Enquanto o mercado só dá atenção às SUVs médias, segmento de hatches incrementados oferece opções interessantes com preços equivalentes para quem prefere um estilo mais sutil (e gosta de dirigir). O Cruze Sport6 é uma delas.
Reformulação de corpo e alma.
Quando, há uns dez anos, a General Motors anunciou que venderia sua divisão alemã Opel, muita gente aqui no Brasil ficou preocupada. Inclusive este locutor que aqui vos fala. Afinal de contas, boa parte dos modelos fabricados pela Chevrolet em nosso país eram versões de carros da Opel. Do Opala (que baseado no germânico Opel Rekord) e do Monza (na Europa, Ascona) ao Omega, do Chevette (Kaddet) ao Kaddet, Corsa e ao Astra; assim como a Meriva e a Zafira, todos os maiores e melhores sucessos da “nossa” Chevrolet tinham DNA alemão correndo por seus dutos e mangueiras. Qual seria o futuro da marca da gravatinha no Brasil???
A venda da Opel só acabaria se concretizando de fato em 2017, quando seu controle acionário foi passado ao grupo PSA Peugeot-Citroën. Mas já preparando o terreno, a partir do começo desta segunda década do século XXI, a GM daqui passou a substituir aqui esses carros de projeto alemão por modelos de outras origens. Enquanto isso, na Europa, eles continuaram (e continuam) a ganhar novas gerações.
E, assim, foi-se o Corsa e chegou o Onix; foram-se a Zafira e a Meriva e veio a Spin e – finalmente chegando ao motivo específico dessa falação toda aqui – foram-se o Astra e o Vectra e chegou o Cruze. É dele, em sua versão hatch Sport 6 de segunda geração que tratamos neste post/vídeo.
Ambição Global
Se Onix e Spin têm projetos desenvolvidos especificamente para mercados emergentes, como o nosso, o Cruze foi criado com ambições globais mais amplas, incluindo aí o público norte-americano. Mas, felizmente, isso não quis dizer que ele teria o porte (um pouco grande demais) e o jeitão (quase macio demais) dos carros de passeio mais tradicionais da terra do Tio Sam. Resumindo, o Cruze está muito mais para o que nos acostumamos a identificar como “gosto europeu” do que com aquele estereótipo do carrão americano; ele parece ser muito mais um Opel atual do que Chevrolet tradicional – com o perdão do General. E, por isso mesmo, bem afinado com o “paladar” brasileiro. Bom, pelo menos com o meu paladar.
Nesta segunda geração, ele tem debaixo do capô um motor da geração “downsized”, ou encolhida, com 1.400 cilindradas, turbinada, que gera 153cv e oferece 24 kgfm de torque. Força suficiente para levar os seus pouco mais de 1.300 quilos com facilidade e até com algum prazer. Se não chega a ter o ímpeto esportivo que o nome da versão e o arrojado desenho da carroceria podem sugerir, o carro está longe de ser comportadinho demais.
Vá lá que o câmbio automático de seis marchas não seja dos mais ágeis, e só permita que se faça trocas manuais na própria alavanca, no assoalho. Mas é bem escalonado e aproveita bem os recursos disponíveis. Com o pé no fundo, acelera-se de zero a cem por hora em nove segundos, as retomadas de velocidade, também com o pé embaixo, são ótimas e, na bomba do posto, isso não provoca gemidos. Entre cidade e estrada (e eu viajei com ele serra acima e abaixo), a média ficou pouco acima dos 9,5km/litro com álcool. Isso sem a menor preocupação em economizar combustível e, boa parte do tempo, com o carro cheio de gente e bagagens.
Chevrolet Cruze Sport6 LTZ: o cachorro aprovou e queria viajar no porta-malas… Chevrolet Cruze Sport6 LTZ: o cachorro aprovou e queria viajar no porta-malas… | Henrique Koifman
Suave é a noite (e o dia também)
E nesse tipo de uso, o fato de o Cruze Sport6 não ter de fato um tratamento mais esportivo ajuda mais do que atrapalha. Os bancos são macios e, na frente, dão um bom apoio para o corpo nas curvas. O espaço interno é parelho com seus principais rivais, como os também hatches médios Ford Focus e o VW Golf, e é bom o suficiente para dois adultos viajarem confortavelmente. Como também nos outros, o assento do meio é mais apropriado para uma criança comportada. O porta-malas tem tamanho e acesso compatíveis com a proposta do carro e dá para fazer viagens curtas com bagagens para quatro sem ter de deixar aquele casaco em casa.
Conforto, aliás, é a palavra, que se repete quando falamos do bom pacote de acessórios e do baixo nível de ruído. Para ouvir o motor rugir é preciso acelerar e fazer o motor girar acima dos 4 mil rpm. Como o torque já está a postos aos 2 mil rpm, a menos que você realmente precise de um pouco mais de agilidade ou queira se divertir um pouco, dificilmente irá ouvi-lo.
Sereno, mas seguro
No mais, a maciez da suspensão não é suficiente para comprometer a sensação de controle nas curvas mais fechadas, pelo menos nas feitas dentro dos limites razoáveis para uma estrada pública. E os freios demonstram competência. Isso tudo tem ajuda, claro, de sensores e atuações eletrônicas dos controles de tração e estabilidade e aquelas letrinhas que complementam o ABS.
Também no quesito segurança, há outros recursos interessantes, como alerta para mudança de faixa, para veículos no ponto cego dos retrovisores e, também, quando esses outros carros ou outros obstáculos estiverem preocupantemente próximos do capô dianteiro. E, se tudo der errado há seis airbags. Provavelmente por causa do airbag lateral, aliás, não há regulagem de altura na coluna para os cintos de segurança, mas isso não chegou a me incomodar.
Briga de três
No final das contas, acho que o Cruze Sport6 tem bons argumentos para enfrentar seus dois principais rivais diretos, que são o Ford Focus Hatch e o VW Golf 1.4 TSi. Dos três, é talvez o que aponte mais para o conforto e comodidades. A escolha, portanto, está mais para o estilo de cada um. Acho que o Golf tem uma pegada mais esportiva, enquanto no Focus, o motor é mais potente, mas menos moderno e mais beberrão. O desenho do Cruze é mais orgânico e cheio de curvas, sublinhando bem uma de suas principais características, que é, como comentamos, a suavidade.
Mas, no fundo, no fundo mesmo, seu principal concorrente – assim como dos outros dois – são os SUVs médios, que estão mais ou menos na mesma faixa de preço e têm ganhado de lavado o mercado nacional. Na prática, o segmento dos hacths médios bem equipados que andam bem está encolhendo há tempos no Brasil e, hoje, eles já estão se tornando raros nas ruas. Infelizmente.
Ficha técnica Chevrolet Cruze Sport6 LTZ (dados do fabricante)
MOTORIZAÇÃO
Tipo – Flex (etanol/gasolina)
Numero de cilindros -4 cilindros
Válvulas, total – 4 por cilindro, 16 válvulas
Taxa de compressão – 10,01:1
Injeção eletrônica de combustível – Injeção Direta e Controle de Eletrônico de Aceleração (ETC)
Potência Máxima Líquida (ABNT NBR 5484/ISO 1585 Líquida ou SAE Bruta)
Gasolina: 150 CV (110,3 KW / 148 HP) @ 5600 rpm /
Etanol: 153 CV (112,5 KW / 151 HP) @ 5200 rpm
Torque Máximo Líquido (ABNT NBR 5484/ISO 1585 Líquida ou SAE Bruta)
Gasolina: 24 mkgf (235 Nm) @ 2100 rpm
Etanol: 24,5 mkgf (240 Nm) @ 2000 rpm
TRANSMISSÃO/TRAÇÃO
Tipo – Automática de 6 velocidades / Active Select com opção de trocas manuais na alavanca
FREIOS
Sistema – Sistema de freios anti-blocantes (ABS) com EBD, Controle de Tração (TCS) e Estabilidade (ESC) e Frenagem de Urgência (PBA)
Dianteiros – Disco ventilado
Traseiros – Disco sólido
DIREÇÃO
Tipo – Elétrica progressiva (EPS)
SUSPENSÕES
Dianteira – Independente do tipo McPherson, com barra estabilizadora ligada a hastes tensoras e molas helicoidais com carga lateral
Traseira – Suspensão do tipo eixo de torção, semi-independente e molas helicoidais – constante elástica linear
ESTABILIDADE
Sistema – Programa Eletrônico de Estabilidade (ESP) Sistema de Controle de Tração (TCS)
RODAS E PNEUS
Rodas – Alumínio, 17 polegadas
Pneus – 215/50 R17
SISTEMA ELÉTRICO
Bateria – 12 V, 80 Ah
Alternador – 130 A
DIMENSÕES
Comprimento Total (mm) – 4,448
Largura Total – espelho a espelho (mm) – 2,042
Altura em ordem de marcha (mm) – 1,484
Distância entre eixos (mm) – 2,700
CAPACIDADES
Tanque de combustível (litros) – 52
Porta-malas (litros – compartimento fechado) – 290 – (litros – até o canto superior do encosto do banco/até o teto): 300 / 380
Peso em ordem de marcha (Kg)
LTZ: 1331 (R7M)
PREÇO
A partir de R$ 110.790 (carro idêntico ao avaliado: R$ 120,890)
Fonte: Blog Rebimboca