28 de março de 2024
Colunistas Junia Turra

A História por trás da (minha) História

Foto: Arquivo Google – Divirta-se Mais
Pedro Aleixo, era um grande jurista, e de uma correção impecável. Um homem brilhante e íntegro que esteve à frente do Congresso, representando o povo brasileiro ,e poderia ter dado ao Brasil um outro caminho se  tivesse ele assumido a Presidência do Brasil.
Um democrata, vice-presidente no governo Costa e Silva. Como determina a lei, com a morte do presidente, deveria ter assumido. Mas houve o aparelhamento por determinado grupo de militares e a coisa tomou outro rumo.
O AI-5 não era necessário. Militares e civis sabiam disso.
Pedro Aleixo negou-se a assinar aquele Ato Institucional.
Disse que jamais calaria a voz do povo, jamais agiria contra a democracia.
Fez o certo. Acima da vaidade pelo poder.
E foi aí que instalou-se, sim, o golpe.
O Brasil poderia ter sido naquele momento reconduzido à Democracia plena.
Mas ali a coisa começou a ser outra.
Até na Educação, quando tiraram o Latim do Ensino Médio e, depois, até das faculdades de Direito junto com o Direito Romano.
E passaram a distribuir concessões de rádio e TV para coronéis como ACM, José Sarney , Maluf e tantos outros .
E Eliezer Batista, Ministro das Minas e Energia no governo João Goulart  – que tanto Costa e Silva quanto Pedro Aleixo consideravam um sujeito nada confiável – foi convidado de honra por João Batista Figueiredo para ser presidente da Vale do Rio Doce.
Eliezer, a quem Castelo Branco indicou emprego em empresa privada de mineração, já que não tinha respaldo para colocar no governo, mapeou as riquezas do país e entregou ao filho Eike  Batista, que preferiu negociar o mapa da mina e viver como nababo. Pisou em falso.
Verdade seja dita.
Também foram os militares que alavancaram a Rede Globo, a emissora amiga que se beneficiou do poder e aprendeu a usar e abusar das vantagens e a criar esquemas de uso do dinheiro público em barganha com o poder.
Qual a dúvida?
Ou seria possível comparar o brilhantismo e o preparo de um jurista do porte do Pedro Aleixo com um presidente tosco e despreparado como o general Figueiredo, que, lá na frente, no caminho plantado por certos militares, garantiu a ascensão de sanguessugas de péssima índole e nenhuma capacidade?
Vamos dar nomes aos sanguessugas?
FHC – que nunca foi exilado, porque o parente próximo era da cúpula militar –  e o outro, Lula da Silva, o  falastrão pelego que seguia os passos do irmão mais velho no sindicalismo.
E com eles veio a leva de oportunistas de toda ordem e estabeleceu-se a troca de um ideal de oportunidades para todos pelo ideal do poder e das vantagens ilícitas da esquerda radical e criminosa.
Integridade.
Pedro Aleixo era tão íntegro que quando estava à frente do Congresso Nacional e o filho dele José Carlos, que estudava em seminário jesuíta no exterior, foi ordenado padre, Pedro Aleixo viajou com a esposa e pediu licença formal para a viagem.
Quando retornou ao Brasil viu que recebeu pagamento integral e verificou que tinha valores a mais. Foi ao departamento responsável em Brasília, perguntar do que se tratava.
Além do pagamento integral, sem desconto dos dias em que se afastou, havia verbas extras de viagem e hospedagem. Pediu que fosse revisto porque ia devolver o dinheiro corrigido.
Ouviu do chefe do departamento que ele deixasse como estava, pois a justificativa era a de que viajou para “representar o país “e que a figura dele no exterior representava o Brasil.
Pedro Aleixo então disse:
-“não, eu estava lá  para abraçar e parabenizar meu filho, pai que abraça com orgulho e amor o seu filho. O custo da  viagem é pessoal e não do povo brasileiro. Peço desculpas por ter me afastado do país nesses dias e o dinheiro retornará aos cofres públicos”.
Lá na raiz…
Pedro Aleixo é natural de Passagem de Mariana. O sobrado onde nasceu virou museu.
O pai dele, José Caetano, comprou um casarão, que tinha na parte de baixo o “armazém” ou “venda” Aleixo. Assim surgiu o nome da família.  Mas suspeita-se que o sobrenome era originalmente italiano “José Caetano”, de “Caetani” e virou “José Caetano Aleixo”.
Quando virou museu, na data oficial, houve missa na Catedral de Mariana e a inauguração no local.
(Saí de São Paulo e fui à solenidade. Me acompanhou na empreitada, me buscando no aeroporto e me contando histórias da História, o grande Djalma Gomes, jornalista investigativo, correspondente internacional, com família quatrocentona da mesma Mariana e que me ensinou os primeiros passos da “investigação além da investigação”).
E segue a História…
A família Aleixo se mudou de Passagem de Mariana para  a  Praça Antônio Dias, 80, em Ouro Preto. Ao lado da Matriz, próximo à praça principal da antiga Vila Rica.
A construção do século XVIII é um sobrado de dois pavimentos, localizada em uma das primeiras ruelas de Ouro Preto.
Lá funcionou a Fundação Guignard e a casa foi doada à Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP). Atualmente no imóvel, funciona a Escola de Arte Rodrigo Melo Franco de Andrade e a sede do Memorial do Presidente Pedro Aleixo.
O grande Pedro!
Pedro Aleixo, foi proibido pelos militares de exercer qualquer atividade política. Passou a fumar absurdamente, morreu de desgosto e tristeza. Não enriqueceu na Política.
A casa em que residia em Belo Horizonte, projeto de Oscar Niemeyer, ele deixou em usufruto para a mulher, mas doou para  fundação que atendesse menores carentes.
Nenhum dinheiro no exterior, nada em cofres de banco, nenhuma peça retirada do patrimônio público. Patrimônio conquistado como grande advogado e jurista.
Pedro Aleixo X Juscelino Kubitschek
Naquele tempo, Juscelino Kubitschek era oposição política a Pedro Aleixo. Os partidos  PSD e UDN.
Polos opostos na Política, mas ambos, queriam sim, o melhor para o povo e o país.
Tinha, cada qual os seus princípios e ideais.
Juscelino, como Pedro Aleixo, não deixou patrimônio milionário a herdeiros. Eram grandes amigos e “compadres”: padrinhos dos filhos um do outro. Bons tempos….
Os Natais
Juscelino e a família tinham endereço certo de encontro no Natal: a  casa da rua Paracatu, 747,  em Belo Horizonte.
Lá dona Ursula Aleixo, mãe do Pedro, morava com a filha e a família dela. Ursula, apelidada de Iaiá, a mais nova e única irmã dele. Ao todo eram 7 filhos filhos. Antonio e João do primeiro casamento do pai que,viúvo, casou-se com Ursula Maria, e vieram  Lindolfo, Josefino, Pedro, Alberto e Úrsula.
E onde eu entro nessa história?
Paulo, o filho da irmã mais nova de Pedro Aleixo era muito querido pelo tio e desde pequeno admirava a maneira carinhosa e suave dele, mas ao mesmo tempo  eloquente e determinado.
Assim como Milton Campos, Pedro e Paulo estudaram Direito na “Vetusta”, a Casa de Afonso Pena.
Na formatura dele, Paulo, lá estava o tio na primeira fila a aplaudi-lo. A ele deu a caneta pessoal, o anel de formatura, uma coleção de Direito Penal e o convite: “o seu lugar no meu escritório está garantido”.
O sobrinho agradeceu. Passou em todos os concursos públicos, fez cinco doutorados.
O tempo passou. E lá estava o Paulo, jornalista, radialista, professor, advogado, juiz de Direito, desembargador, sobrinho do jornalista, professor, advogado, presidente da Câmara dos Deputados em Brasília, Ministro da Educação e vice-presidente da República, o jurista Pedro Aleixo, me entregando aquela caneta, o anel, a coleção de livros e me oferecendo ajuda para eu seguir o caminho do Direito.
Mas eu, preferi seguir o meu próprio caminho onde a Justiça pudesse ser buscada de forma mais ampla, além da arrogância de muitos que ao contrário de Pedro e Paulo não entendem que são apenas servidores do povo. Quis ir além da letra fria da lei que dá lugar a interpretações  de viés político de certos grupos e Cortes de Justiça.
Quanto ao irmão Alberto, não se sabia ao certo onde estava. Não se falava dele. Era uma tristeza para a mãe idosa.
A família de Alberto Aleixo recebeu o direito à indenização por ter sido torturado e morto.
Mas, valor muito pequeno. Bem distinto do que o advogado do PT Eduardo Greenhalgh conseguiu para muitos da turma.
Alberto era comunista e achava que iria melhorar o mundo. Quando à mãe, morreu, procurou os irmãos para oferecer a parte dele na herança. Ninguém quis comprar.
Maurício, filho do Pedro disse que só podia pagar 4 mil, valor abaixo do real. Alberto disse que precisava só de 3 mil. Não queria o restante. Era o suficiente para a gráfica e para circular o jornal de esquerda no Rio de Janeiro. Alberto foi preso, torturado. Já de idade e debilitado pediram que permitissem ser  transferido.
Foi negado pelo juiz. Alberto, morreu pouco depois no hospital.
A família dele nunca recebeu valores como os pagos à Ziraldo e Lula, que nunca levaram um tapa na cara dos militares. E nunca sofreram nos porões da ditadura.
A Justiça tarda mas não falha!
A Justiça foi feita: Pedro Aleixo reconhecido como Presidente do Brasil. O retrato na galeria dos presidentes em Brasília.
A carta oficial, meu pai também recebeu e está guardada.
A caneta e o anel ,dados a mim, foram retirados de cena como aquele Cristo barroco que Lula e Marisa surrupiaram do Alvorada.
No meu caso , a autoria tbém é inquestionável. Foi “Caim”.
Mas anel e caneta não garantem a ninguém SER como Pedro ou Paulo. E nem assinar Aleixo.
Por falar em assinar…
Com Assis Chateaubriand, Pedro Aleixo fundou os Diários e Emissoras Associados.
Eu estudava Direito, Belas Artes e Jornalismo.
Ao mesmo tempo, Full time!
Depois passei a fazer o jornal da Faculdade de Direito – era o meu laboratório (virei Diretora de Imprensa de todas as chapas políticas, meu negócio era a notícia. Eu fazia tudo, de charge a fotografia).
E passei em concurso para a Judiciário. E corri atrás: ” oi, o jornal da Amagis precisa de uma repaginada”. Fiz um exemplar e aprovaram. Passei a fazer o jornal da Amagis (Associação dos Magistrados) . E veio o convite da família que quando eu me formasse poderia escolher o lugar em certo jornal porque eu tinha talento e já fazia um bom trabalho.
Mas, eu era estudante….
E pensei: vão sempre dizer por maior que seja o meu mérito que foi pelo nome de família.
Pronto!
Passei a usar o sobrenome italiano. E tenho pelo menos três primas com o mesmo nome. Resolvido.
E por fim…
O Grande Pedro
Ele lutava por democracia, por liberdade de expressão (freedom of speach).
Não lutava por questão de gênero, por pedofilia, por sexualização de crianças, nem contra a Igreja, contra a cultura brasileira, a tradição judaico-cristã.
Ele não queria queimar museus, não queria benefícios e auxílios para poder representar o povo. Certa vez colocou o filho Sérgio como assessor dele em Brasília, para economizar para o povo. Sergio não recebia nada.
Pedro Aleixo era um homem brilhante e íntegro.
Além de tudo tinha um grande texto.
E honrava a palavra.
A palavra dele era de honra .
Ao meu tio Pedro, o abraço que faltou!
E a honra de ser sobrinha-neta e nem precisar assinar o mesmo sobrenome para provar isso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Ao belíssimo trabalho de pesquisa da BBC News, que apresentou Jornalismo como nos grandes tempos, aqueles tempos que eu só ouvi dizer nas histórias que ouvi. (Mas erraram ao incluir Bolsonaro na história no viés fake news)
À Bebel Faria de Oliveira que me enviou o link e a todos os meus amigos e às famílias deles cuja História do país se mistura com a História de empenho, dedicação, mérito, esforço, princípios de família e sociedade.
Tudo isso que não vamos deixar se perder.
Desde os Alpes até o glorioso Reino da Mantiqueira de onde vemos o horizonte infinito.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50750811
Junia Turra

Jornalista internacional, diretora de TV, atualmente atuando no exterior.

Jornalista internacional, diretora de TV, atualmente atuando no exterior.

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