

Vinhos fortificados formam uma categoria muito especial e ampla dentro do “eno universo”. Já mencionamos, em outro artigo deste blog, que alguns deles podem ser enquadrados, também, na categoria dos vinhos doces.
Recebem esta denominação, fortificados porque, em algum momento de sua elaboração, vão ser misturados com uma significativa quantidade de um destilado. Cada região produtora tem suas normas, definindo o tipo de vinho base, o destilado, açúcar residual, teor alcoólico, em geral mais elevado que os vinhos normais e tempo de envelhecimento.
Alguns estilos, muito particulares, podem receber extratos aromáticos para criar um produto diferenciado.
Portugal é um dos grandes produtores destes vinhos. Eis alguns deles:
– Porto
Só pode ser elaborado na região demarcada do Douro. Tradicionalmente o vinho é produzido com um corte de diversas castas regionais e a aguardente é sempre vínica. O estilo mais conhecido é tinto e doce. Hoje já elaboram versões em branco seco e rosé.
Com relação ao tempo de maturação, os Ruby são os mais jovens e os Tawny recebem a indicação da idade no rótulo.
– Madeira
Outra indicação protegida: só pode ser elaborado na ilha da Madeira. As uvas utilizadas são: Tinta Negra, Sercial, Verdelho, Boal e Malvasia. Dependendo da seleção de castas utilizadas e do momento em que a aguardente é adicionada, este vinho pode variar de doce a muito seco. Além da fortificação, este vinho é oxidado, deliberadamente, num processo conhecido como “estufagem”, o que o torna único.
– Moscatel de Setubal
Vinho típico da região homônima, elaborado com a casta Moscatel e aguardente para interromper a fermentação. Sua criação é atribuída a José Maria da Fonseca, em 1834, um dos mais antigos produtores de vinho daquele país.
Dentro da Península Ibérica temos outro vinho, espanhol, muito conhecido.
– Jerez ou Xerez
Produzido, exclusivamente, na região delimitada pelas cidades de Jerez de la Frontera, Sanlúcar de Barrameda e Puerto de Santa María, com as castas Palomino, Moscatel e Pedro Ximenes. Os estilos podem variar de seco a doce, cada um passando por diferentes processos de amadurecimento. A fortificação é feita com um tipo de Conhaque, após o fim da fermentação.
Alguns estilos, como o Fino e o Manzanilla, passam pelo sistema de Soleira e a flor de levedura. O Oloroso é deixado oxidar naturalmente. O Amontillado e o Palo Cortado usam os dois sistemas.
Já os doces, elaborados com castas Pedro Ximenes e Moscatel, em uva passa, contém um grande teor de açúcar que não consegue ser totalmente convertido em álcool.
Na Itália vamos encontrar um vinho clássico e um outro, que pode ser considerado como “fora da curva.”
– Marsala
Um vinho histórico da Sicília. Originalmente elaborado em 1773, passou por altos e baixos na sua comercialização, ficando quase esquecido. A força de alguns produtores, da região ocidental desta ilha, o trouxeram de volta.
Tradicionalmente é elaborado com as castas brancas Grillo, Inzolia e Catarratto. Existe uma versão em tinto. Seu teor alcoólico fica em torno de 20%. Não são safrados e os estilos são definidos pelo tempo de maturação, variando de seco a doce. A fortificação é feita com um tipo de Conhaque.
– Vermute
Pode parecer estranho, mas esta deliciosa bebida é um vinho fortificado, branco ou tinto, que recebe a infusão de diversos extratos botânicos e aromáticos. A receita original buscava fazer um medicamento.
Tornou-se uma sofisticada bebida, difundida mundialmente. Pode ser seco ou doce.
Na França existe uma categoria denominada “Vins Doux Naturels” (vinhos doces naturais), muito abrangente, onde vamos encontrar vinhos fortificados muito interessantes: Banyuls, Maury e Rivesaltes.
Na ilha de Chipre é produzida outra joia, o Comandaria, a partir da fortificação de vinhos obtidos com as castas Mavro e Xynisteri, plantadas em maior altitude e transformadas em uva passa.
Sem pretender esgotar o assunto, este é um bom início para quem deseja se aventurar neste campo onde, tranquilamente, é possível ultrapassar os limites da coquetelaria.
Saúde, bons vinhos!
Dica da Karina – Cave Nacional
RAR – Collezione Savagnin 2023


Há 45 anos, Raul Anselmo Randon, inaugurou a RAR e começou uma grande história empresarial no Brasil. Apaixonado por vinhos, iniciou projeto vitivinícola em Vacaria, na estratégica região de Campos de Cima da Serra. O RAR Collezione Savagnin é produzido a partir desta uva conhecida por sua expressão na região do Jura na França, considerada uma da mais antiga em produção até os dias de hoje sem cruzamento. Aqui no Brasil é plantada apenas pela vinícola RAR e apresenta características bem diferentes da sua região de origem sendo um vinho fresco, leve e descomplicado. Um vinho límpido com tonalidade amarelo esverdeado e marcante intensidade aromática, com notas de flores e frutas cítricas. No paladar notas de rosa, maçã caramelizada, abacaxi e toque de arruda. Acidez refrescante, boa cremosidade, retrogosto prolongado.
A Cave Nacional envia para todo o Brasil.
CRÉDITOS: foto licenciada no Adobe Stock.


Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.