19 de abril de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

Bolsonaro tem um sonho, e a princípio ele parece quase impossível

O que as pesquisas de intenção de voto desta semana deverão mostrar.

Convenção do partido PL oficializa candidatura de Bolsonaro – Reprodução

A semana começa hoje com uma mais uma rodada da pesquisa de intenção de votos Ipespe/XP, e termina na quinta-feira com mais uma rodada da pesquisa de intenção de votos Datafolha.

É cedo para que pesquisas tragam resposta à pergunta tão aguardada: qual será o impacto junto ao eleitor do “pacote de bondades” há pouco desembrulhado pelo governo federal?

Bolsonaro diminuirá a vantagem de Lula ou, por enquanto, ela não será abalada? E Ciro Gomes (PDT), alcançará os dois dígitos na intenção de votos? E Simone Tebet (MDB), sairá da lanterninha?

Os bolsonaristas sonham com o fenômeno que só aconteceu uma vez desde a redemocratização do país em 1985: a virada radical de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) sobre Lula em 1994.

Foi há 28 anos. Em 1º de julho, com o lançamento do Real, a nova moeda, Lula tinha 41% das intenções de voto contra 19% de Fernando Henrique, segundo o Datafolha de meados de junho.

No dia 26 de julho, Fernando Henrique ultrapassou Lula (36% a 29%). No dia 8 de agosto, Fernando Henrique alcançou 41%, e Lula caiu para 24%. Nunca mais se registrou uma virada tão veloz.

Fernando Henrique começara aquele ano com dificuldades até para se eleger deputado federal em São Paulo; Lula, que em 1989 fora derrotado por Fernando Collor, como candidato favorito.

O Real foi voto direto na veia de Fernando Henrique porque mexeu com a vida de todos os brasileiros. Nenhum deles escapou aos seus efeitos. E Lula apostou que o Real não baixaria a inflação.

Os nordestinos foram os últimos a abandonar Lula. O eleitor é pragmático. E o Real, ao contrário das bondades de Bolsonaro, não tinha data para acabar. As bondades acabam em dezembro.

Bolsonaro, ontem, no lançamento oficial de sua candidatura à reeleição, anunciou que manterá as bondades caso se eleja – auxílio emergencial de 600 reais, vale-caminhoneiro, e por aí vai.

Mas Lula já deu sinais de que fará o mesmo, e como Presidente da República duas vezes, foi ele que tirou os pobres do esquecimento e os pôs na agenda nacional dos beneficiados.

Bolsonaro teve o apoio preferencial da classe média alta e dos ricos para se eleger há quatro anos, e conserva esse apoio. Não governou para os pobres. Seu pacote de bondades é meramente eleitoreiro.

Se mesmo assim o pacote produzir o que Bolsonaro espera dele, será para evitar sua derrota no primeiro turno. A deste ano será mais uma eleição atípica – um presidente contra um ex.

O primeiro será julgado pelo que fez ou deixou de fazer; o segundo, pelo que já fez e promete fazer de novo. Presidente candidato à reeleição nunca perdeu. Mas segundo turno não é nova eleição.

Houve casos, poucos casos, de governadores, candidatos à reeleição, que saíram atrás nas pesquisas de intenção de voto no segundo turno, mas que acabaram eleitos. Presidente, nenhum.

A rejeição a Bolsonaro é muito maior do que a rejeição a Lula; a confiança em sua palavra, muito menor. O Brasil ficou mais pobre nos últimos quatro anos. E não foi só por causa da pandemia.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *