Que tragédia a vida pública no Rio. Mais um governador afastado, Wilson Witzel. E quase toda a linha de sucessão abalada, pois tanto o vice-governador como o presidente da Assembleia receberam a visita da polícia.
Aparentemente, Witzel copiou os métodos de Cabral usando o escritório de advocacia da mulher para celebrar falsos contratos.
Mas a soma da propina que teria recebido até agora não chega aos pés de Cabral: é inferior ao preço de um dos anéis de Adriana Ancelmo.
Li a denúncia dos promotores e parece fundamentada, pelo menos no caso da relação com duas empresas de saúde do empresário Gothardo Neto, de Volta Redonda.
Li também a delação do ex-secretário de Saúde, mostrando como estava mapeada a influência no governo em torno de três grupos. Um deles, era do empresário Mário Peixoto que destinou dinheiro ao escritório da mulher de Witzel, Helena.
Segundo, o delator, Peixoto dominava basicamente as áreas de educação, ciência e tecnologia. Seu homem de contato era o Secretário Lucas Tristão.
Outra área de influência era do Pastor Everaldo, o mesmo que batizou Bolsonaro no Rio Jordão. O pastor dominava a Cedae, o Detran e a Saúde. Finalmente, atuava como freelancer o empresário José Carlos de Melo que dizia ter influência sobre 12 deputados. Fazia negócios e recebia comissões.
Na verdade ainda era um esquema incipiente que foi propulsionado pela pandemia. Segundo a PGR a ideia era faturar R$400 milhões em quatro anos de mandato.
A PGR em Brasília, sobretudo Augusto Aras e sua assistente Lindôra Maria Araújo parecem ser francamente simpáticos ao governo Bolsonaro, portanto adversários de Witzel.
As consequências políticas são favoráveis à família Bolsonaro que pretende, através do vice Cláudio Castro, nomear o procurador geral do Rio e estancar as investigações contra Flávio Bolsonaro. O problema é que o tema já avançou muito e haverá grandes ruídos .
Finalmente, o processo de impeachment que foi artificialmente bloqueado por Tofolli poderá prosseguir, por decisão de Alexandre de Moraes.
Sempre afirmei que a decisão de Tofolli era equivocada. Ele queria que a Assembléia usasse o mesmo princípio de proporcionalidade no impeachment de Dilma. Acontece que a Asssembléia optou por outro princípio igualmente democrático e consensual. Por que interferir?
Espero que tenhamos um fim de semana de sol. É quase tudo que nos resta. Não consigo esquecer a imagem de uma criança cantando enquanto do outro lado do vidro passam homens fortemente armados. A mãe, preocupada, pede silêncio à criança. É a imagem símbolo do Rio de agora. Insegurança nas ruas, corrupção nos palácios.
Fonte: Blog do Gabeira