12 de fevereiro de 2025
Editorial

A posse de Trump e suas consequências

A posse de Trump foi comemorada por alguns parlamentares brasileiros, que aproveitaram o evento para criticar o governo Lula. Eduardo Bolsonaro, por exemplo, declarou que Lula foi incoerente, pois, durante as eleições, disse que Trump seria “um nazismo com outra cara” e agora, diz: “Tem gente que fala que a eleição do Trump pode causar problema na democracia mundial. O Trump foi eleito para governar os EUA e eu, como presidente do Brasil, torço para que ele faça uma gestão profícua para que o povo americano melhore e para que os americanos continuem a ser histórico ao que é do Brasil”

Isso fez com que Eduardo Bolsonaro publicasse: “Ué, Lula, quer ser amigo de nazista agora? Se Donald Trump não tivesse sido eleito, a ilustre primeira-dama seria elogiada por Lula a cada ‘fuck you, Elon Musk’ que gritasse. A propósito, seus ministros seguem atacando Trump mesmo após eleito”.

A maioria dos parlamentares da oposição declarou que esperava a restauração da Liberdade de Expressão e o fim da perseguição política.

Mas, com Trump, o que muda especialmente para o Brasil e para a América Latina?

A repórter – não me recordo o nome e não vou pesquisar – que perguntou a Trump sobre isso obteve uma resposta no tom de arrogância comum a Trump: “O Brasil precisa mais de nós do que nós dele”. Óbvio que a resposta à repórter não estava destinada somente ao Brasil, e sim a todos os aliados, mas é a pura verdade.

Outra coisa importante na posse é que não houve convite direto àqueles que sempre foram aliados tradicionais dos EUA, desde a 2a Grande Guerra. Estou falando diretamente da Inglaterra e da França, potências europeias e, no pós-guerra, Alemanha, Japão e Coreia.

Se observarmos, a França tem um governo de centro-esquerda, liderado pelo presidente Emmanuel Macron; a Alemanha tem um governo que podemos considerar de centro-esquerda; o Japão tem um governo de centro-direita, liderado pelo primeiro-ministro Fumio Kishida e pelo Partido Liberal Democrata; e a Coreia do Sul tem um governo de centro-esquerda, liderado pelo presidente Yoon Suk-yeol, do Partido do Poder Popular, que é considerado um partido de centro-direita, mas tem uma política mais centrada.

Nenhum destes países foi convidado oficialmente para a posse e o Brasil idem. Isto é considerado, nos meios da diplomacia, como uma ruptura diplomática. Se necessária ou não, o tempo dirá.

Trump, certamente, vai mudar o rumo das empresas de TI e, segundo palavras dele: “perfure, perfure!“, vai valorizar a prospecção de petróleo nos EUA e no Alasca, sempre procurando aumentar a oferta para reduzir o preço do petróleo mundial. A preocupação é que o combustível fóssil tem os dias contados. Se acabar… acabou!

Notadamente, ele quer, como sempre quis, valorizar a indústria petrolífera, que investiu pesado em sua eleição.

Até mesmo o Mundo Árabe, que vive essencialmente, do petróleo, tem ideia de se aproximar do Acordo de Abraão – acordo bilateral sobre a normalização árabe-israelense, assinado entre Israel, Emirados Árabes Unidos e o Bahrein em 2020.

É óbvio que a fanfarronice habitual fez Trump afirmar que pretende mudar o nome do Golfo do México para “Golfo da América”, retomar o Canal do Panamá, reivindicar a posse da Groenlândia e deportar imigrantes ilegais…

Quanto ao Golfo do México ele acha que seria mais justo, já que os EUA fazem a maior parte do trabalho. Eu vejo de outra forma: o Golfo do México é uma porta de entrada para a América do Norte, de onde o México faz parte, portanto acho justa a pretensão. Golfo da América me parece mais adequado, mas quem sou eu para achar alguma coisa neste assunto?

Quanto aos imigrantes ilegais: se são ilegais, por que mantê-los? Esta é a ideia dele, com alguns exageros, como deportar filhos de imigrantes nascidos nos EUA, o que a Constituição Americana proíbe diretamente, inclusive já houve decisão judicial contrária a Trump.

Quanto ao Canal do Panamá, o acordo assinado o impede de regularmente, retomar o controle, salvo por medidas “não republicanas”.

Quanto à Groenlândia, obviamente, é mais um factoide criado por ele. O “governador” da Groenlândia já foi chamado pelo Rei da Dinamarca para uma conversinha.

Pra mim, o que ficou do discurso de posse foi que Trump parecia estar plagiando o presidente Lula com o “Nunca antes na história deste país“.

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

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Advogado, analista de TI e editor do site.

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