26 de abril de 2024
Walter Navarro

Vai trabalhar (mais) vagabundo!

penetrar
Vocês já repararam na inocência cruel das criancinhas com seus comentários desconcertantes? Elas adivinham tudo e sabem que a vida é bela, com seus olhinhos infantis, como os olhos de um bandido. Grande Cazuza!
Como Malvina Cruela exercendo a máxima de uma maldade por dia, ou três: “A Amazônia está acabando! Dane-se, eu não moro lá…”. “O problema dos cegos é que eles atravessam as ruas sem olhar pros lados…”. Ou “E estes aposentados vagabundos que querem receber sem trabalhar?”.
Então, já que não sou ministro do STF, juro! Não me chamo João, Renan, Lula, nem sequer nasci em Niterói; juro, prometo! Já que sabia de nada, sei nada e fui traído por aloprados. Jaques tô Wagner surpreso, indignado, estarrecido, perplexo; não conheço e nunca tive contato ou ouvi falar de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa.
Já que nego veementemente; que nunca fui beneficiário de nada e repudio a inclusão de meu nome até em lista se supermercado. Já que todas as minhas doações recebidas foram legais e aprovadas pelo TSE, TCU e ENEM. Já que todas minhas relações foram públicas, republicanas e institucionais. Já que minha atuação político/parlamentar é pautada pela honestidade, seriedade e responsabilidade.
Já que vou provar minha inocência, que não existe nenhuma prova contra mim e as acusações são inconsistentes. Já que minha estranheza vem do fato de que todas as doações que o partido recebeu foram feitas na forma da lei e declaradas à Justiça. Já que os fatos apontados jamais ocorreram pessoalmente nem em contato telefônico.
Finalmente, já que jamais mandei, credenciei ou autorizei intermediários no esquema criminoso ou qualquer outro, a falar em meu nome em qualquer lugar; vou falar de aposentadoria. Tá?
E já vou avisando que nunca tive carteira assinada, assassinada; nem nunca contribuí para a Previdência ou para a Odebrecht. Não que eu saiba! Aos 54 anos, e assim, sei que vou morrer trabalhando. Isso se tiver trabalho e saúde!
Então, já que não posso me aposentar com um salário de fome e medo, ninguém pode, tá?
Porque brasileiro é muito vagabundo. Tenho vários amigos que nunca trabalharam, tinham cabides de emprego. E o ócio deles tem nada de criativo, não viajam, ficam vendo TV ou, pelas praças da cidade, fugindo das futuras viúvas; enchendo o saco de quem passa, jogando conversa chata fora; passando tristes tardes de eternos domingos a bebericar um cafezinho, uma garrafinha de água mineral (sem gás) e um pão de queijo. Ficam como o ouro de tolo do Raul Seixas: com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar.
Brasileiro sonha com aposentadoria porque não gosta do que faz ou não gosta de trabalhar. Tanto que, muitos, podendo aposentar-se, exigem seus direitos, alegando cansaço da vida e logo depois voltam a trabalhar com a maior disposição e, claro, novo salário pra coleção de honorários.
Brasileiros aposentam-se no auge da força física e mental, aos 50 anos. Por dinheiro! É aí que começa a lama e o mar de incompetência, atraso de vida.
O mundo mudou! Até o Brasil mudou. Não somos mais um país de jovens, só de tolos. Nem assaz alhures e antanho, uma pessoa de 50 anos era um caco velho. Hoje, as mulheres mais apetitosas estão nesta faixa de idade. Mais suculentas é exagero, tão, tanto e quanto é melhor.
Não é só o Brasil. Nenhum país do mundo, nem os mais ricos, aguenta sustentar os novos velhos imortais. E no Brasil do Viagra, as ricas pensões e aposentadorias acabam repassadas às viúvas, mulheres jovens que vão usá-las até cansar de morrer. Assim não dá!
Aí vocês vão falar: “Pô…, mas logo na minha vez? Justos e pecadores?”.
Sim, meus caros. Pensem não no próximo, já que são incapazes. Pensem em seus filhos e vossos netos, OK?
O Brasil sempre esteve numa lama de doer, mas sem a reforma da Previdência, cabe mais, pode piorar.
Vamos trabalhar para construir um Brasil melhor, minha gente! Mesmo no ritmo alucinante do “Copacabana me engana que eu gosto”.
É sacanagem dizer que o trabalho liberta, mas é sempre bom lembrar Millôr: querer liberdade é coisa de escravos!
O negócio é trabalhar mais que remador de Ben Hur!
O negócio tem que ser da China, mesmo se for japonês de Pequim! Trabalhar como um mouro chinês, fumar como um turco escocês.
Brasil: mire-se no exemplo dos homens e mulheres de Atenas!
Como bem avisou nosso homem em Cuba, o americano tranquilo, o amigo chinês Kuing Yamang, que viveu em França que o diabo amassou: mirem-se no exemplo da Grécia e da eterna crise europeia que ainda contaminará boa parte do mundo.
A sociedade europeia está em vias de se auto destruir. Seu modelo social é muito exigente em meios financeiros, mas ao mesmo tempo, os europeus não querem trabalhar. Só três coisas interessam: lazer/entretenimento, ecologia e futebol na TV! Vivem, portanto, bem acima dos seus meios… Seus industriais vão pra China que pariu porque não suportam o custo de trabalho na Europa, seus impostos e taxas… Viu Brasil?
Seus governos sangram os contribuintes. A Europa detém o recorde mundial da pressão fiscal. É um verdadeiro inferno para quem cria riqueza. Viu Brasil?
Não compreenderam que não se produz riqueza dividindo e partilhando, mas sim trabalhando. E existe um outro cancro na Europa: existem funcionários demais, um emprego em cada cinco. Estes funcionários são sedentos de dinheiro público, são de uma grande ineficiência, querem trabalhar o menos possível e apesar das inúmeras vantagens e direitos sociais, estão muitas vezes em greve. Mas quem decide acha que vale mais um funcionário ineficaz do que um desempregado… Os europeus vão direto a um muro e em alta velocidade…
PS: Viu Brasil?

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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