Domingo sem contato com a água, tirei o dia para dar uma olhada numa dezena de jornais pelo mundo, a maioria americana.
Mas foi no Correio Braziliense que tirei algo que vale a pena comentar na frente. Numa longa entrevista do general Paulo Sérgio, Chefe do Departamento de Pessoal do Exército, ficamos sabendo que os militares já se preparam para uma segunda onda da Covid-19.
E segundo a entrevista, graças a uma série de protocolos, conseguiram um bom resultado na proteção de 700 mil pessoas ligadas à corporação.
Os números são convincentes. Enquanto a taxa de mortalidade no país em geral foi de 2,5%, entre os militares foi de apenas 0,13%.
Aliás percebi que tinham um cuidado especial naquele encontro de Porto Alegre entre Bolsonaro e o comandante do Exército, Edson Pujol.
Bolsonaro ofereceu a mão para cumprimentar Pujol e ele ofereceu o cotovelo. Ali já estava querendo demonstrar que o Exército seguiria todas as instruções da Organização Mundial de Saúde.
O problema é que o Exército se preveniu mas não fez nenhuma crítica à política devastadora de Bolsonaro. Pelo contrário, foi profundamente cúmplice dele. Em primeiro lugar, produzindo hidroxicloroquina em seus laboratórios, sabendo que não era um remédio cientificamente indicado para a Covid-19. Em segundo lugar, aceitando a presença de um general da ativa no Ministério da Saúde, sabendo como todos nós sabemos que ele não teria competência para o cargo e iria apenas seguir as obscurantistas instruções de Bolsonaro.
Mas a entrevista de hoje mostra pelo menos que o Exército quer mostrar que não segue a política de Bolsonaro internamente, embora esperássemos muito mais das Forças Armadas do que simplesmente salvar a própria pele.
No Chicago Tribune há material com o título: Bolsonaro luta por sua sobrevivência política. Faltou acrescentar: enquanto os brasileiros lutam por sua sobrevivência física.
Alguns jornais destacam algo que ficou meio perdido no Brasil: o Exército de Mianmar fuzilou 117 manifestantes que protestavam contra o golpe. Comemoravam os militares o Dia das Forças Armadas. Houve protestos de Biden e também da Europa.
Nos Estados Unidos onde o tema da vacina já não é tão dramático, sinto crescer outro assunto de muita importância porque é perene: a entrada de imigrantes, sobretudo no Texas.
O Los Angeles Times faz uma reportagem inteligente, inventariando os objetos que os imigrantes ilegais vão perdendo pelo caminho, assim como alguns documentos. Há uma roupa infantil de Batman, sapatos, camisetas molhadas no Rio Grande.
É raro a imprensa cotidiana sair do convencional, mas esse ângulo de pequenos objetos perdidos traz uma proximidade emocional maior do que a dramatização excessiva.
Na Europa, a julgar pelo Le Monde, há uma discussão interessante sobre o novo papel dos Estados Unidos. De America First de Trump passamos para America is Back de Biden.
Os europeus falam muito de sua autonomia estratégica diante do confronto entre Estados Unidos e China apesar de fortalecerem os laços de amizade com os americanos. É algo que deveria ser discutido no Brasil esse conceito de autonomia estratégica, diante do confronto das duas grandes potências.
No que diz respeito à Rússia ficou claro que há nuances. Biden acusa diretamente Putin. Macron fala na necessidade do diálogo e Merkel acentua que não houve avanço nas negociações sobre a Ucrânia.
Alguns estados americanos já falam numa terceira onda de Covid-19. É uma demonstração de que, apesar do processo de vacinação em massa, será preciso manter as cautelas por muito tempo.
No Brasil ainda não completamos nem a primeira fase da vacinação, temos ainda a vacinação da gripe pela frente e o perigo da dengue após as chuvas de março, que devem fechar o verão.
É pau, é pedra, é o fim do caminho
Fonte: Blog do Gabeira