16 de fevereiro de 2025
Carlos Eduardo Leão

Réveillon – O Dia Internacional da Autoenganação Coletiva

“Réveillon, desengano. Esse momento me deixou sonhando”

Que me perdoem a tradição e os tradicionalistas, mas o Réveillon é uma das comemorações mais chatas e cafonas dos humanos. Dos humanos brasileiros então, nem se fala!

E aí, a gente chega numa fase da vida que nos é permitido pensar alto, falar, escrever e, principalmente, compartilhar sensações e sentimentos de uma existência inteira sobre esses costumes e heranças que se arrastam por décadas.

Réveillon está totalmente démodé. É muita breguice, idiotice e tantos outros “ices” da vida que vêm atravessando gerações e se imortalizando com o mais importante dos “ices, a chatice.

Réveillon é aquele momento mágico em que vestimos branco porque, claro, a paz no Brasil começa pela roupa, ou qualquer outra cor determinada pela numerologia de Instagram. Um must!

Comemos arroz de lentilha que tem gosto de meia-noite e pulamos, olimpicamente, as sete ondinhas decididos a uma mudança radical no novo ano. Esse “tudo vai mudar” dentro da famosa máxima “novo ano, novo eu” perdura em média até meados de janeiro, se tanto!

As festas, os ritos, os fogos, as comidas, a parentada, os abraços, os votos, as brigas, as crenças, os shows, as oferendas! Quanta cafonice, meu Deus!!

Perdoe-nos, ó Senhor! Ao invés de tirarmos o último dia do ano para reflexões mais intimistas, um momento a sós, com nós mesmos em prol de crescimentos pessoais e espirituais, sempre juntos com quem amamos, lá estamos nós aceitando convites para comemorações familiares, estas mesmas que, na sua maioria, alteiam-se à culminância da chatice. Com exceções, claro!

Há sempre aquele cunhado chato, o irmão petista, a prima esnobe, crianças mal-educadas, os papos enxuga gelo, o cachorro histérico, o gato suspeito e a empregada emburrada. Uma bênção!

E a hora dos abraços? É tanta hipocrisia que saímos abraçando pessoas que nunca nos deram um bom dia ou mal conhecemos. E abraçar aquele primo “canhoto” que lhe deseja muito trabalho em 2025? Isso exige um banho de descarrego!

E por falar em descarrego, nem os despachos nas areias das praias estão livres de assaltos aos seus famosos frangos de macumba. E, dependendo do tipo de oferenda, nem Iemanjá passa incólume pelos gatunos.

Assistir 20 minutos de fogos de artifício é um sacrifício sobre-humano. Pra que tanto? Sem esquecer que os milhões gastos para essa explosão dos céus ultrapassam orçamentos de muito municípios e servem apenas pra galera gritar “que lindo” e pra Vic e Bartô, meus adoráveis cãezinhos, esconderem-se debaixo da cama em profunda crise existencial.

A contagem regressiva não pode faltar, claro! Três, dois, um e o champanhe, ou espumante ou a sidra, dependendo da classe social, explode em sete cores revelando então as sete mil chatices que eu guardei somente pra contar neste texto.

Por algum motivo, acreditarmos que aquele minuto que separa 2024 de 2025 tem o mágico poder de transformar nossas vidas. Todo mundo vira coach de si mesmo.

Vou ser mais zen, vou economizar dinheiro e vou focar em mim são os juramentos “da hora”. O “vou emagrecer” é a queridinha das promessas mas não resiste ao primeiro e cafoníssimo “vamo queimar uma carninha” e comer pão com alho como se fosse personagem da “Última Ceia” de Leonardo.

O mais irônico, porém, é que passamos muito tempo planejando o Réveillon, mas esquecemos que, ao fim e ao cabo, o ano muda mas os boletos continuam chegando, o presidente é o mesmo e o trânsito volta já no dia 2.

Feliz Ano Novo! E boa sorte tentando cumprir suas metas até, pelo menos, o Carnaval.

Carlos Eduardo Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *