

O governo Trump tornou-se um divisor de águas na nova configuração geopolítica do mundo, mesmo antes de assumir.
Nem começou seu segundo mandato e já deixou claro qual será sua postura frente a antigos desafetos. O primeiro a cair foi o vizinho Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá. Caiu do pé como fruta madura e se espatifou.
Essa é a vantagem da maturidade, de deixar o tempo passar para aperfeiçoar a estratégia de enfrentamento aos inimigos, a partir de uma análise bem apurada de como está o jogo no tabuleiro mundial, quem está movimentando as peças e quem se deve ou não levar a sério. O Brasil, infelizmente, não está nem no retrovisor, em face da política abestalhada do governo atual.
Trudeau o vizinho desafeto não dava para ignorar. Do alto de sua arrogância, o progressista canadense foi obrigado a renunciar ao cargo após nove anos no poder e também como líder do seu partido, depois que sua ministra das finanças, Chrystia Freeland, pegou carona na onda Trump e deslizou em pé sem fraquejar. Ela deixou a pasta da economia após admitir ser impraticável administrar as finanças com a taxação de 25% das importações canadenses, conforme anunciado por Donald Trump.
Na verdade, Freeland deu um golpe de mestre, pois estava farta dos solavancos do mercado frente às decisões políticas e econômicas arrevesadas do primeiro-ministro e pelo seu descontentamento ao saber a intenção de Trudeau em trocá-la pelo ex-governador do Banco do Canadá, Mark Carney. Ela saiu na frente, entregou o chapéu e tornou-se uma boa aposta do partido para substituí-lo.
A contrapartida de Trump para suspender a sua decisão é a de que o governo canadense implante um controle rigoroso na fronteira entre os dois países, para impedir o ingresso de imigrantes irregulares e drogas ilegais nos Estados Unidos. Esse foi o recado do presidente americano para dar continuidade à antiga parceria entre ambos, inclusive com a política de subsídios que a América dá aos canadenses.
A crítica de Trump atinge frontalmente a política de imigração aberta adotada pelo ex primeiro-ministro e a legalização da maconha, que colocou o Canadá em consonância com a agenda imigratória implantada pelos europeus e o “pode-tudo” até fumar baseado na rua “e que se dane o mundo”.
O atentado cometido por um fundamentalista islâmico em feira natalina na Alemanha em dezembro passado, ato repetido por outro imigrante árabe agora no começo deste ano em Nova Orleans, acendeu a luz de alerta sobre o retorno dos cuidados para com a segurança pública, tomados após o 11 de setembro de 2001.
A intolerância deve aumentar e a tendência é a de que os países se fechem. As culturas locais, usos e costumes foram invadidos. E a história ensina: para toda decisão extrema há o efeito contrário equivalente.
Na verdade, Trudeau já vinha desgastado dentro de seu próprio partido, com pelo menos 20 membros pedindo a sua renúncia. Sua popularidade vinha despencando, por decisões atabalhoadas e escândalos de conflitos de interesses e corrupção, alargando em 26% a diferença de aceitação de seu nome em relação ao opositor do partido conservador Pierre Poilievre.
A queda do prestígio do primeiro-ministro começou há dois anos devido à elevação dos preços e escassez de moradias no país. As medidas radicais durante a pandemia, a exigência de vacinação em massa e o uso de drogas em praça pública somaram-se às razões do descontentamento popular.
Toda a campanha negativa que Trudeau moveu como antídoto à Trump, durante o primeiro mandato e agora, o fez perder mais rápido a sustentação no governo.
O canadense fica no posto até que o seu partido indique uma substituição, que ainda não tem nome definido no banco de apostas.
Somente com a dissolução do parlamento, após 24 de março próximo, haverá novas eleições.
O fato é que um dos mais soberbos nomes do carcomido Reino Unido está fora da cena política internacional. Com isso, o universo progressista enfrenta mais uma baixa. O próximo, por razões parecidas, pelo andar da carruagem e já em fase de aquecimento, será o francês Emmanuel Macron. Questão de tempo e o poder vai mudando de mãos como resposta ao radicalismo.


Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.