5 de maio de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

A mediocridade da cultura contemporânea

A passiva mediocridade da cultura contemporânea me passa uma sensação desoladora.

A Era da Informação descortinou novos horizontes para o conhecimento, sem dúvida.

De repente, o mundo livre, plural e criativo aflorou diante dos nossos olhos e no tocar dos dedos.

Logo de início o ‘status quo’ sentiu-se ameaçado com a paulatina queda da hegemonia dos veículos de comunicação,no tocante aos fatos e notícias, quebra de hierarquias no campo da informação e a abolição dos comuns.

Depois, reagrupando forças no ideário woke e na caretice vitimista ‘politicamente correta’, o ‘SQ’ voltou com tudo, cobrando alto custo para a liberdade de expressão, empurrando para o degredo as inteligências transgressoras, cancelando e silenciando o espírito outsider.

Paradoxalmente, o plasma embrionário resultante da ruptura da cultura digital, invés de dar vida plena às mais elevadas virtudes, deu origem a tipos cheios de certezas, altruístas pragmáticos revestidos de moral suprema, que interpretam não apenas a Constituição mas a vontade do todo social. Eles nada desejam para si Dedicam suas vidas para normatizar o bem comum.

Hordas de defensores dos oprimidos – por outros que não eles mesmos – transitam com orgulho nas esferas virtual e presencial. Jornalistas lacradores, influencers serviçais, acadêmicos tutelares, artistas complacentes, até mesmo diante do evidente cerceamento das liberdades individuais, sentem-se representados pela reedição do ‘status quo’ progressista pós moderno.

Na esfera social mais ampla, o desejo foi publicamente criminalizado e obliterado pelo identitarismo de gênero e, por aí afora.

Falar publicamente do desejo virou ofensa social. Hoje, esse tipo de sentimento humano só deve ser compartilhado nas conversas terapêuticas.

Ainda é permitido ter nas prateleiras das livrarias obras literárias de um transgressor dos costumes, como Nelson Rodrigues. Os artistas visuais que exaltam a sexualidade, devem ter como medida estética, parâmetros que exaltem a identidade de gênero. Desejo,não!

A ária progressista “Avançar socialmente” (sic) é uma armadilha para extrair a identidade do indivíduo e dar vida ao ‘ser’ coletivo domesticado.

É um ardil cruel.

O retorno dos que nunca partiram, é exaltado como o reino superior dos oráculos da democracia.

Mas, no nível do mar, aos olhos dos comuns, o que fazem deliberadamente é interromper e censurar o livre fluxo de ideias, vendendo o truque igualitário como simulacro de respeito à diversidade, ocultando dos ingênuos e incautos sua verdadeira face de consenso opressor.

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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