13 de outubro de 2024
Vinhos

A Copa Jonia

O recipiente apresentado na foto é uma reprodução da “taça” de vinho usada no século VI aC. Foi presentada aos assinantes de um clube de vinhos europeu e a história por trás deste brinde é muito interessante.

A próxima foto mostra uma peça original que está no Museu de Huelva, na Andaluzia.

Eram produzidas na cidade grega de Ionia e comercializadas em diversos entrepostos do Mediterrâneo. Pesquisas arqueológicas recentes, encontraram peças como estas na região de espanhola de Jaen, alta Andaluzia, o que acabou inspirando alguns ceramistas, entre eles, Joan Carles Llarch, autor da peça moderna.

Llarch foi além. Produz as novamente famosas ânforas, garrafas, copas e fermenta o seu próprio vinho.

A argila branca utilizada vem do leito do Rio Llobregat, próximo a Barcelona. O design atual é mais liso e menos decorado que o original. A borda foi suavizada para facilitar o contato com os lábios na degustação.

Na hora de beber um vinho, a copa deve ser segurada com as duas mãos. Para manter sua coloração original, o artista aconselha que só seja usada para os vinhos brancos.

Quanta diferença para os dias de hoje!

O que mais chama a atenção é o modo de empunhar a taça. Partimos de uma composição de utensílios e movimentos que seria mais adequada para consumir um alimento e chegamos nas elegantes e refinadas taças de cristal, que se dão ao luxo de terem formatos estudados para cada tipo de vinho com finas e delicadas hastes que mantem nossas mãos, supostas fontes de calor, a uma distância segura do precioso líquido que está no bojo…

Dava para escrever um tratado sobre isso. Séculos atrás não existia refrigeração, a cor do vinho não era ponto de discussão entre os degustadores, a temperatura de serviço era a “do dia” e, imaginem só, os vinhos eram bem rudimentares, não tinham nenhum tipo de conservante e estragavam rapidamente. Não estaríamos errados afirmando que eram consumidos, no máximo, em 1 ou 2 dias após ficarem prontos. Depois, viravam vinagre… (e alguns consumiam mesmo assim)

A história do vinho acompanhou o desenvolvimento das “boas maneiras” da sociedade. Na mesma proporção que as diferentes culturas foram ficando mais civilizadas, utilizando um termo bem atual, o serviço do vinho foi se sofisticando. Em alguns casos ficou irritantemente complicado e isso fez com que a nossa bebida predileta recebesse a pecha de “esnobe”.

A Copa Jonia é a prova que o vinho era uma bebida descompromissada, sem as complicadas etiquetas. O que se buscava era ter uma alegria, um momento de pequeno prazer. Ninguém se incomodava de bebê-lo numa cumbuca de cerâmica, segurando com as duas mãos. Nenhuma preocupação com ritos de abrir a garrafa, servir, aerar, observar cor, aromas, retrogosto, ou saber qual era a casta, safra, produtor etc.

Beber um vinho era uma coisa mundana. Pensem nisso antes de degustar a próxima taça.

Saúde e bons vinhos!

Créditos:

Foto de abertura e da taça de cristal por Tomás Pinheiro;

Foto da Copa original obtida no site do Museu de Huelva;

Foto do ceramista Carles Llarch obtida no site de Linda Silva.

Tuty

Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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