16 de abril de 2024
Vinhos

Uma casta, um vinho – País

Esta é uma casta muito especial para os enófilos das américas: coube a ela a introdução do vinho em nosso continente.

Sua origem é espanhola, na região de Castilla-La Mancha. A primeira descrição desta casta é de 1513, feita por Alonso de Herrera, que a chamou de Palomina Negra.

Em condições normais, esta uva não teria sobrevivido a epidemia de Filoxera que devastou os parreirais europeus. Mas, com o auxílio da técnicas de análise por DNA, muito atuais, descobriu-se que nos séculos XVI e XVII, colonizadores e missionários a caminho do novo continente a levaram para quatro diferente regiões que hoje são: México, Chile, Argentina e Ilhas Canárias. Em cada local recebeu uma denominação diferente: País, Mission, Criolla Chica, Listán Prietro e muitos outros, totalizando quase 50 sinônimos.

Muitos pesquisadores admitem que esta foi a primeira Vitis vinifera plantada no continente americano, naqueles territórios controlados pela Espanha. Curiosamente não chegou ao Brasil, embora ela exista em Portugal com o nome de Listrão.

Com a chegada de outras castas viníferas, como a Malbec, Cabernet Sauvignon e Merlot, a País foi sendo esquecida, mas seus vinhedos foram preservados e eventualmente era vinificada de modo bem rústico, sem grande importância para o mercado de vinhos finos.

Coube ao Chile redescobrir esta casta e, logo depois, a Argentina. Com técnicas modernas de plantio e vinificação estão produzindo pequenas joias. No Chile é a segunda varietal mais encontrada, depois da Cabernet Sauvignon.

O movimento de vinificar vinhos atuais com a País começou por pequenas vinícolas. Mantinham uma certa rusticidade como principal característica dos vinhos, tudo para preservar um estilo “rural”. Eram vinhos destinados a acompanhar as comidas típicas de um campesino – carnes na brasa, guisados, miúdos e embutidos domésticos.

Os resultados foram ótimos e logo as vinícolas de maior porte embarcaram nesta deliciosa aventura. O Guia Descorchados, apresenta uma categoria só para esta casta. Na edição de 2020 os vencedores receberam 95 pontos: Bouchon Pais Salvage 2019 (Chi) e o Cara Sur Parcela La Tortora 2018 (Arg).

Na relação dos melhores, vamos encontrar produtores como a Vallisto, Durigutti, El Esteco, Cadus e Catena Zapata (Arg); Garces Silva, Garage Wine Co., Miguel Torres e Santa Cruz (Chi). Nada mau.

Tintos e rosados são o caminho desta tradicional casta, quase esquecida. São vinhos com uma interessante acidez, atípica para os tintos e boa tanicidade. São ao mesmo tempo refrescantes e poderosos para enfrentar um gordo naco de carne ou de caça.

O vinho escolhido foge da maioria dessas características, mas abraça, com muita dignidade, a acidez natural desta varietal – um espumante!

Santa Digna Estelado Brut Rosé– Miguel Torres

Elaborado com uvas produzidas por pequenos produtores, apresenta coloração rosa pálido. No nariz, notas frutadas, com ênfase em frutas vermelhas e cítricas. O paladar é descrito como “selvagem” e fresco, característica desta casta histórica.

Perfeito para acompanhar pratos de peixes e frutos do mar.

Na safra de 2018 recebeu 93 pontos do Guia Descorchados e 90 pontos do crítico James Suckling.

Saúde e bons vinhos!

Créditos: imagem de abertura – https://glossary.wein.plus/criolla-chica

Tuty

Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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