Os 1400 brigadistas do Ibama voltaram ao front das queimadas. Isso para mim é uma notícia importante.
Os jornais falam muito de uma briga no governo. De um lado, o Ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente; de outro, o General Luis Eduardo Ramos.
Salles disse que Ramos fazia o papel de Maria Fofoca, um comentário machista mas algo frequente num governo maluco como esse.
A família Bolsonaro tomou o lado de Salles. Rodrigo Maia, Alcolumbre e alguns deputados e senadores defenderam o general Ramos.
Dizem que o governo vive uma nova fase da luta entre os ideológicos e o núcleo militar.
Não há entretanto nenhuma substância política na briga, pelo menos pelo que leio. É uma pura disputa por espaço.
Para mim o enredo desse drama é muito distante, não vejo por onde anda o interesse público, que tipo de ideias realmente estão em confronto, se há ideias, no sentido mais amplo, em confronto.
Para mim é como se dois diretores de uma empresa estivessem em luta, o Salles do almoxarifado e o Ramos do serviço de entregas. Não me toca.
Josias de Souza escreveu que virou moda humilhar generais no governo Bolsonaro. Pazuello foi desautorizado por Bolsonaro e saiu-se com a frase: um manda, o outro obedece.
Num dos comentários de tevê, cheguei a mencionar um sentimento elementar de honra que deveria estar presente nos generais do Exército Brasileiro.
Com esse mergulho no mundo político passaram a ter um comportamento também de políticos convencionais.
O general Heleno que dirige o gabinete institucional da presidência parece ter acionado a ABIN para deter o processo contra Flávio Bolsonaro. O aparato de inteligência da república, pago com dinheiro público, é mobilizado para evitar que o filho do presidente responda pelas acusações de rachadinhas.
Uma deturpação tão vulgar do trabalho de inteligência não aconteceu em outros governos.
As Forças Armadas talvez não estejam se dando conta de que como isto as desgasta e como o seu desgaste enfraquece uma política de defesa nacional.
A gente vai tocando. Vamos ver como Ramos e Salles resolvem sua luta interna nessa confusão sem respeito mútuo que é o governo Bolsonaro.
Pelo menos existem horas vagas, em que posso me distanciar disso tudo. Assisti na madrugada um belo filme sobre o pintor inglês Francis Bacon, que conhecia apenas através de algumas entrevistas.
Ao amanhecer, vi no New York Times uma canção dedicada aos indecisos na campanha americana e inspirado no debate Trump-Biden. É de Joseph Gordon Levitt e os Gregory Brothers. Muito engraçado porque usa a fala dos dois candidatos.
Li também a resenha do mais recente filme de Borat. Tem uma cena que parece comprometedora para Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York, amigo de Trump.
Todos os momentos em que escapo para a cultura ou o humor acabam me dando energia para seguir.
Na série em que entrevisto cariocas sobre o destino do Rio, o Globo publica amanhã o diálogo com Celso Ataide, sobre as favelas. Se houver tempo, dê uma olhada.
Fonte: Blog do Gabeira