De: Susanne Bier, EUA, 2024
Nota: ★★★☆
(Disponível na Netflix em 9/2024.)
O Casal Perfeito chegou chegando – um fenômeno, um absurdo. Lançada mundialmente na Netflix em 5 de setembro de 2024, apenas dez dias depois a minissérie já era o número 1 na lista Global Top 10 da gigante do streaming, com 20,3 milhões de views.
Estava entre as dez mais em 91 países mundo afora, da Bolívia à Dinamarca, da Noruega a Bangladesh, da Finlândia ao Paquistão.
Estrondoso sucesso imediato, a série não está sendo, de forma alguma, uma unanimidade. Tenho visto todo tipo de opinião sobre ela no Facebook – inclusive as críticas mais ferinas, mais virulentas que pode haver.
Dou uma olhada nas opiniões dos leitores do IMDb. Um deles dá nota 6 em 10 e diz no título: “Um elenco à procura de melhor roteiro e diretor”.
Seguramente há alguns diretores do cinema atual tão bons quanto a dinamarquesa Susanne Bier, a mulher que fez Depois do Casamento (2006), Coisas Que Perdemos Pelo Caminho (2007), Em um Mundo Melhor (2010), O Amor é Tudo (de) que Você Precisa (2012), Segunda Chance (2014). Mas me pergunto: haveria assim propriamente algum diretor melhor do que ela?
Um outro leitor do IMDb dá nota 6 em 10 e tasca: “Em termos de história, essa série beira o satírico. O roteiro é tão pouco natural e forçado que é quase cômico, e, assim, achei difícil levar qualquer um dos atores a sério. Como Kidman e Schreiber se envolveram nesse fiasco é um mistério mais cheio de suspense do que a trama em que toda a série é baseada. Isso dito, ela mantém você absorvido. Não me arrependo de ter visto a série. É uma produção bem estereotipada (formulaic é o termo que ele usa), muito previsível, e se você está procurando por um show de fim de semana como farra, vai satisfazer a coceira. Você não está vendo Cidadão Kane, mas às vezes precisamos desligar nosso cérebro durante um tempinho e nos divertimos.”
Uma história horrorosa… Um danado de um fiasco…
Diabo. Acho que a trama criada pela escritora Elin Hilderbrand é formulaic, sim – no melhor sentido que pode haver. Ela achou a fórmula mais perfeita de fisgar o leitor/espectador, e abusou dela. Agatha Christie, a escritora que soube usar genialmente a fórmula fisgadora do whodunit, o quem-fez-quem-matou, morreria de inveja.
Um casal riquérrimo, famoso, sempre presente na imprensa e nas redes sociais como exemplo de perfeição, prepara uma festa de arromba para o casamento de um de seus filhos, numa das ilhas mais exclusivas do mundo – e, na véspera, a dama de honra aparece morta na praia. Ah, meu, é possível haver trama mais fascinante, mais fisgante, do que essa?
De imediato, fiquei sem saber muito bem como avaliar a série. Achei que ela tem várias, várias coisas excelentes, maravilhosas – mas ao mesmo tempo me incomodavam alguns outras, em especial essa própria coisa da mais perfeita fórmula de se criar um whodunit para arrebentar a boca do balão. E o excesso de close-ups, bem desagradável.
Agora, de uma coisa tenho certeza. Dizer que The Perfect Couple é um absoluto horror é coisa de gente doida. Mais doida do que Greer e Tag Winbury juntos – os protagonistas da história, interpretados por Nicole Kidman e Liev Schreiber.
O elemento mais impressionante, mais fantástico da série, na minha opinião, é Nicole Kidman, esse fenômeno da natureza.
Vi referências ao fato de Nicole Kidman se tornou especialista em fazer o papel de mulher rica fina e chique, já que este The Perfect Couple vem depois de Big Little Lies (2017-2019) e The Undoing (2020).
Dou agora uma passada de olhos pela filmografia da extraordinária atriz e fico pasmo: meu Deus, como a mulher trabalha! E como a mulher trabalha em tanta coisa boa! De 2020 até meados de 2024, foram lançados 13 filmes e/ou séries com ela. Não vi nem metade do que ela fez nos últimos 10, 15 anos, mas tudo o que vi é muito bom…
É uma coisa absolutamente impressionante comparar as atuações de Nicole Kidman neste O Casal Perfeito e em Expatriadas, outra minissérie de seis capítulos também lançada em 2024, também produzida, entre outras, pela Blossom Pictures – a empresa produtora da própria atriz.
Foi Nicole Kidman que comprou os direitos de filmagem do romance The Expatriates, e foi ela que escolheu para dirigir os seis episódios da série a chinesa de Pequim e hoje realizadora norte-americana Lulu Wang – um acerto fenomenal.
A Margaret que ela interpreta em Expatriadas não tem nada, nada, nada a ver com a Greer Garrison Winbury que ela faz neste O Casal Perfeito. É a absolutamente impressionante. É como se fossem duas atrizes diferentes – e, diabo, não pode haver elogio maior a uma atriz do que isso.
A Margaret de Expatriadas é uma mulher tristíssima, angustiada, estraçalhada pela perda do filho caçula – e Nicole Kidman, ali, conseguiu a proeza de se mostrar uma mulher sem charme, sem glamour, sem qualquer encanto. Não chega a ser feia, porque isso seria humanamente impossível – mas sua expressão está sempre tão tomada pela angústia que seu rosto, sua postura não fazem dela uma mulher bonita, atraente.
A Greer de O Casal Perfeito é o exato oposto. No papel de Greer, Nicole Kidman é uma mulher de beleza radiante, que salta faíscas. Elegante, charmosa, cuidadosa, coquete, a autoconfiança em pessoa – um ser luminoso.
Meu Deus do céu e também da Terra, que atriz! Não é à toa que ela já ganhou 114 prêmios, inclusive um Oscar (por As Horas, de 2002), e teve 259 indicações, inclusive cinco ao Oscar.
Que a riqueza do casal vem da família do marido, Tag Winbury, o espectador fica sabendo logo – antes que o primeiro dos seis episódios da série chegue aos 7 dos seus 53 minutos. Na manhã do dia em que seria realizado o casamento, o chefe da polícia da ilha de Nunteck, Dan Carter (Michael Beach. na foto abaixo), estava obtendo as primeiras informações de Roger Pelton (Tim Bagley), o organizador do casamento, na praia, diante da mansão dos Winbury, quando chega a detetive Nikki Henry (Donna Lynne Champlin, na foto abaixo), enviada à ilha pelo promotor, para liderar a investigação junto com o chefe da polícia local. São feitas as apresentações – e de cara fica claro que, naturalmente, o chefe Carter não está nada satisfeito com a interferência de uma detetive de fora, enviada pelos escalões superiores.
À primeira pergunta da detetive Henry, o organizador do casamento explica que tratava de tudo sobre a festa com Greer, a mãe do noivo – e o chefe Carter detalha que a propriedade pertencia à família do marido de Greer havia cinco gerações. – “Eles tinham muito mais terras”. Um dos herdeiros havia perdido quase tudo no jogo.
Mais adiante, em uma conversa entre Greer e Amelia Sacks, a noiva de seu filho (o papel de Eve Hewson), ficamos sabendo que, na primeira vez em que ela, então namorada de Tag, visitou a propriedade dos Winbury, foi muito cuidadosa ao se vestir, ao falar, ao agir, para causar boa impressão na família rica na qual estava se candidatando a entrar. Greer estava, com aquilo, repreendendo Amelia, que, segundo ela, não estaria tendo os cuidados necessários a uma mulher não rica que está para penetrar no círculo restrito dos muito ricos. Amelia, fica bem claro, não é propriamente pobre; zoóloga formada, bem preparada, é classe média.
O fato é que, por esse diálogo, o espectador fica sabendo que, como Amelia, Greer não era de família rica. Mas o que a série vai mostrando, de maneira claríssima, é que quem manda ali é Greer. Ela é que toma as decisões todas da família. Ela é que é famosa, e muito famosa – é uma escritora de novelas policiais extremamente bem sucedida, com dezenas de livros que venderam horrores.
Tag… Bem, Tag curte a vida mansa, na bela mansão pé na areia. Adora remar em seu caiaque naquela paisagem absurdamente bela, e, no seu tempo livre – ou seja, o dia inteiro – fuma maconha e bebe. Fuma maconha e bebe em quantidades industriais – mas é do tipo não perde a linha.
Só vai perder a linha em um momento de clímax, já quando a série se aproxima do final.
E é só quando a série se aproxima do final que o espectador fica sabendo que a fortuna que Tag herdou dos pais está presa em um fundo fiduciário, e quem custeia todas as despesas da vida do casal é Greer, com os direitos autorais de seus livros.
Greer mantém uma pequena equipe de relações públicas/assessoria de imprensa, que ajuda a passar a imagem do casal perfeito. Repórter e fotógrafo da revista People viajam até a ilha para entrevistar Tag e Greer às vésperas do casamento do filho.
E, na manhã do dia do casamento, a polícia está na grande propriedade do casal perfeito, começando a investigar a causa da morte da linda moça encontrada junto do mar. Os interrogatórios mostrarão que várias pessoas da família e dos convidados mais próximos poderiam ter algum motivo para cometer o assassinato.
O Casal Perfeito/The Perfect Couple é daquela estirpe de filmes e ou/séries que desmentem com veemência o que está dito em seu título. E, diacho, essa estirpe tem belas obras. A Cidade Está Tranquila/La Ville est Tranquille (2009), do grande Robert Guédiguian. Estamos Todos Bem/Stanno Tutti Bene (1990), de Giuseppe Tornatore, e sua refilmagem americana, Estão Todos Bem/Everybody’s Fine (2009), de Kirk Jones. Tudo Vai Ficar Bem/Every Thing Will Be Fine (2015), feito por Wim Wenders no Canadá. A série sueca Uma Família Quase Perfeita/En Helt Vanlig Familj (2023), de Per Hanefjord. Bem-Vindos ao Paraíso/Come See the Paradise (1990), de Alan Parker, sobre o inferno dos campos de concentração criados pelos Estados Unidos para descendentes de japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.
As cidades não são tranquilas, nunca estão todos bem, não há família ou casal perfeito, como mostram a vida real e esses filmes e séries todos – mas, diacho, a quantidade de fantasmas, segredos, traições, problemas de todos os tipos que povoam as vidas daquelas pessoas reunidas para o casamento de Amelia Sacks com Benji, o filho do meio dos três de Tag e Greer Winbury é um absurdo, uma coisa de louco.
É necessário registrar um pouquinho sobre essas pessoas, os personagens da bela trama criada pela escritora Elin Hilderbrand – a qual, aliás, tem alguns pontos em comum com a protagonista, essa forte, poderosa Greer Garrison Winbury. Como Greer, Elin Hilderbrand, é loura, bonita e vive na ilha de Nantucket – é uma das cerca de 15 mil habitantes daquele paraíso de riquíssimos no litoral de Massachussets, o terceiro Estado de maior renda per capita do país mais rico do mundo. E, como Greer, ela é uma escritora prolífera, lança mais de um romance por ano. Foram 30, entre 2000 e 2024, em geral passados lá mesmo, em Nantucket. The Perfect Couple é de 2018 (foi lançado no Brasil, pela Editora Arqueiro, em agosto de 2024, duas semanas antes da série.)
O mais velho dos três filhos de Greer e Tag, Thomas (o papel de Jack Reynor), não é nada resolvido. Bebe demais e, ao contrário do pai, fica bêbado logo. Fez investimentos errados, se deu mal nos negócios. Deve a fortuna de US$ 2,5 milhões a Isabel Nallet, uma velha amiga da família. Sua mulher, Abby, está grávida, torra a paciência dele exigindo uma casa maior – e Thomas não consegue nada ao pedir ajuda ao pai.
Abby é o papel de Dakota Fanning, aquela mulher que foi uma atriz mirim muito boa e era lindíssima. Continua boa atriz, mas, que coisa, não me pareceu tão bela quanto era quando garotinha e depois adolescente. Acontece.
Benji (Billy Howle), o filho do meio, o da festa de casamento atrapalhada pela morte da dama de honra da noiva, parece uma pessoa frágil, tíbia. É absolutamente controlado pela mãe forte, dominadora. Mas é um dos poucos personagens da história que não têm fantasmas no armário.
O mesmo se pode dizer de Amelia, sua noiva. Não tem fantasmas no armário, e é uma boa pessoa. Ama o rapaz que a ama, e está com ele não pelo dinheiro da família. Até ao contrário. A riqueza, a ostentação da família a incomoda. Mas a moça vai acabar se envolvendo com Shooter Dival (Ishaan Khattar), o rapaz que foi colega de escola e é o maior amigo de Benji, convidado para ser seu padrinho de casamento.
A atriz que faz Amelia, Eve Hewson (na foto acima), foi para mim a grande surpresa da série, já que de Nicole Kidman e Liev Schreiber seria mesmo de se esperar boas atuações. A moça é lindérrima, com aquela combinação irlandesa de rosto muito claro, olhos verdes incrivelmente belos e cabelo negro. Eve Hewson, irlandesa de Dublin, classe 1991 – a geração de Saoirse Ronan, Dakota Fanning, Kristen Stewart.
Não me lembrava dela, do nome dela – mas vejo agora que este + de 50 Anos de Textos tem dois filmes (ótimos, por sinal) em que ela aparece, pelo jeito em papéis pequenos: À Procura do Amor/Enough Said (2013) e Ponte dos Espiões/Bridge of Spies. Em setembro de 2024, no lançamento de O Casal Perfeito, tinha já 21 títulos em sua filmografia, iniciada em 2008, quando estrava com apenas 17 anos.
Em longa matéria sobre ela no New York Times, reproduzida no Estadão de 10 de setembro de 2024, a repórter Nicole Sperling escreveu:
“Eve Hewson está sempre sendo descoberta. A atriz irlandesa, cujos créditos remontam a 2008, começou a gerar burburinho em 2014, por sua atuação como uma jovem enfermeira reservada no drama de época The Knick, de Steven Soderbergh. Em 2021, sua performance como a esposa sinistra e emocionalmente instável na minissérie Por Trás de Seus Olhos, da Netflix, fez com que os fãs a parassem na rua.
“Isso voltou a acontecer com Mal de Família, o drama irlandês de humor sombrio. Lançado em 2022 na Apple TV+, a série virou um fenômeno em Dublin, cidade natal de Hewson, onde festas para assistir aos episódios em pubs a transformaram numa sensação local. E, no ano seguinte, ela foi o grande destaque de Sundance, quando o filme Flora and Son, no qual ela interpreta o papel principal, foi vendido para a Apple TV por um valor recorde de US$ 20 milhões.
“Mas, um pouco porque os serviços de streaming aumentaram drasticamente o volume de conteúdo e atomizaram os hábitos de consumo, Hewson, 33 anos, não é um nome conhecido. Isso pode mudar nos próximos meses. A atriz está estrelando, ao lado de Nicole Kidman e Liev Schreiber, a badalada adaptação de O Casal Perfeito, de Elin Hilderbrand, que acaba de estrear na Netflix.”
Eve é uma dos quatro filhos do casal Ali Hewson e Paul David Hewson, este mais conhecido pelo nome artístico de Bono Vox!
Vixe! Me alonguei sobre a bela e competente Eve Hewson. Ela merece destaque mesmo, mas ainda falta falar de vários outros personagens de O Casal Perfeito – e seus intérpretes.
Tão desconhecidas para mim quanto Eve Hewson era essa outra moça lindíssima, Meghann Fahy (à direita na foto acima). As duas são da mesma geração: Meghann Fahy é um ano mais velha, de 1990, nascida em Massachusetts. Começou a carreira em 2009, e estava em meados de 2024 com 27 títulos no currículo. Teve uma indicação ao Emmy de melhor atriz em série dramática pela segunda temporada de The White Lotus.
Ela interpreta Merritt Monaco, a dama de honra da noiva – e que Amelia encontra morta na praia diante da mansão do noivo no dia em que seria a cerimônia de casamento. Apesar de as duas serem íntimas, Merritt não havia contado para Amelia que estava tendo um caso, já fazia alguns meses… com Tag Winbury, o pai do noivo. Só na véspera do dia do casamento, à noite, poucas horas antes de aparecer morta, é que as duas amigas conversam sobre isso.
Entre os convidados mais chegados à família está uma francesa, Isabel Nallet. Segundo Greer, Isabel é apaixonada por Tag há muitos anos. Não se fala se os dois foram amantes no passado – mas, naqueles dias anteriores ao dia do casamento de Amelia e Benji Isabel está trepando é com Thomas, o filho mais velho do casal nada perfeito, a quem ela emprestou a fortuna de US$ 2,5 milhões.
Isabel Nallet surpreende os espectadores, pois vem na pele de ninguém menos que Isabelle Adjani, essa gigantesca estrela, uma das maiores do cinema francês, que andava um tanto sumida nos últimos anos.
Dos personagens centrais da história, faltava apenas mencionar Will (Sam Nivola), o caçula dos três filhos de Greer e Tag. Aos 17 anos, era o preferido, o queridinho da mãe, e não gostava de forma alguma do pai. Um tanto tímido, bastante inseguro, era boa gente – e apaixonado pela bela Chloe Carter (Mia Isaac), a filha do chefe de polícia da ilha.
É ótima a sacada dos roteiristas de mostrar a garotinha Chloe de cara, logo no comecinho do primeiro dos seis episódios da série.
A série começa com tomadas gerais da ilha de Nantucket, feitas muito provavelmente com a câmara em um drone – e a beleza do lugar é de fato extraordinária, acachapante, de tirar o fôlego. Depois delas, há uma tomada geral da praia em que fica a mansão onde se passará boa parte da ação – e aí teremos diversas, diversas tomadas dos personagens centrais todos, na festa da véspera do dia da cerimônia.
Depois de uns três ou quatro minutos de apresentação da família Winbury e seus convidados, bebendo, dançando – a elite, os happy few se divertindo adoidado – há algumas tomadas rápidas da praia, à noite. Ouvimos um grito abafado. Corta, entram rápidas tomadas gerais da ilha, agora no alvorecer; corta, e está tocando o telefone na delegacia de polícia. O policial Carl (Nick Searcy), que cochilava diante de sua mesa de trabalho, acorda, atende. Logo em seguida, liga para seu chefe. Dan Carter atende à ligação. – “Olá, chefe. Acharam um corpo.”
O chefe Carter bate no quarto para acordar a filha: – “Chloe!”, ele chama. Abre a porta e informa: – “Acho que seu trabalho do buffet vai ser cancelado.”
– “Cancelado? Por quê?”
– “Ninguém vai se casar hoje. Alguém morreu.”
Assim que o pai fecha a porta do quarto e vai embora, Chloe – que já havia aparecido como uma das garçonetes servindo as pessoas na festa da véspera – pega uma camisa branca com grandes manchas de sangue que está em sua cama.
Estamos com 5 minutos do primeiro episódio da série.
Nada como espalhar dúvidas, questões, suspeitas na abertura de uma série que envolve mistério, crime.
E é preciso registrar que é bem interessante que o caçula do casal rico do título esteja namorando a filha do policial, uma garotinha negra. Gosto demais de filmes que mostram casais de cor de pele diferentes.
Jenna Lamia foi a escritora que desenvolveu e coordenou o trabalho da equipe de roteiristas, a partir do romance de Elin Hilderbrand. Fizeram parte da equipe Courtney Grace, Alex Berger, Leila Cohan, Bryan M. Holdman e Evelyn Yves.
F. Scott Fitzgerald, gênio literário, mas uma pessoa fascinada demais pelos endinheirados, com os quais conviveu em especial em suas andanças por Paris e pela Riviera nos anos 1920, escreveu que “os ricos são diferentes de mim e de você”. Ao que seu colega, contemporâneo e de certa forma rival Ernest Hemingway retrucou: “São mesmo. Eles têm mais dinheiro”.
Para boa parte dos filmes dos bons diretores italianos, e também de muitos dos franceses, gente boa é gente pobre, das classes operárias. Da classe média pra cima, as pessoas são ruins da cabeça ou doentes do pé – ou as duas coisas. Burguês é sinônimo de sem-vergonha, explorador.
A série The Perfect Couple, na minha opinião, não tem pelos ricos nem o fascínio do grande Fitzgerald nem o desprezo dos cineastas italianos e franceses. A série não endeusa nem demoniza os ricos. Mostra que há de tudo entre eles: gente de bom caráter, gente de mau caráter, gente fraca, gente forte, gente que erra demais, outros que não erram tanto. Como, de resto, entre as pessoas da classe média, entre os pobres, entre os negros, entre os brancos, entre os mulatos, entre os amarelos, os de qualquer opção sexual, o que for.
Gosto dessa forma de ver as coisas.
Gostei da série.
Anotação em setembro de 2024
O Casal Perfeito/The Perfect Couple
De Susanne Bier, EUA, 2024
Com Nicole Kidman (Greer Garrison Winbury),
Liev Schreiber (Tag Winbury, o marido),
Eve Hewson (Amelia Sacks, a noiva de Benji),
Billy Howle (Benji Winbury, o filho do meio), Meghann Fahy (Merritt Monaco, a grande amiga de Amelia), Jack Reynor (Thomas Winbury, o filho mais velho), Dakota Fanning (Abby Winbury, a mulher de Thomas), Sam Nivola (Will Winbury, o caçula), Ishaan Khattar (Shooter Dival, o grande amigo de Benji), Isabelle Adjani (Isabel Nallet, a amiga da família), Donna Lynne Champlin (Nikki Henry, a detetive da polícia estadual), Michael Beach (Dan Carter, o policial local), Mia Isaac (Chloe Carter, a filha do policial Dan), Irina Dubova (Gosia, a governanta), Nick Searcy (Carl, assistente de Dan), Dendrie Taylor (Karen Sacks, a mãe de Amelia), Michael McGrady (Bruce Sacks, o pai de Amelia), Tim Bagley (Roger Pelton, o organizador do casamento), Tommy Flanagan (Broderick Graham, o inglês de jeito suspeito), Adina Porter (Enid Collins), Jeanine Mason (Hyacinth), Dominic Burgess (Greg), Troy Iwata (Brad), Ravi Kapoor (tio Dival), Patrick Languzzi (Chet), Patrice Covington (Carol, a joalheira)
Roteiro Jenna Lamia (desenvolvido por). E Courtney Grace, Alex Berger, Leila Cohan, Bryan M. Holdman, Evelyn Yves.
Baseado no livro de Elin Hilderbrand
Fotografia Roberto De Angelis, Shane Hurlbut
Música Rupert Gregson-Williams
Montagem Sam Williams, Morten Højbjerg
Casting Eric Dawson, Jina Jay, Carol Kritzer, Robert J. Ulrich
Desenho de produção Sarah Knowles
Figurinos Signe Sejlund
Na Netflix. Produção Produção John H. Starke, 21 Laps Entertainment, Blossom Films, The Jackal Group.
Cor, cerca de 360 min (6h)
Fonte: 50 anos de cinema
Jornalista, ex-editor-executivo do Jornal O Estado de S. Paulo e apreciador de filmes e editor do site 50 anos de filmes.