Quanto especialista em aviação misturando querosene com abobrinha!
Agora o Procon entra em cena notificando a Gol a não escalar os seus jatos B-737 Max 8 para evitar acidentes.
Desde quando o órgão ganhou o status de controlador de operação aérea, determinando que aeronaves do modelo não podem voar? Cadê a Anac para responder a isso? Baseado em que o Procon tomou essa decisão? Essa não é sua esfera de atuação.
Pode sim intermediar quando uma companhia aérea deixa de cumprir o contrato de transporte, desde que o passageiro tenha formalizado uma queixa. Fora do campo da prestação de serviços o órgão não pode interferir.
Não há ainda nenhuma comprovação factível de que a queda do jato da Ethiopian Airlines, na manhã de domingo passado, em Adis Abeba, Etiópia, tenha ocorrido por falha de algum ou vários sistemas mecânicos e eletrônicos. Antes de qualquer confirmação é preciso analisar o conteúdo da caixa preta e cruzar com todos os indícios coletados na cena da tragédia. Óbvio que quando há vítimas, como as 157 pessoas do voo etíope e mesmo das 185 que morreram no acidente com o mesmo modelo de jato, em outubro passado na Indonésia, há uma forte pressão emocional.
Mas pode ser só uma coincidência ou mesmo que a interseção de diversos fatores tenha contribuído para com esse trágico desfecho.
Se o governo chinês resolveu proibir a decolagem de seus 100 B-737 Max 8, e o indonésio o seguiu, não significa necessariamente que há um problema de engenharia explícito.
Demonizar a aeronave baseado em hipótese, sem uma investigação cabal, é por chifre em cabeça de cavalo.
Deixar 100 aeronaves no solo por suspeição é caríssimo. Ademais, já teriam sido reportadas à Boeing panes havidas.
A China sabia de alguma coisa que não contou? Se for constatado algum problema de construção no modelo, toda a frota mundial do B-737 Max8 vai parar para cumprir o protocolo mandatório de manutenção. A Boeing se responsabilizará pelos custos e, inclusive, responderá judicialmente pelas vítimas e pelas perdas das operadoras.
Voltando aqui para a tupiniquinlândia, não cabe ao Procon antecipar-se aos fatos e responsabilizar a fabricante e as cias aéreas.
Que a Anac se posicione para não haver o atropelo de competências e a responsabilização antecipada de qualquer uma das partes, sem uma investigação.


Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.