Começa hoje uma nova fase no mundo com a posse de Joe Biden. Mas é impossível deixar de se preocupar com a situação do Brasil, onde a pandemia avança e fica clara a impossibilidade do governo de dar resposta com um plano de vacinação.
Não temos vacinas suficientes. A Fiocruz não vai receber os insumos no prazo. Os novos carregamentos de insumos para São Paulo também estão retidos na China.
Se depender dos esforços diplomáticos do governo, não avançaremos. Bolsonaro é hostil à China, seu chanceler, Ernesto Araújo, não é uma figura simpática nem ao governo chinês nem ao norte-americano.
Se não tivermos um processo nacional de vacinação, envolvendo no mínimo 150 milhões de pessoas, não há saída para retomar a vida.
Creio que está ficando claro a incompetência do governo. Nessa fase, em que dependemos da boa vontade dos chineses e indianos, fica claro também que é preciso habilidade diplomática. O governo Bolsonaro nesse campo sempre se mostrou arrogante e dono da verdade.
A saída para mim é desenvolver relações independentes do governo. Os estados deveriam se reunir em consórcios e comprar a vacina. A iniciativa privada deveria comprar vacina, vacinar seus empregados e doar uma grande parte para a população.
O Rio Grande do Sul talvez pudesse se entender com a Argentina, levando Santa Catarina junto.
Vai ser a sociedade que dará a resposta. Talvez incompleta. Mas é melhor uma resposta incompleta do que a inoperância de um governo negacionista.
Tenho estado um pouco triste nesses dias. Vi a festa da chegada da vacina mas já sabia de antemão que seria uma batalha garantir a continuidade do processo. Pelo menos já liberaram seis milhões de doses e ainda há quatro milhões em processo de liberação.
Mas isso é muito pouco. Precisamos no mínimo de 300 milhões de doses. É o único caminho estratégico. Temos de tentar tudo, principalmente alí onde o governo falhou. É necessário mostrar aos chineses, por exemplo, que uma coisa é o governo, outra é o povo brasileiro.
Rodrigo Maia foi hoje à embaixada. Mas Maia é um pouco tímido. Era preciso alguém propor uma saída nacional, envolvendo estados e iniciativas privadas.
Vamos esperar que Bolsonaro se ilumine? Ou que Ernesto Araújo torne-se mais gentil com a China ou mesmo com o governo americano?
Eles continuam combatendo o isolamento social, as máscaras e receitando hidroxocloroquina. É o caminho da autodestruição da sociedade brasileira.
A hora é de botar a boca no mundo.
Fonte: Blog do Gabeira