29 de abril de 2024
Vinhos

Qual o melhor método para fechar uma garrafa de vinho?

O velho debate sobre rolhas e tampas de rosca ganhou novos contornos que podem mudar, significativamente, os conceitos habitualmente discutidos.

Primeiro um pouco de história, afinal, vinho, além de ser uma deliciosa bebida, sempre vem acompanhado de uma boa dose de cultura.

A rolha é a forma mais tradicional de fechamento das garrafas. Os grandes vinhos do mundo as utilizam até hoje, com algumas boas exceções, por exemplo, vinhos australianos e neozelandeses.

Um dos fatores determinantes na escolha do tipo de fechamento é o impacto do custo, de cada solução, no preço final do produto. Esta foi uma das razões para o surgimento das tampas de rosca “Stelvin” e de outras tecnologias como as rolhas aglomeradas, sintéticas ou mistas, destacando as das marcas Diam e Normacorc, cápsulas de vidro, chapinha de garrafa e outras menos populares.

O debate sempre girou em torno dos prós e contras de cada tipo de fechamento. Há uma crença, bem difundida, sobre as tampas de rosca serem típicas dos vinhos de menor qualidade.

Nada mais longe da verdade, entretanto. Alguns vinhos Top, como o australiano “Henschke’s Hill of Grace”, que custa perto de R$ 10.000,00, no Brasil, usa a “questionável” tampa de rosca.

Os detratores das rolhas se apoiam em alguns casos, bem conhecidos, de lotes de garrafas contaminadas por TCA (Tricloroanisol), um fungo que deixa o vinho com um desagradável cheiro de mofo, “bouchonné”, no nosso jargão. (já existem rolhas imunes a este fungo)

Criticam, também, que, mesmo para os vinhos de grande longevidade, fechados com rolhas de primeiríssima qualidade, uma troca da rolha, em algum ponto de sua “vida”, se fará necessária. Rolhas não são eternas.

Um terceiro fator que tem sido bastante considerado nos dias de hoje é o impacto ambiental. A rolha é um produto de origem vegetal, obtido a partir da casca dos Sobreiros, que levam, em média, 9 anos para recompor esta casca e possibilitar novas rolhas.

A grande novidade veio de um extenso trabalho de pesquisa e desenvolvimento realizado por um dos grandes produtores de cortiça, a empresa portuguesa, M.A.SILVA.

Em busca de compreender melhor a relação entre os vinhos e as diferentes formas de fechar uma garrafa, pesquisaram como se comportam mais de 1.000 compostos químicos presentes no vinho, sob os mais diferentes tipos de vedação.

A conclusão preliminar foi que nem todo vinho, por melhor que seja, vai se beneficiar usando rolhas de cortiça, mesmo em longos tempos de adega. Da mesma forma, as cápsulas de rosca podem trazer mais benefícios, mesmo para um vinho de “entrada”, do que os fechamentos tradicionais.

Tudo vai depender da estrutura química de cada vinho!

Na teoria, cada vinificação tem uma identidade própria que decorre da safra (ano de elaboração), das condições climáticas, das uvas empregadas e até dos ajustes feitos no processo de elaboração.

A expectativa é que se consiga definir qual a melhor forma de fechamento a partir destas identidades. Acreditam que sempre haverá uma solução, ideal, para cada caso.

Além do fator custo, um outro parâmetro deve ser levado em conta: qual solução garante o melhor resultado?

A velha discussão sobre quem é melhor ou pior fica menos interessante quando se compreende que o importante é manter e preservar as qualidades organolépticas do vinho, da melhor forma possível.

A conclusão e implementação dos resultados deste interessante trabalho ainda vai levar muito tempo. Não são ideias para serem aplicadas “amanhã”.

Mas, em breve, poderemos nos deparar com curiosidades como um mesmo vinho, usando rolha numa safra e tampa de rosca em outro ano. Ou, quem sabe, passar a identificar um vinho por seu tipo de fechamento.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Imagem de Freepik

Tuty

Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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