Tia Anita, Dona Perçy, irmã caçula de Darcy, Geny e Leny, oriundos de uma família cuja a mãe era enfermeira e pianista doméstica e o pai, um policial militar, daqueles de antigamente, orgulhoso e cioso de suas obrigações.
Tia Anita, é a última das moicanas sobrevivente, os demais, já foram ajustar suas contas com o criador e, justamente, sobre essas contas, que eu me agarro a essa querida personagem, ainda viva.
Dona Perçy, desde seus oitenta anos, luta contra uma parcial cegueira que a cada folhinha que passa no calendário, a torna cada vez mais dependente de sua resiliência para sobreviver. Com todo seu orgulho e vaidade, dispensa acompanhantes e se isola em seu pequeno apartamento no Catete.
Atualmente, do alto dos seus noventa e seis anos, já não conta com nenhuma luz que transpasse suas retinas, o que, lhe tirou, mesmo, os vultos embaçados que ainda distinguia e, a permitia se mover, mesmo que precariamente, no seu pequeno universo.
Na semana passada tive a notícia que a Tia Anita, foi hospitalizada. Caramba!!! Acendeu a luz amarela, claro que o fato dela poder partir sem que revele aqueles segredos e histórias que apenas ela tenha conhecimento, me abalaram, confesso, que menos a possibilidade de sua partida física, afinal, noventa e seis anos e nessas condições, essa samurai de saia, foi uma vitoriosa.
Em meio a uma pandemia, onde os sansões e hércules da era Nutella, se escondem sob focinheiras e se isolam numa pseudo segurança que nada os acometerá, minha heroína se sobressai e os fazem corar de vergonha. Tia Anita, se recusa a usar qualquer proteção desnecessária e ideológica. Diz que, já passou por várias epidemias como a varíola, tifo entre outras, pra se esconder a essa altura da vida. Claro, que não sugiro que façam o mesmo, mas, afinal, não posso ignorar e comparar esse seu caso com essa turma do isolamento seletivo e de geladeira cheia que sai a se exercitar nas praias e bosques de fucinheiras com medinho de ficar dodói.
Voltemos ao meu tema principal ou seja, ao meu folhetim familiar que está prestes a ir para a eternidade desconhecida.
Faz anos que indago irmãos e primos ou mesmo parentes menos próximos, sobre curiosidades, as respostas, confrontadas com a minha memória, não se encaixam, sendo, até, algumas, conflitantes no tempo e espaço.
Sempre ouvi falar que vovó teria tido um caso com um tipo misterioso, de alcunha, Cristovão, que vivia em Niterói. Esse romance, conta a lenda, era sabido por meu avô, e, que mais tarde, se separaram e ela, foi viver em definitivo com essa figura. Descobri em álbuns de fotografias, algumas provas desse fato, vovó com a família reunida numa casa onde no verso da foto, era identificada como sendo em Niterói. Nenhuma presença física do Dom Juan, mas, corrobora sobre a veracidade do caso. O que mais me intriga sobre esse causo, é que as narrativas são desde a afirmação, até, por parte dos mais velhos, a negação veemente. Assinalam que isso seria vergonhoso e que Alexandrina, não seria mulher disso. Devemos ressaltar que estamos falando de mais de 70 anos para trás.
Mas, como diz o ditado filho de peixe, peixinho é, minha mãe, Leny, tem uma história mais cabeluda, ainda. Passei muitos anos da minha vida achando que o verde era vermelho e vice-versa, bem… temos alguns exemplares, hoje, na nossa pátria, que justificam esse exemplo, mas não quero falar de política, apesar, de, nosso verde oliva de azeitona, virou melancia. Prosseguindo, nessa saga de guerreiras de saias, eu citava minha progenitora, completamente, adiante do seu tempo e da moral e costumes de sua época. Ainda bem, que ela não viveu o politicamente correto que nos estrangula nesse novo mundo em que vivemos, caso contrário, estaria enforcada em praça pública, por óbvio, por ser uma conservadora contraditória ao extremo.
Tenho irmãos que não eram irmãos, mas, deixaram de ser tios para serem, o que genuinamente, eram, irmãos de fato.
Não entrarei em certos detalhes para preservar memórias e para aguçar o instinto e a intuição dos que se propuserem chegar até aqui nessa leitura.
Anos depois, de uma vida marcada por encontros e desencontros, ela veio a conhecer meu futuro pai, um prospero italiano que caiu de paixão por toda a sua exuberância estética e, juntos, contrariando as formalidades legais e de ordem, também, natural, deram a luz a quem os escreve, juntamente, a uma menina, minha irmã.
Não só, vim descobrir que alguns tios não eram tios e, sim, irmãos, como soube, que eu era irmão de outros gajos que jamais viria a conhece-los pessoalmente, apesar dos amigos em comum e das várias tentativas feitas. Algo meio shakespeariano misturado ao mundo rodriguiano cercavam tanto mistério e suspense, segredos, que tentaram guardar a sete chaves e, no momento, muitos outros, poderão ficar guardados a sete palmos abaixo da terra.
Percebem a importância do testemunho da Tia Anita?
Se dão conta que se vivêssemos esses causos nos dias de hoje, correríamos o risco de ir parar no Supremo e sermos processados pelo vampiro comedor de fetos, acusados de faiquineils?
Não quero falar de política, vamos seguir as pistas. Então, Dona Perçy, não pode sair de cena sem revelar os segredos de Fátima ou de Leny, Geny e Alexandrina, entre muitos outros que provavelmente, surgirão.
Aliás, ela me revelou a um tempo atrás, que durante a onda de tifo que assolou o Brasil, as pessoas, com mais sorte, se curavam com quinino, uma substância muito familiar ao remédio do Bolsonaro, aquele comprimido que muitos demonizam mas, quando a vaca tusse, eles correm atrás. Mas, não vamos falar de política e muito menos do vírus chinês. Mas quero deixar uma homenagem a uma ex tia e atual irmã, que na minha infância, me fez comer, como castigo por meu apetite insaciável, uma panela cheia de arroz branco:
Desde muito tempo, só como arroz integral e meu amor pela comida natural me salvou, ao menos até os dias de hoje, de doenças e medicamentos, menos, da curiosidade de saber detalhes e revelar mistérios de mãe e filha, Alexandrina e Leny, que em questão de segredos, estão tão guardados como os inquéritos em que o Sinistro Supremo de Moraes, acusa os jornalistas e apoiadores do conservadorismo no Brasil…mas eu não vou falar de política, mesmo.
Ah! Ia esquecendo, Tia Anita saiu do hospital nesse fim de semana e já está no seu casulo, lúcida e apta a ser interrogada, assim como, a Damares.
Paisagista bailarino e amante da natureza. Carioca da gema, botafoguense antes do Big Bang.