28 de março de 2024
Adriano de Aquino

Saliva Ácida

Meu prazo de validação das promessas do novo governo começará a contar a partir de primeiro de janeiro de 2019.
Pautei minha agenda crítica para avaliar fatos concretos a partir de posse do novo governo.
Deixei de lado o sentimentalismo dos que são contra e a favor e, sobretudo, dos que torcem para tudo dar errado e eles vençam como os certos, os sábios, os previdentes. Já vi governos saírem vitoriosos antes da posse. Depois, em curto espaço de tempo, os vi derrotarem as esperanças dos eleitores e chafurdarem o país na incompetência, na corrupção, no desemprego e na violência.
Porém, o tema da carência secular de água no Nordeste me levou a atropelar meu pacto de só opinar sobre o que virá, quando vier acontecer de fato.
Os previdentes (gênios que amam antecipar a decepção dos outros) sapecaram tanta estupidez sobre os processos de dessalinização da água do mar que antecipei a postagem de algumas considerações sobre a recorrente tragédia da seca nordestina.

Todos os projetos que visem minorar o problema são bem-vindos. Entretanto, a escala de cada uma dessas iniciativas deve ser analisada distante das paixões pelos governantes. A seca pode ser combatida de diversas formas, em escala familiar ou comunitária. Mas, o crescimento populacional e as demandas urgentes só permitirão o desenvolvimento social das áreas atingidas pela seca com água abundante e barata.

É confortante saber que existem estudos, pesquisas e projetos em escala variada, desenvolvidos no país para atender esse cataclismo. Mas, a vida não pode esperar que eles venham a resolver urgentemente o problema daqueles que veem o gado morrer de inanição e a miséria se perpetuar.
Fiquei particularmente surpreso quando em julho deste ano soube que a prefeitura da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) estava preparando um edital para uma grande usina de dessalinização. A escala industrial do empreendimento é, no meu entender, uma forma objetiva de enfrentar o problema em toda sua grandeza. Com investimento, previsto da ordem de R$ 500 milhões, 12 empresas demonstraram interesse na proposta. Segundo o presidente da Cagece, empresas de Israel, Coreia do Sul, Espanha, França, Alemanha, Itália e Estados Unidos, entre outros países, já procuraram a companhia para saber mais detalhes do processo que está sendo desenvolvido pelo Estado do Ceará.

Se o novo governo adotar a mesma linha de combate à seca, pode-se prever resultados animadores, tanto para os moradores da região como para o país.
O que me soa ridículo frente à gravidade do problema da seca são os panfletos partidários dos ‘sedentos’ opositores do governo que tomará posse em janeiro. A campanha já vai longe. Mas eles insistem em despejar areia quente no solo escaldante dos debates políticos. Coisa típica de quem enche a boca de saliva ácida e acha que pode abastecer o Nordeste com ela.
Uma usina de dessalinização, em escala industrial, é mais importante para a região que os projetos das refinarias de petróleo que custaram bilhões e nunca saíram do papel.
Aliás, viraram pó que se juntou a poeira da seca nordestina.
Se o próximo governo partir seriamente para enfrentar um problema que há séculos penaliza o povo da região terá meu aplauso.
Se for apenas mais uma bazófia, vou cair de pau!

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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