13 de outubro de 2024
Ricardo Noblat

Nem uma lágrima por Ágatha

Witzel diz que sua política de segurança está certa

ADVERSÁRIO - O governador Witzel: ambições eleitorais e retaliação do PSL
(Roberto Moreyra/Agência O Globo)

Quebrou a cara quem esperou que o governador Wilson Witzel (PSL), do Rio, vertesse pelo menos uma lágrima sincera na entrevista que convocou para lamentar a morte da menina Ágatha, de oito anos, morta por um tiro de fuzil na última sexta-feira à noite no Complexo do Alemão.
Não houve lágrima, só uma manifestação formal de solidariedade à família de Ágatha. Muito menos algum sinal de que ele pretenda mudar a orientação dada à Polícia Militar e à Polícia Civil de “atirar na cabecinha” de bandidos armados. Witzel tratou a morte de Ágatha como “um fato isolado”, o que não foi.
“Estamos no caminho certo”, repetiu o governador mais de uma vez. Ao seu lado, o chefe da Polícia Civil foi enfático: a morte de Ágatha nada tem a ver com a política de segurança do Rio “que está muito bem”. E advertiu: “Não vamos misturar as coisas porque sabemos o que estamos fazendo”.
Para que não reste dúvida, o chefe da Polícia Civil acrescentou: “Não tem momento melhor na segurança pública do Rio. A gente irá até o final assim”. Quem matou Ágatha e quem autorizou matar? Nem uma palavra. Ou melhor: Witzel pôs a culpa no crime organizado. E acusou a oposição de querer tirar proveito dele.
Testemunhas da morte disseram que não havia confronto entre policiais e bandidos no local onde Ágatha foi morta. Um carro da polícia foi visto nas imediações. E também um policial que teria disparado sua arma na direção de um motoqueiro que passava por ali. Witzel prometeu investigar o caso “com rigor”.
Segundo o aplicativo Fogo Cruzado que informa em tempo real sobre tiroteios no Rio, de janeiro para cá 16 crianças foram atingidas por disparos em vários pontos da cidade, e pelo menos seis morreram. Não se conhece o resultado das investigações. Elas correm em sigilo e se arrastam. Quase sempre dão em nada.
“Na prática, quase todos os casos decorrentes de intervenção policial são prontamente arquivados”, observa Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo. “Dificilmente um policial que mata em serviço será processado. É muito raro”. E não só no Rio, mas em toda parte.
Ao fim da entrevista, alertado por um assessor para parecer menos frio, Witzel declamou com a voz embargada: “Sou pai de uma menina de 11 anos. Eu não sou um desalmado. Eu tenho sentimentos”. Não convenceu. Witzel é candidato à sucessão de Bolsonaro como já confessou. Está em campanha desde agora.
Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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