na segunda-feira, às 7h33m, graças ao treinamento de guerrilha no Afeganistão, os dois terroristas conseguem chegar a um hotel de Copacabana.
Alugaram um carro, se perderam, entraram numa favela e o carro foi totalmente metralhado.
Mais uma vez, devido ao treinamento de guerrilha, se safaram e voltaram para o aeroporto, determinados a sequestrar logo um avião e jogá-lo bem no meio do Cristo. Enfrentaram um congestionamento monstro…
E por aí vai… O final vocês podem imaginar.
No meu filme farol, “Casablanca” (1942), o malvado coronel nazista pergunta ao cínico Rick (Humphrey Bogart), o que ele pensava sobre a possibilidade de os alemães invadirem os Estados Unidos. Rick, ainda mais sarcástico, responde: “Tem certos bairros em Nova York que não aconselho invadir…”.
Desde quando o Brasil precisa de guerra, invasões e terroristas para se fuder sozinho, naturalmente.
E é fuder mesmo, não é foder não.
A troco de que alguém se importaria com o Brasil? Amazônia? Nióbio? Para isso basta mandar a chata da Greta para ficar hospedada com a Petra.
Na Finlândia, tudo funciona. Aqui, vira carnaval.
A sorte dos nossos políticos é que o povo se contenta com pão dormido, manteiga Marlon Brando, brioche de micro-ondas, vodca Popov e circo Vostok, onde os leões devoraram um menino de seis anos, no ano 2000, em Recife. Lembram?
Infelizmente nossos políticos só fazem algo que presta quando estão com o cu na mão. Como em 2013, “por causa de 20 centavos”.
Por causa da corrupção, das enchentes e mil etc., ninguém faz porra nenhuma.
Brasileiro gosta é desta viadagem e vadiagem de abraçar lagoa e árvore. Vão, mas não me chamem.
Eu lá sou homem de ficar abraçando pau no mato e pegando dengue, carrapato, leptospirose, Coronavírus e caspa?
PS: Não tô falando? Eu esperando um e-mail sério e olha o que recebo do Luiz do Guichê Virtual: “Oi Walter, tudo bem? Vai viajar no Carnaval? Fiz aquele CUPOM DE DESCONTO pra você aproveitar! ”.
Vem meteoro!

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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