A foto, obtida no site Wines of Ukraine, mostra a vinícola Chateau Chizay, em Boregovo. Embora a produção vinícola ucraniana não seja tão conhecida como a de outros países, existe uma tradição que ficou escondida por muito tempo e só foi renascer depois do fim do regime totalitário da antiga União Soviética.
Há registros de produção vinícola desde o século IV a.C, na região da Crimeia, hoje separada da Ucrânia. A maior região produtora atual, Odessa, conta com 52.000ha de vinhedos. Somem-se as regiões de Kherson, Mykolaiv e Transcarpathia. Ao todo são mais de cinquenta vinícolas que vinificam desde tradicionais castas europeias como Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Riesling, até as autóctones Telti Kuyruk, Odessa Negra e a branca Sukhyi Liman. Ao todo são 180 diferentes castas em produção.
Mas…
Tudo pode ser perdido neste insano momento em que uma inexplicável guerra pode colocar um triste fim nesta bonita história.
Vinhateiros ucranianos ainda não “engoliram” a separação da Crimeia, originalmente sua maior área de produção. A principal vinícola, Massandra, teve o seu diretor demitido e outro foi colocado para ser um capacho dos russos. O grande temor por trás disto tudo é ter que voltar a produzir ridículos vinhos adocicados em larga escala.
Os produtores ucranianos organizaram um movimento aberto de resistência e não pretendem vender barato um eventual derrota. Já se ofereceram para pegar em armas, inclusive.
Isto tudo nos leva a uma extensa reflexão sobre a palavra “democracia” e suas diversa interpretações mundo afora. Etimologicamente, significa o exercício do poder pelo povo ou por seus representantes eleitos. Apesar desta clareza, muitos ditos “representantes do povo” se esmeram em distorcer esses conceitos, moldando-os de modo que justifiquem suas mais desprezíveis ideias.
Esta ocupação russa da Ucrânia é, apenas, mais uma delas. Toda forma de resistência por parte do vinhateiros, ou de quaisquer outros grupos será sempre apoiada por nós.
A democracia moderna está apoiada em alguns firmes pilares:
– A garantia da liberdade individual;
– A liberdade de opinião e expressão;
– A liberdade de eleger seus representantes, independente do regime político (presidencialista, parlamentarista, etc.);
– A igualdade de condições, direitos políticos e oportunidades favoráveis entre os indivíduos;
No entanto, estamos cansados de ver atentados diários a qualquer destes pilares, em várias “democracias” do mundo, inclusive no nosso país.
Vinho, no Brasil, ainda é visto como um item elitista, restrito aos mais favorecidos, não só financeiramente, mas, sobretudo, culturalmente. Para apreciar um bom vinho é preciso entendê-lo desde as suas origens. É uma viagem cultural acima de tudo.
Há gente que ainda acredita em mitos e nem foram capazes de abrir um bom dicionário e procurar uma definição. Eis alguns sinônimos que podem ajudar: alegoria, crença, fantasia, história, legenda, lenda, metáfora, mitologia, narrativa, quimera, utopia.
Apenas 1 comentário: zero, pelo conjunto da “obra” …
Saúde e bons vinhos, enquanto podemos…
PS: existem alguns vinhos ucranianos à venda no Brasil. Uma pesquisa no seu mecanismo de busca predileto pode revelar alguns achados. Infelizmente a maioria está indisponível. Creio que uma reposição, por enquanto, está fora de cogitação.
Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.