29 de março de 2024
Veículos

Renault Sandero RS Racing Spirit: diversão garantida


Se você curte carro, certamente já passou por isso: olhar para um modelo comum, simples, e imaginar o que mudaria e/ou melhoraria nele para que ficasse mais interessante, mas próximo do que seria o seu “carro dos sonhos”. Rodas maiores com pneus mais largos aqui, uma faixa aplicada sobre a pintura ali, um bom reforço no plantel de cavalos do motor, acertos na suspensão, freios… Mexidas que poderiam transformar aquele simpático e comportado carrinho que você conseguiu comprar em 64 meses e que dorme na garagem da família em algo mais emocionante, e que continuasse podendo ser usado na mesma rotina doméstica.

As montadoras conhecem esses nossos desejos e, há mais de 50 anos, procuram satisfazer ao menos parte deles lançando versões com inspiração esportiva para alguns de seus modelos. Aqui no Brasil, a galeria dos acessíveis “esportivados” remonta o Corcel GT, nascido na virada dos 1960 para os 70 e inclui o Fiat 147 Rallye e o Gol GT. Não estou falando de versões meramente embelezadas nem nas de carros mais caros – como o Maverick GT, o Dodge Charger RT e o Opala SS –, mas daquelas que tinham como base automóveis mais acessíveis. É nessa categoria que o Renault Sandero RS, com o qual tive oportunidade de brincar, quer dizer, de conviver por uma semana, se enquadra.
E, para mim, é exatamente isso, o fato de ser um prosaico Sandero incrementado, uma de suas maiores qualidades e, também, a que mais o aproxima dos tais sonhos do curtidor de carros do parágrafo lá em cima.

Pulando a ordem mais comum dos fatores, vou direto ao último: o preço. Ele custa a partir de R$ 63.750 (no site da montadora), tendo como opcionais apenas as belas rodas Grand Prix de 17”, que saem por mais R$ 1.000. Dê uma olhadinha nas tabelas de preços e modelos da concorrência e você notará que não há nada com 150cv ou proposta esportiva semelhante por perto. Na verdade, nem a meia distância. A unidade que avaliei – e que você vê nessas fotos – é da série especial Racing Spirit sai por R$ 66.400. De diferente, os acabamentos, faixas, siglas e pintura especial, além de uma plaquinha junto ao freio de mão indicando em qual das 1500 unidades da edição limitada você está sentado.

No que importa, porém, ambas as opções são idênticas: motor 2.0 16v flex, que gera os já mencionados até 150cv de potência e 20,9kgfm de torque (com álcool), câmbio manual de seis marchas, suspensão recalibrada (mais dura) e rebaixada em pouco mais de 2cm, freios a disco nas quatro rodas, bancos esportivos e controles eletrônicos para ajudar na segurança. Isso e mais uma daquelas teclinhas mágicas com “modos de condução” no console, por meio da qual se pode optar entre normal, Sport (aceleração mais rápida, motor “otimizado”) e Sport+ (a mesma otimização, mas com todos os controles eletrônicos desativados).

E tudo isso junto funciona muito bem. Dá para perceber que todos os ajustes e dimensionamentos neste RS foram feitos pensando no prazer de dirigir. Do som grave que sai pelo escapamento, à postura justinha do carro no asfalto e seu apetite por curvas, o bom banco – com poucas regulagens, mas durinho e com apoio lateral – , a direção e o câmbio justinhos e precisos, a aceleração… E é essa receita como um todo, e não seus ingredientes isoladamente, que tornam o carro tão divertido. Tanto nos raros momentos em que se pode acelerar mais, quanto na infinita maioria dos que se é obrigado a seguir o trânsito, mantendo distância do carro à frente, torcendo para quem vem atrás faça o mesmo com você. Mesmo mais rígida, a suspensão não chega a quebrar a coluna de ninguém, o isolamento acústico é bom, o painel muito simples, mas funcional, e a condução agradável – desde que, claro, você goste de carros com personalidade e não tenha desaprendido a trocar marchas manualmente e curta aquele clac, clac dos engates, parecido com o dos antigos carros de corrida. E desde que também não esteja muito preocupado com o consumo – minha média na cidade, com gasolina, ficou próxima dos 8 km/litro.

Há até uma boa central multimídia – idêntica a que equipa o pequenino Kwid, só que sem a ótima câmera de ré, nem como opcional ☹ –, ar-condicionado com comando eletrônico e bancos com faixas vermelhas e monogramas nos apoios de cabeça. Mas, no resto, seja bem-vindo ao mundo dos plásticos. São eles, duros e sem muito charme, que irão lembrá-lo de que você está a bordo de um Sandero, aquele carro básico, robusto e popular criado na Romênia pela Dacia, com bom espaço interno e no porta-malas, enorme simplicidade e despojamento – e que, não por acaso, é hoje quase um sinônimo para automóvel barato na Europa.

Mas, acredite em mim, a não ser que você esteja em um dia particularmente ruim, nem vai dar muita bola para essa parte “pobre” do RS – mais ou menos da mesma forma que não ficamos perdendo tempo com os defeitos ou detalhes menos encantadores da pessoa amada. É só pintar uma reta desimpedida e com velocidade máxima permitida acima dos, hum, 60 km/h, um sinal recém-aberto que permita que você afunde o pé direito no acelerador revestido de alumínio e faça o ponteirinho do conta-giros se mover para um pouco mais além das 3.500 RPM – quando o segundo conjunto de válvulas do motor começa a mostrar mais disposição, o motor ruge cheio de marra e suas costas são empurradas contra o encosto – para que o carro fique lindo. Igualzinho àquele que você imaginava montar se pudesse fazer algumas alteraçõezinhas no modelo barato e comum que tem na sua garagem.


Ficha técnica:
Motor Dianteiro, transversal; 4 cilindros, 16 válvulas, Flex, 1998 cc
Potência (CV) 150 (A) / 145(G) a 5 750 rpm
Torque (kgfm) 20,9 (A) / 20,2 (G) a 3750 rpm
Câmbio Manual, 6 marchas
Tração Dianteira
Suspensão dianteira Independente, McPherson
Suspensão traseira Eixo de torção
Direção Eletro-Hidráulica
Rodas Liga leve, 16
Pneus 195/55 R16
Dimensões (m): Comprimento 4,06; Largura 1,73; Altura 1,49; Entre-eixos 2,59
Porta-malas (l) 320, Tanque (l) 50
Peso em ordem de marcha 1161 kg

Fonte: Blog Rebimboca

Henrique Koifman

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

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