Douglas Murray, escritor britânico, ativista irredutível da liberdade de expressão que, no sentido literal, significa aquele que não pode ser reduzido, simplificado ou decomposto, é considerado um dos mais importantes intelectuais públicos da atualidade.
Com a sedimentação da militância progressista na esfera cultural, hoje revestida de poder público e estendida nas investidas supostamente autônomas dos movimentos identitários(woke) assim como setores das artes, das academias e da grande mídia que, em bloco, relativizam a censura para camuflar o ignóbil apoio às ações coercitivas e severas punições aos críticos do regime.
Ao longo do percurso autoritário, que situo geograficamente em algumas nações do ocidente e, no plano temporal, aos últimos cinco anos, os livres pensadores, que não se submetem ao verticalismo autoritário, se viram rotulados e autuados como elementos nocivos, nefastos e perigosos ao simulacro de democracia que hoje se alastra em algumas nações dessa banda do planeta.
Há tempos, os livres pensadores vêm sendo alvo de escaramuças por parte dos peões da nova ordem e seus seguidores.
Escaramuças- ações coletivas intelectualmente insignificantes- são taticamente importantes para personalidades da cultura que evitam empreender um ataque pessoal ao livre pensamento mas, camuflados no grupo, fomentam a caça a todo indivíduo intransigente, que se opõe frontalmente aos ataques à liberdade de expressão.
Douglas Murray, é um alvo desses grupos.
É claro que, para algumas personalidades da cultura, é desconfortável e vergonhoso para seu currículo, assumir publicamente a posição de liderança na campanha de ‘eliminação ou extirpação’ dos livres pensadores.
Mas, se o grupo com o qual se identifica, promove o cancelamento (palavra mais palatável para a coerção) assume esse papel, essas personalidades entram em modo silencioso que, na verdade, nada mais é que conivência.
As escaramuças contra Murray, que já aconteciam por seu posicionamento como intelectual conservador, tiveram maior visibilidade pública após a publicação do seu livro “A guerra contra o Ocidente” e se tornaram mais ostensivas quando os progressistas britânicos apertaram o cerco e, em reprimenda às suas palestras, lograram êxito em rotulá-lo como “extrema direita” e a imprensa inglesa adotou o rótulo nas suas publicações.
A coisa ganhou tal proporção que hoje pesa sobre sua cabeça uma sentença judicial à revelia, comemorada pelos progressistas como perspectiva de prisão.
Todavia, como era de se esperar, um intelectual ético e comprometido com a liberdade é sustentado pela consistência das suas ideias e motivado pela bravura na luta contra a opressão.
E, o mais bonito nessa luta, é vermos publicações que acolhem o livre pensar e a opinião bem abalizada.
Hoje, The Free Press, dedica espaço para mais um artigo do Murray do bloco de postagens intitulado “Things Worth Remembering”, no qual ele apresenta notáveis discursos de grandes pensadores.
O personagem de hoje é Roger Scruton, um intelectual conservador de grande projeção mundial e um orador brilhante que esmiuçou em profundidade o passo a passo do que veio se tornar a mais insidiosa crise do Ocidente.
Murray abre assim seu artigo.
“Um aspecto da oratória que ainda não abordei nesta série é o mais comum: a arte da conversação.
Cada um tem seu próprio critério sobre o que torna uma boa conversa. A sagacidade é importante, obviamente. Um prazer em alguma fofoca superior ou inferior é uma preferência pessoal minha. A capacidade de ouvir, bem como falar, claramente; ser capaz de receber e não apenas transmitir.
Mas se eu tivesse que identificar uma coisa que torna uma conversa artística, seria a capacidade de brincar graciosamente com ideias.
Há um lugar para discordância apaixonada, é claro, embora eu tenda a pensar que deveria ser reservado para fóruns públicos. Acho um pouco desagradável quando alguém se joga de cabeça na mesa de jantar, embora em tais ocasiões, como meus amigos provavelmente atestariam, eu seja capaz de colocar minha armadura de volta e me preparar para uma luta…”
No meu caso pessoal, quando percebo investidas autoritárias escamoteadas, que visam relativizar os malefícios da censura com justificativas que acatam o arbítrio e a intolerância, sob o falso pretexto legal de proteger a democracia e conter excessos, a arte da conversa transpõe as fronteiras da razão e o orador, empenhado na defesa da liberdade de expressão, se torna alvo dos manipukafores da opinião pública.
Em algumas ocasiões,eu não resisto. Ajusto meu colete à prova de convicções teóricas (armadura) sobre democracia relativa, e me lanço de cabeça no combate.
Coisa feia, admito!
Mas, muito útil para a defesa de valores e princípios inegociáveis, não apenas para si enquanto pessoa, mas para toda sociedade.
Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial “Em Busca da Essência” Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.