No momento em que escrevo, ouço também o debate no Supremo sobre a suspeição do juiz Sérgio Moro.
Mas toda a manhã fixei-me nos temas mais agudos: a crise de oxigênio, ou melhor de cilindros de oxigênio, e a crise de remédios para pacientes que precisam ser entubados.
São dois problemas urgentes que precisam ser atacados. O Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, finalmente tomou posse. Terá de administrar as duas crises e decidir se vai ou não coordenar o trabalho nacional contra a Covid-19.
Bolsonaro convocou uma reunião para amanhã, com os dois outros poderes. Não sei o que sairá daí. Bolsonaro foi derrotado hoje no Supremo com sua ação contra medidas restritivas no DF, Bahia e Rio Grande do Sul.
Bolsonaro representa um poder derrotado pelos governadores num outro poder que estará na reunião, o STF.
Será que alguma coisa boa pode sair daí? Hoje num podcast com Helio Gurovitz, que está substituindo Lauro Jardim, tentei responder à pergunta que colocamos: como sair dessa crise?
Trabalho com duas possibilidades: vacinação em massa e mudança de comportamento na população brasileira diante da Covid-19.
Em síntese, ainda vou tentar desenvolver essa ideia ao longo da semana, precisamos de uma vacinação com a intensidade de Israel e uma resposta social semelhante à japonesa.
Não teremos nem uma nem outra. Mas podemos tentar algumas aproximações.
Será necessário discutir a questão das patentes. Nem todos os países do Sul conseguem produzir vacinas. Mas a Índia garante que existem em muitas fábricas ociosas que não produzem vacinas por não terem o conhecimento.
Mesmo sem quebrar patentes, será necessário avançar na transferência de tecnologia e investir talvez um pouco mais nas fábricas da Fiocruz e Butantã.
Será preciso gastar dinheiro em compras. Israel pagou uma enormidade, cerca de R$300 por dose da vacina da Pfizer. Ainda assim, do ponto de vista estritamente econômico, acho que pagar uma fortuna pelas vacinas ainda sai mais barato porque não só salva vidas como permite que se recupere o investimento com o crescimento da economia.
O atraso na compra pode nos custar mais de R$130 bilhões de prejuízo, segundo economistas.
Quanto às campanhas para estimular o comportamento mais seguro da população, gostaria de ter um pouco mais de tempo para fazer sugestões. De um modo geral, acho que devem enfatizar as vantagens de escapar do vírus e fortalecer a vida.
Elas têm tido um cunho racional, inspirada pela ciência. Precisamos de algo emocional impulsionada pela arte.
Está na hora do trabalho, amanhã recomeço.
Fonte: Blog do Gabeira