29 de março de 2024
Sergio Vaz

O vampirão acabou com a recessão

Como diz o Ascânio, fora Temer, ninguém conseguiria fazer tanto.

O tom é mais ou menos assim: é um governo pavoroso, um horror, um nojo, o pior do mundo, nunca houve nem haverá outro tão horrível – mas, diabo, que droga, infelizmente é preciso admitir que ele melhorou a economia. Tirou o país da recessão em que o lulo-petismo o enfiou!  Está no editorial da Folha de S. Paulo da segunda-feira, 19/2. Questiona-se a decisão do governo Temer de promover a intervenção federal na segurança pública no Estado do Rio. Fala-se de “dúvidas a respeito de sua motivação e eficácia”. “Em mistura de necessidade e oportunismo, o governo Michel Temer (MDB) redefiniu os termos da discussão política. Lançar uma agenda de potencial apelo popular na segurança já era um projeto para amenizar uma palpável derrota na reforma da Previdência – e um meio de melhorar a imagem do Planalto em ano eleitoral.”
Pois é. Mas contudo porém todavia… É, não tem jeito: tem que admitir. E então o editorial daquela Folha admite – não sem antes dar mais uma porrada: “A despeito dos vícios de conduta do presidente e de muitos de seus auxiliares mais próximos, deve-se reconhecer que o governo Temer liderou com coragem uma agenda tão dura quanto essencial na economia”.
Epa! À força, a fórceps, depois de muito pau, aquela Folha admite que o governo Temer “liderou com coragem uma agenda tão dura quanto essencial na economia”!
Aleluia, irmãos! Oremos! Aquela Folha reconhece algo positivo no governo!
Tom semelhante está na coluna de Míriam Leitão em O Globo desta terça-feira, 20/2, sob o título “Lista de factoides”. Abre com pau no governo, prossegue com pau no governo, mais outro parágrafo de pau no governo, até – na dobra, quando o leitor chega na dobra – admitir: “O
Governo Temer tirou o país da recessão”.
Míriam Leitão é reconhecidamente uma das melhores jornalistas econômicas do pais; é independente, atenta, sempre crítica ao governo de plantão, graças ao bom Deus, porque, como ensinava Millôr Fernandes, imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados. Como é correta, honesta, reconhece com todas as letras o que é necessário reconhecer – a tal da verdade dos fatos:
“O governo Temer tirou o país da recessão. Ontem o Banco Central mostrou que pelas suas contas o PIB cresceu 1,04%. Pouco, mas muito melhor do que as quedas fortes de 2015 e 2016. No último trimestre, o país cresceu mais do que na média do ano, em dezembro mais do que no último trimestre. Este ano deve crescer 2,8%, segundo a mediana das projeções do mercado. Nada que nos devolva o PIB perdido, mas é o começo da recuperação. Este governo acertou em algumas medidas na economia. É tão inevitável admitir os acertos do governo Temer quanto reconhecer suas falhas.
“Em tempos de memória deliberadamente fraca é preciso repetir. Quem fez esta recessão foi a administração desastrosa da economia no governo Dilma. O germe do erro veio da parte final do governo Lula. Optou-se pelo gasto descontrolado, pela intervenção excessiva, pelos subsídios escancarados. Apostou-se numa suposta novidade batizada de nova matriz macroeconômica. Dilma escalou o erro que herdou.
“No governo Temer, o Banco Central buscou o centro da meta, como era seu dever, e derrubou a taxa de inflação que chegara aos dois dígitos no começo de 2016. A administração do Tesouro foi diligente. A Petrobras passou a ser bem gerida e deixou de ser alvo de saque. O BNDES ensaiou um processo de modernização. O governo aprovou a nova taxa de juros de longo prazo para tentar, no futuro, reduzir os abusivos subsídios às empresas. A Eletrobras era um pária internacional. Havia sido tirada da Bolsa de Nova York por não ter sido capaz de fechar balanços. Voltou ao mercado em outubro de 2016, reduziu desequilíbrios, cortou custos, organizou a contabilidade.
“Apesar dos avanços, o governo está agora num labirinto.”
E aí vem um pouco mais de pau.
***
No domingo, 18/2, Ascânio Seleme, que até o final de 2017 era o diretor de redação de O Globo, e agora, com a reestruturação da redação, passou a escrever artigos – ótimos, importantes, fundamentais para quem quer se manter bem informado –, fez uma das mais perfeitas, lúcidas, isentas avaliações do governo. Vou transcrever mais abaixo todo o artigo, que tem o título de “Temer, o reformista”, mas já adianto os dois primeiros parágrafos.
“Pode-se acusar o presidente Michel Temer de tudo, menos de não ter coragem. Fez uma carreira que muitos outros percorreram. Bom articulador, mas dono de histórias mal contadas, que alcançaria o ápice quando presidiu a Câmara. Seria apenas um Henrique Alves com mais estatura se não acabasse virando presidente. A má fama do PMDB ajudou a consolidar sua péssima imagem, que foi potencializada quando sucedeu a Dilma Rousseff. E que desmilinguiu-se depois daquela conversa estranha, para não dizer criminosa, com o empresário Joesley Batista no subsolo do Jaburu.
“Temer tem o maior índice de rejeição de um presidente na História da República. E não foi poupado sequer pelo carnaval. No caso da crítica da Paraíso do Tuiuti às reformas, a escola acertou em cheio, Temer é mesmo o principal responsável por elas. Em pouco mais de um ano e meio de mandato, o presidente fez aprovar no Congresso inúmeras leis reformistas encaminhadas por ele ou elaboradas no Parlamento, mas com o seu aval. Pode-se gostar ou não das reformas, mas elas foram feitas. E por Temer. A ver.”
E em seguida ele passa a enumerar ponto por ponto o que o governo Temer já conseguiu, nestes quase dois anos depois do impeachment de Dilma Rousseff.
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O Grêmio Recreativo Escola de Samba Paraíso do Tuiuti citada por Ascânio Seleme levou para a avenida o vampirão – a imagem do presidente Michel Temer, com faixa presidencial e tudo –, e foi aplaudidíssima, tornou-se vice-campeã do carnaval carioca. (É bom lembrar que o homem forte do Morro do Tuiuti é Marcelo Boto, um dos líderes do Comando Vermelho no Rio.)
Neste mês de fevereiro, em que aqui no país tropical tem carná, tem um fu e um viô, o governo do vampirão satirizado na avenida pela escola do morro do cara do Comando Vermelho obteve mais alguns bons números na economia, como vem obtendo desde que deu um cavalo de pau na condução da política econômica do Poste de Lula da Silva.
Aí vão alguns deles, para o registro, já que esta é a 27ª compilação da série Está Melhorando:
* “Desemprego fecha o ano em queda. Puxada pela informalidade, taxa caiu de 12,4% no terceiro trimestre para 11,8% no quarto trimestre.” (Estadão, 1º/2.)
* “Economia cresceu 1,04% em 2017, segundo índice do BC.” (O Globo, 20/2.)
* “Indústria avança 2,5% após três anos de queda. A indústria interrompeu três anos de retração e cresceu 2,5% em 2017, a maior expansão desde 2010.” (O Globo, 2/2.)
* “IPCA de janeiro fica em 0,29%, menor nível desde o Plano Real, levando taxa em 12 meses a 2,86%.” (O Globo, 9/2.)
* “BC reduz juro para 6,75%, o menor da história.” (Estadão, 8/2.)
* “Venda do varejo sobe 2% após dois anos de crise. Reação em 2017 não foi suficiente para compensar perda de 10% em 2015 e 2016.” (O Globo, 10/2.)
* “Montadoras batem recorde de exportação. Resultado, 23% superior a janeiro de 2017, impulsionou produção e empregos no setor.” (Estadão, 7/2.)
* “A venda de carros usados aumentou 5,1% em janeiro, em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Federação Nacional de Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).” (O Globo, 15/2.)
* “Após quatro anos, vendas de carros mais baratos voltam a crescer. No ano passado, segmento mais prejudicado pelo aumento do desemprego e pelo freio no crédito nos últimos anos voltou a ter desempenho positivo; para analistas, com economia se recuperando, veículos populares devem ganhar novo impulso.” (Estadão, 14/2.)
* “Qualcomm investirá US$ 200 milhões em fábrica no Brasil. Unidade que produzirá componentes para smartphones será construída pela taiwanesa.” (O Globo, 6/2.)
* “Petrobrás se blinda de influência do governo. Novo estatuto prevê indenização à estatal em caso de perdas com interferências.” (O Globo, 17/2.)
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Abaixo, um editorial do Estadão e a íntegra do artigo de Ascânio Seleme em O Globo. 
A recuperação vai se consolidando
Editorial, O Estado de S. Paulo, 19/2/2018
O quadro de recuperação da economia nacional fica mais claro, e quase completo, com a reação do setor de serviços, ainda lenta e restrita. No Brasil, a evolução dos serviços normalmente reflete, com algum atraso, o avanço da indústria, da agropecuária e do comércio de bens. O setor tem grande peso na composição do Produto Interno Bruto (PIB), mas seu vigor depende do dinamismo dos demais. Em outros países, segmentos como turismo, finanças, call centers e transportes, para citar alguns exemplos bem conhecidos, têm vida própria e são geradores importantes de receita em moeda estrangeira. Podem prosperar mesmo quando outras áreas de atividade vão mal. Não é, pelo menos até agora, o caso do Brasil, onde a produção material se mantém como a principal fonte de movimento e vigor para todo o sistema.
Essa dependência foi confirmada com muita clareza no ano passado. Só o segmento de transportes fechou o ano com desempenho melhor que o do ano anterior – crescimento de 2,3% em relação ao resultado de 2016. Esse resultado foi uma clara consequência do aumento da produção da indústria e da agropecuária, da expansão do comércio interno e do avanço das exportações.
Os demais segmentos tiveram desempenho mais fraco, embora com tendência de melhora, especialmente nos meses finais de 2017. Em dezembro, a produção do setor de serviços foi 1,3% maior que a de novembro e 0,5% superior à de dezembro do ano anterior. Em 12 meses, no entanto, a produção acumulada foi 2,8% menor que a de 2016. Mesmo esse resultado, no entanto, foi o mais animador depois de 2014, quando o volume produzido cresceu 2,5%. Em 2015, a perda foi de 3,6%. Em 2016, de 5%.
A mera diminuição do ritmo de queda já poderia ser vista como um dado positivo, mas houve mais que isso. Embora só o segmento de transportes tenha fechado o ano com crescimento acumulado em 12 meses, sinais claros de reação surgiram em outras áreas, nos meses finais de 2017.
Do terceiro para o quarto trimestre, o setor de serviços cresceu 0,2%, com expansão nos segmentos de transportes (0,9%), de informação e comunicação (0,7%) e de “outros serviços” (0,2%). Houve estabilidade nos serviços prestados às famílias e queda de 0,1% nos serviços profissionais e administrativos. Na comparação com o trimestre final de 2016 só o segmento de transportes apresentou resultado positivo (ganho de 6,7%).
Os consumidores obviamente concentraram na compra de bens materiais sua disposição de gastar. O aumento dessa disposição, indicado tanto por numerosas sondagens como pelo maior movimento do comércio varejista, é atribuível à combinação de alguns fatores muito importantes. Depois de ter superado a taxa anual de 10% na passagem de 2015 para 2016, a inflação recuou seguidamente. No fim de 2017, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou uma alta de 2,95% em 12 meses.
A redução progressiva dos aumentos protegeu a renda real das famílias, preservando seu poder de compra. Além disso, o recuo do custo da alimentação, um importantíssimo componente do gasto mensal, abriu algum espaço para compras de outros tipos de bens.
Um segundo fator muito importante foi o aumento do crédito às pessoas físicas. Isso possibilitou despesas com bens duráveis de consumo, geralmente mais caros que os de outras categorias, como alimentos, produtos de higiene e beleza e roupas.
Um terceiro fator foi a criação de empregos. Oportunidades de trabalho foram multiplicadas, embora a desocupação tenha permanecido na faixa de 12% durante a maior parte do ano. Com maior segurança quanto à subsistência, as famílias voltaram às compras, de início com muita cautela. Além de crescer em volume, o consumo se alterou de forma qualitativa, com o retorno às compras de bens, mesmo de uso diário, mais sofisticados.
Se a economia crescer mais velozmente, como se prevê, e as oportunidades de trabalho continuarem aumentando, os consumidores deverão voltar-se também para os serviços, tornando mais homogêneo o avanço de setores e atividades.
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Temer, o reformista
Bom articulador, mas dono de histórias mal contadas, o presidente teve coragem para aprovar medidas importantes
Por Ascânio Seleme, O Globo, 18/2/2018.
Pode-se acusar o presidente Michel Temer de tudo, menos de não ter coragem. Fez uma carreira que muitos outros percorreram. Bom articulador, mas dono de histórias mal contadas, que alcançaria o ápice quando presidiu a Câmara. Seria apenas um Henrique Alves com mais estatura se não acabasse virando presidente. A má fama do PMDB ajudou a consolidar sua péssima imagem, que foi potencializada quando sucedeu a Dilma Rousseff. E que desmilinguiu-se depois daquela conversa estranha, para não dizer criminosa, com o empresário Joesley Batista no subsolo do Jaburu.
Temer tem o maior índice de rejeição de um presidente na História da República. E não foi poupado sequer pelo carnaval. No caso da crítica da Paraíso do Tuiuti às reformas, a escola acertou em cheio, Temer é mesmo o principal responsável por elas. Em pouco mais de um ano e meio de mandato, o presidente fez aprovar no Congresso inúmeras leis reformistas encaminhadas por ele ou elaboradas no Parlamento, mas com o seu aval. Pode-se gostar ou não das reformas, mas elas foram feitas. E por Temer. A ver.
Gastos públicos. Lei que estabeleceu limite de gastos públicos. Sem qualquer dúvida, trata-se da mais importante ferramenta para o equilíbrio das contas públicas desde a Lei de Responsabilidade Fiscal. A oposição se opôs, alegando que a lei limitava as ações públicas.
Trabalhista. A reforma trabalhista e a Lei da Terceirização, aprovadas em duas etapas, acabaram com a contribuição sindical, reduziram custos de mão de obra e possibilitaram contratações sem vínculos empregatícios formais. As medidas flexibilizaram a legislação de maneira a ampliar a empregabilidade. O PT diz que elas retiraram direitos do trabalhador.
Taxa de juros. Medida Provisória mudou a taxa de juros que remunera o BNDES da TJLP para TLP. Levou o banco de fomento a operar com as taxas de juros do mercado, o que faz todo o sentido num mercado repleto de crédito bom e barato. Numa economia com inflação baixa, não tem mesmo por que subsidiar crédito. Os empresários chiaram.
Autonomia do Banco Central. Decisão de devolver a autonomia ao Banco Central foi importante para a queda da inflação de um patamar de 11% para 3% ao ano. Teve também como consequência a redução da taxa de juros. Houve resistência até mesmo dentro do BC.
Lei das Estatais. Foi aprovada no Congresso a Lei das Estatais, que cria regras para a indicação de diretores de empresas públicas. O primeiro impacto depois da sua aprovação foi a nomeação de funcionários de carreira para a direção da Caixa para substituir outros, acusados de envolvimento em falcatruas.
Pré-Sal. Lei desobrigou a Petrobras de participar de todos os contratos de exploração dos campos de petróleo do Pré-Sal com no mínimo 30% de participação. A medida destravou os investimentos que estavam parados por absoluta falta de capacidade financeira da estatal de participar de tudo. A oposição diz que o Brasil abriu mão de sua soberania.
Conteúdo local. Lei reduziu a exigência da participação da indústria nacional na produção de equipamentos e produtos em contratos governamentais. O percentual anterior estabelecia uma espécie de reserva de mercado para diversos setores, mas encareceria os produtos ao evitar concorrência externa.
Recuperação fiscal dos estados. Medida Provisória permitiu que estados com alto endividamento e problemas graves de caixa tivessem suspenso por três anos o pagamento de suas dívidas com a União. Provisoriamente, salvou estados como o Rio, que estavam em condição de pré-insolvência.
Ensino médio. Reforma reduziu as matérias obrigatórias de 13 para cinco por ano, possibilitando que o aluno tenha ainda duas cadeiras eletivas, que podem ser cadeiras profissionalizantes, o que ajuda a inserção de jovens no mercado de trabalho. A reforma do ensino médio pode possibilitar também a redução da repetência e da evasão escolar.
Ministério da Segurança. Ao decretar a intervenção na Segurança do Rio e ao mesmo tempo propor a criação de um ministério para cuidar do assunto, Temer levou para dentro do Planalto um problema do qual seus antecessores sempre fugiram. Claro que Segurança é assunto nacional e há décadas deveria estar sob o comando do governo federal.
Reforma da Previdência. Seria o último grande teste para Michel Temer. Se conseguisse aprová-la, sua imagem não melhoria aos olhos dos brasileiros, na verdade poderia até piorar, mas com certeza entraria para história como o senhor das reformas. E como a esta altura o presidente não tem mais nada a perder, ninguém conseguiria fazer tanto, fora Temer.
O Boletim

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