26 de abril de 2024
Walter Navarro

O último Marlon Brando em Paris


Marlon Brando (1924-2004), tinha nada de brando. Pelo contrário. Ator maravilhoso; era também um ogro, selvagem, vulgar e obsceno. Um insaciável que comia “até caixa de correio: empanturrava-se de comida chinesa, tabletes inteiros de creme de amendoim, bolos de canela”, mulheres, homens. Teriam passado pelo rodo e pela manteiga de Marlon; Marilyn Monroe, Marlene Dietrich, Ava Gardner, Rock Hudson, Grace Kelly e – com sadomasoquismo e queimaduras de cigarro – até James Dean, entre outros seres vivos. Elizabeth Taylor escapou porque “tinha a bunda pequena demais”. E começou traçando a própria babá, Ermi, uma espécie de Xuxa.
Teve 11 filhos! Ganhou da minha tia Déa, que teve 10.
Geralmente todos os filmes que fez são os meus favoritos, principalmente “O Último Tango em Paris”.
Eu gostava, particularmente, do (bom) humor de Marlon Brando que poderia ser cinismo ou simplesmente sarcasmo pelo mundo cruel e seus habitantes idem.
Nos anos 1980 Brando aposenta o cinema e se manda para a ilha de Tetiaroa, na Polinésia Francesa, da qual era o dono desde 1966.
A Polinésia Francesa é onde o pintor Paul Gauguin (1848-1903) inaugurou o turismo sexual com meninas, que lá existe até hoje.
A Polinésia Francesa que Brando, Gaughin, o compositor e cantor belga, Jacques Brel (1929-1978) tanto amaram, era onde os franceses testaram suas primeiras bombas nucleares. Os franceses, tão preocupados com o meio-ambiente, a Amazônia.
A Polinésia Francesa, sinônimo de exotismo e turismo de hiper luxo, onde os nativos, que e quando não conseguem trabalho nos deslumbrantes hotéis, são miseráveis, caindo de nariz e boca no tráfico de drogas ou na boa e velha prostituição. O desemprego só fez aumentar, justamente depois que os testes nucleares pararam, parando junto a economia local.
Brando apaixonou-se pelo Thaiti, seu povo e principalmente suas mulheres, depois do filme “O Grande Motim”.
Em 1970, fez construir casa e aldeia naturais, um laboratório para proteger aves marinhas e tartarugas.
Em 1983, um furacão destruiu quase tudo. Mas hoje, a ilha abriga o hotel mais chique do arquipélago, o Brando Resort. Amigo meu esteve hospedado lá, recentemente, e me disse que nunca viu nada igual.
Marlon Brando sempre se envolveu em causas sociais, defendendo os direitos civis de negros, índios, homossexuais. Defendeu inclusive o estado de Israel, antes de ser criado.
Bom, este Marlon Brando, todo este Marlon Brando, mais complicado que todas as mulheres do mundo, juntas; em 1973, deu uma banana taitiana para a cerimônia do Oscar e recusou o prêmio de melhor ator, em “O Poderoso Chefão”.
Por que? Em protesto contra o tratamento dado pelos americanos aos índios Sioux na televisão e no cinema.
Em seu lugar, Brando mandou a ativista e descendente indígena Sacheen Littlefeather, a “Pequena Pluma”.
O pessoal do Oscar não gostou muito da desfeita. Mesmo assim “Pequena Pluma” leu um apenas trecho do discurso, mas três dias depois, o texto, na íntegra, foi publicado pelo “New York Times”.
Hoje, todo mundo acha o episódio lindo.
Marlon Brando morreu em 1º de julho de 2004, de pneumonia, insuficiência respiratória. Suas cinzas foram espalhadas no Tahiti e no Vale da Morte, deserto de Mojave, Estados Unidos.
PS: Há uma semana, muitos idiotas riem do presidente Bolsonaro porque, amanhã, dia 24 de setembro de 2019, ele discursará na ONU levando, em sua parca comitiva, uma descendente indígena brasileira, que desmente o picareta Raoni, o “chéri” do Macron da França do Thaiti do Marlon.
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Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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