7 de maio de 2024
Veículos

VW Polo Highline 2023: menos é mais?

Por um período de 20 dias, pude usar o VW Polo Highline 2023 – que acaba de passar por uma série de modificações para ganhar competitividade no disputado segmento dos hatches compactos Nesse período, rodei com ele nas condições mais variadas que você possa imaginar, rodando pelas ruas e avenidas do Rio; por estradas diversas, com serras para subir e descer e até por caminhos, digamos rústicos, com piso de terra. No total, foram pouco mais de 750 km, suficientes para fazer uma avaliação bem completa do carro. É disso que trato neste post.

História antiga

Eu e o VW Polo somos velhos conhecidos, bem íntimos até. Desde que foi lançado aqui no Brasil, em 2002, já como modelo 2003, esse compacto passou por minha garagem diversas vezes – sendo que, por um bom período, chegou a morar nela. Daí que avaliar a sua versão mais recente fez com que eu sentisse um misto de curiosidade com, digamos, receio de ficar decepcionado. É, esse negócio de misturar relações profissionais com pessoais pode ser complicado, mesmo.

Esta atual geração do Polo nacional é a segunda, lançada em 2017 (a sexta do modelo, na Alemanha, onde surgiu em 1974) e que, desde então, recebeu alguns retoques e alterações. Os mais recentes foram feitos justamente no modelo 2023, provocados em boa parte pela aposentadoria do irmão mais simples – e campeão absoluto de vendas – Gol. Com ela, cabe agora ao Polo, mais moderno e sofisticado, cobrir também a parte digamos, inferior da tabela. Tanto que, para isso, a VW até criou uma versão mais simples e barata dele, a Track, prometida para chegar às lojas nas próximas semanas. Ela deve vir apenas com um motor 1.0 aspirado de três cilindros e até 84 cv, igual ao que equipava o próprio Gol em sua última fase.

E, para que possa também preencher de forma mais competitiva uma faixa um pouco mais cara, a Volks promoveu uma espécie de enxugamento, colocando o Polo em um, digamos, spa técnico-financeiro. Um tratamento que, além de buscar reduzir custos, mirou também na diminuição do consumo de combustível.

Daí que o Polo Highline, a segunda opção mais sofisticada do modelo e que testei sofreu algumas perdas em relação a sua versão 2022, como os freios a disco nas rodas de trás (agora são a tambor), as rodas de 17 polegadas (agora são de 16) e os faróis de neblina sumiram. No geral, porém, o padrão do carro se manteve, e é bom.

A principal mudança nesse Highline, mesmo, foi no motor: antes, o 1.0 turbo de três cilindros flex gerava até 128 cv de potência e 20,4 kgfm de torque – valor este que justificava o “200 TSI” que o carro trazia estampado na traseira. Agora, ele vem com uma outra versão do propulsor, a que era usada no saudoso UP!, com até 116 cv e 16,8 kgfm e que é denominada 170 TSI, informação não mais colocada na tampa traseira.

Uma alteração algo ousada e até arriscada, pois, o mais habitual é colocar mais desempenho nos novos carros, não menos. Mas a ideia, como comentei mais acima, é diminuir o consumo do Polo, algo que o deixava em ligeira desvantagem em relação a concorrentes mais diretos, como os campeões de venda Chevrolet Onix e Hyundai HB20 equipados com motores semelhantes. E, antecipo aqui, a mudança deu certo e o carrinho agora gasta menos no posto.

Eu disse acima que a Highline é a segunda versão mais sofisticada do Polo, pois a primeira é a esportiva GTS, recentemente relançada e que aparentemente foi poupada de dietas e renúncias. Ela traz o motor 1.4 turbo de quatro cilindros, 150 cv e 25,5 kgfm, o 250 TSI, e mantém todo o resto.

Em uso

Mas voltemos ao Highline das fotos. Em termos estéticos, por fora, ele tem como maiores novidades a dianteira ligeiramente modificada – e praticamente igual à de sua versão alemã –, com faróis e assinatura (DLR) em full-LED. E ganhou também rodas (menores, como comentei acima) com um novo desenho e lanternas traseiras escurecidas.

Por dentro, a impressão é ótima, com couro escuro e padrão bacana vestindo os (bons) bancos, painéis que passam uma boa sensação e alternam padrões interessantes a despeito de suas partes montadas com plástico duro (igualzinho a das versões mais baratas). A forração é caprichada, incluindo seções acolchoadas nos forros das portas, na região de maçanetas e apoios. O estilo é bem alemão, simples, sem grandes fru-frus, mas de bom gosto.

O painel de instrumentos é todo digital e configurável, podendo exibir as informações básicas – como velocidade e conta-giros – de diferentes formas e, também, combinadas a outras tantas, que você pode selecionar e alternar por comandos no volante multifuncional. Esse painel se integra visualmente à central de multimídia, que é embutida no tablier, em estilo mais comportado, mas bem agradável. Todos os botões ali, assim como nos comandos do ar condicionado, mais abaixo, são do tipo “touch”, sensível ao toque apenas. É bacana, mas às vezes exigem alguma insistência (especialmente quando ficam mais engordurados).

De um modo geral, todos os botões, comandos e recursos estão onde deveriam estar, são fáceis de se alcançar, entender e usar. Tenho 1,87 m de altura e sou pernudo, mas consegui ajustar banco, volante e espelhos para mim com muita facilidade – embora não tenha sobrado lá muito espaço para as pernas do passageiro que viajasse atrás de mim. Nesta versão mais cara, a partida é por botão, com chave presencial, e há carregador sem fio para celular – que, aliás, pode ser conectado à multimídia pelos sistemas Apple e Android.

Em marcha

Guiando o Polo na cidade, com toda sinceridade (e uma pequena rima) não percebi grandes diferenças em termos de desempenho. O carro continua ágil, silencioso e bem confortável, mesmo sem ser tão macio assim. O câmbio automático de seis marchas contribui bastante para essa eficiência discreta, fazendo as trocas com ligeireza suficiente e aproveitando bem o torque do motor turbinado em giros baixos. Graças a essa parceria bem azeitada e sem que eu me preocupasse muito com isso, segundo o computador de bordo obtive uma boa média de cerca de 12 km/litro de gasolina no ciclo urbano, incluindo vias expressas e também ruas com trânsito mais pesado.

Já nos trechos de rodovias, com o bom porta-malas com 300 litros de capacidade bem cheio e mais uma pessoa a bordo e incluindo subidas e descidas de serra, cheguei a registrar pouco mais de 18 km/litro com a mesma gasolina, bem mais do que o Polo fazia em suas configurações anteriores. Ali, no entanto, deu para perceber a diferença para menos na performance do motor, mesmo com a tecla “sport”, que estica um pouco as marchas, acionada. Nada que tenha deixado o carro “manco”, mas a diminuição de força fica clara, especialmente nas retomadas de velocidade, um tanto menos vigorosas do que antes.

O fôlego no entanto foi mais que suficiente para levar o carrinho bem pelos mais diversos tipos de piso, do asfalto perfeito e ensolarado sob o céu azul ao barro salpicado de pedriscos sob chuva torrencial. No final das contas, ter trocado as rodas para o aro 16 e os pneus para um perfil um pouco mais alto – 195/55 R16 – tornou o carro mais confortável e prático que com as antigos aro de 17”, sem perda expressiva de estabilidade. Sempre na mão, com bom comportamento mesmo em curvas mais fechadas (dentro dos limites do bom senso, claro) e freando bem – pelo menos no meu uso, não senti diferença pela falta dos discos traseiros –, o Polo mostra boa rigidez de construção e um ótimo acerto de suspensão.

Por último, dois pontos que me aborreceram um pouco. Falei mais acima sobre o bom porta-malas do carro, mas para poder abri-lo, é preciso usar o controle remoto, por um botão na chave, ou um comando não muito óbvio em uma das telas interativas na multimídia. Um bom e velho botão, instalado sob a tampa traseira ajudaria muito. Além disso, senti falta de pelo menos um porta USB em formato, digamos, mais tradicional (há apenas duas mini-USB, no console). Por mais que “ninguém mais hoje use pendrives”, boa parte dos cabos de recarga e conexão de celular têm esse padrão e nem todos os celulares podem ser recarregados sem fio.

Minhas conclusões

A despeito das perdas de alguns recursos e da diminuição de seu desempenho, o Polo e, particularmente, esta sua opção Highline continua oferecendo um bom pacote, tanto em termos de conforto, praticidade e acabamento, quanto de performance, segurança e, vale ressaltar, prazer de dirigir. A gente costumava dizer que o Polo era uma espécie de versão encolhida de seu irmão maior, o hatch médio Golf – que “morreu” aqui no Brasil, mas segue sendo produzido na Alemanha e que é uma (boa) referência em seu segmento. Pelo que pude avaliar neste teste, mesmo depois dessa passagem pelo spa, ele continua sendo.

Fonte: Rebimboca Comunicação

Henrique Koifman

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *