Sou viciada em ouvir rádio! Fazendo um monte de outras coisas ADORO ligar o rádio, ouvir notícias, a previsão do tempo, algum cronista que eu curto…
De onde vem essa mania, mais do que vício? Lembrei-me da época em que fui morar com meu pai e minha avó, aos 9 anos. Todas as manhãs, grudada nesse pai que, dia a dia eu descobria ser mais e mais interessante, divertido, engenhoso e que fazia a barba “the old style”, ou seja, molhava o pincel cuidadosamente, fazia um mundo de espuma e passava o barbeador cuidadosamente para não se cortar.
Eu do lado, encostada na pia do banheiro, olhos fixos no ritual e ele com seu radinho de pilha na janela, ouvindo o noticiário e respondendo, pacientemente, “trocentas” perguntas: quem é esse cara chato? (Vicente Leporace, papai gostava muito das opiniões desse jornalista bastante ácido da época).
E se você se cortar e sangrar muito? Ele, então, me apresentou a tal da pedra ume, branca, na qual encostei a língua e pareceu que ela tinha encolhido, como quando se morde uma fruta verde! Depois disso, a prodigiosa pedra me salvou de transfusões de sangue – tal era o estrago das primeiras vezes em que resolvi raspar as pernas, quando cheguei aos 13 anos (escondido, é claro) e com o barbeador do papai…
E quando acabar a pilha do radinho? Na época, radinho de pilha era super moderno, “Made in Japan” sendo que bem pouca gente tinha – um luxo – e ele explicava pacientemente que não seria assim tão rápido que elas iriam acabar. Um dia vou ganhar um radinho também? Mas você já tem o que está no seu quarto! Não, mas queria um desses de levar junto!
Um ano depois, no meu aniversário, acabei ganhando um e me senti a dona do mundo, super importante! Já as minhas pilhas acabavam bem mais depressa, uma vez que, quando eu não estava na escola, estava grudada no “radinho de levar junto”…
E esse mesmo radinho me acompanhou por toda a adolescência: as músicas que podiam ser pedidas. E lá ia eu ficar pendurada no telefone, ligando para as rádios e pedindo os meus sucessos preferidos: Paul Anka, Neil Sedaka, Elvis…
A primeira notícia de quando Kennedy foi assassinado, tive-a pelo rádio…
Ouço até hoje meus radialistas preferidos. Há muito tempo, eu não acompanho mais meu pai fazendo a barba, mas a curtição do rádio…
Permanece até hoje!
Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a “falarem a mesma língua”, traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma… Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar… De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena – só não tenho a menor contemplação com a burrice!