Ontem fiz um elogio à ciência brasileira, após o anúncio da nova vacina que será produzida pelo Butantan.
Mantenho meu elogio, mas devo registrar que o anúncio feito por Dória e pelo diretor do Butantan omitiu um dado essencial: a tecnologia da vacina foi desenvolvida na Universidade Mount Sinai, de Nova York.
Foi lá que eles manipularam geneticamente o vírus News Castle, um vírus que ataca galinhas, com o objetivo de transformá-lo numa vacina.
A Mount Sinai reconhece que o Butantan pela sua capacidade técnica é capaz produzir a vacina, reproduzir o vírus, conservá-lo e realizar todas as operações que um instituto dessa envergadura pode realizar.
Na entrevista de Dória, faltou dizer que a tecnologia era na verdade norte-americana, havia sido divulgada em revistas científicas e estava também sendo desenvolvida, por decisão dos americanos, na Tailândia e no Vietnã.
O diretor do Butantan, Dimas Silva, foi questionado sobre isso e confirmou que havia uma parceria com a Mount Sinai. E disse que não mencionou o nome da universidade americana porque pediram sigilo.
Poderia muito bem dizer que a vacina nasceu de uma manipulação genética de uma instituição americana que não quis divulgar seu nome.
Isto atenderia ao suposto desejo de anonimato da Mount Sinai e também à honestidade intelectual de reconhecer os verdadeiros autores da vacina.
Mas é falso que a Mount Sinai não queria ser citada. Horas depois do anúncio em São Paulo, a própria universidade anunciou que desenvolveu a vacina que seria testada no Brasil, Vietnã e Tailândia.
Uma coisa que disse na tevê, quando o Cesar Tralli me perguntou se a corrida política ajudava ou não na busca da vacina.
Respondi que era algo ambíguo. De um lado ajudava porque estimulava pesquisas e liberava recursos. Por outro lado, era perigosa porque a política às vezes tem uma tentação de trapacear.
Dória tem se esforçado na luta pela vacina. Mas ao afirmar que a vacina do Butantan era cem por cento brasileira estava omitindo um dado essencial: foi criada por estudos e pesquisas norte-americanas.
Não custava nada dizer a verdade. A boa notícia é ter uma vacina no horizonte. A manipulação dos dados é feita por marketing político e acaba se voltando contra seus autores.
Está tudo fechado no Rio. Resta-me a Lagoa Rodrigo de Freitas para um bom passeio de bike e máscara. Acentuo esse detalhe porque as pessoas sempre perguntam quando posto uma foto qualquer: e a máscara? Acontece que grande parte das fotos é de antes da pandemia. Ninguém usava máscara, exceto alguns japoneses, antes de 2020.
Se fosse um pintor e pintasse a Santa Ceia talvez fosse necessário escrever embaixo: antes da morte de Cristo ninguém usava máscara.
De qualquer forma, assim é a internet, um perpétuo julgamento.
Fonte: Blog do Gabeira