5 de dezembro de 2024
Colunistas Walter Navarro

Um País de faz com Monstros e Livros


Ficam para uma próxima minhas divagações sobre a Espanha e a Catalunha; o País Basco, os reis e rainhas de França e de Navarra.
São histórias ricas e saborosas que, hoje, restam como pano de fundo, OK? Inclusive a origem do OK, também deveras interessante.
Na incontornável Netflix de minhas madrugadas, vi e revi os dois primeiros filmes adaptados da Trilogia Baztán, da escritora espanhola Dolores Redondo.
O primeiro é “O Guardião Invisível”, de 2017 e o segundo, “Legado nos Ossos”, de 2019. O terceiro, “Oferenda à Tempestade”, estreia amanhã, dia 23 de julho de Covid-20
Também não vou comentar a trama. Nem como telespectador, muito menos como crítico. Mas, até agora, valem as quatro horas em frente à TV.
O cenário e os personagens são do País Basco e de Navarra na fronteira da Espanha com a França, onde é Navarre.
E não escrevo isso porque sou Navarro. Mesmo porque, Navarro é quem vem de Navarra ou de Navarre, como o rei Henri III de Navarre/Navarra que virou o rei Henri IV da França, depois do conturbado casamento com a Rainha Margot e da carnificina do dia ou da noite de São Bartolomeu.
Mui provavelmente, antes de descendermos de nobres espanhóis ou franceses, os Navarro são cristãos novos. Judeus que, para escaparem das fogueiras da “Santa” Inquisição, fugiram da Europa para o Novo Mundo, onde adotaram os nomes de onde vieram: Navarro de Navarra ou de Navarre.
Como se não bastasse tanta História, a Europa tem muitas estórias, lendas, mitos, folclores.
Lendas, criaturas e monstros que também estão nos filmes da Trilogia Baztán.
No primeiro filme, “O Guardião Invisível” é o “Basajaún”, uma entidade protetora das matas – meio Caipora, meio Curupira – representada por um homem/mulher com o corpo coberto de pelos. Um Tony Ramos, uma feminista…
No segundo filme, “Legado nos Ossos”, temos o “Tartalo”, misto quente de demônio comedor de criancinhas (comunista) com um Ciclope gigante.
O terceiro monstro é como fiado, só amanhã.
“Basajaún” e “Tartalo” lembraram-me outras riquezas culturais da Europa, lendas ancestrais e atuais.
Por exemplo, na Escócia, temos, além dos castelos assombrados por fantasmas, o famoso Monstro do Lago Ness; criaturas que me visitam depois de uma garrafa de whisky.
Em Londres, Inglaterra, temos a lenda urbana de Jack O Estripador.
Na França, em Paris, “O Fantasma da Ópera” e “O Corcunda de Notre Dame”, que deve ter morrido no incêndio de 2019. No interior de uma floresta, os incautos também podem ser vítimas da “Besta de Gévaudan”, uma espécie de Lobisomem; agradável, faminta e sedenta mistura de lobo, hiena e urso.
Aliás, o próprio Lobisomem tem origem na mitologia grega, repleta de Minotauros, Centauros, Cérberos e quetais.
O sedutor vampiro, Conde Drácula, também é europeu, mais precisamente da Transilvânia, na Romênia. Já seu “pai” é irlandês, Bram Stoker… Não por acaso, a Irlanda tem sua mitologia celta povoada de monstros e bruxas.
O encantador Frankenstein foi criado, criado mesmo, na Alemanha, pela inglesa Mary Shelley. Frankenstein nasceu na Alemanha, mas foi inventado durante as “férias” de Mary, na Suíça. Outra linda e longa história.
Os Estados Unidos têm o Pé Grande e o Monstro da Lagoa Negra, o Egito tem a Múmia, o Japão tem Godzilla.
Cada país tem os monstros, criaturas e lendas que merece.
E o Brasil? Mito mesmo, só tem um, kkkkkkkkkkkk!
No Brasil, o personagem principal de “O Monstro do Pântano” é o brejo! Para onde vai a vaca louca… A Amazônia, em vez de aranhas, piranhas assassinas e Anaconda, tem tubarões, girafas, tigres e leões.
Aqui temos, como supracitado, o Curupira e o Caipora. E mais: a Iara, a Cuca e o Boto Cor de Rosa. Pantera que é bom, nada. Só Noite dos Leopardos! Gazelas!
O Brasil tem monstros de Monteiro Lobato. O Sítio do Pica Pau Amarelo é vermelho e fica em Atibaia.
Tem o Saci Pererê, que daqui a pouco será prova de racismo, já tendo batizado um satélite que explodiu com o foguete e o programa espacial brasileiros. Foguete que só serviu para piada e uma marchinha de Carnaval: “O Brasil vai lançar foguete, Cuba também vai lançar. Lança, Cuba lança, quero ver Cuba lançar”.
O Brasil, no lugar de um chique Drácula, da Romênia, tem o Chupa Cabra e a besta quadrada Dilma, da Bulgária!
Em vez de Hulk, Homem Aranha e Alien; tem Luciano Huck, “O Homem de Itu” e o ET de Varginha. Varginha!
O Brasil, enfim, presenteou o mundo com o Mala Sem Alça, a Mula Sem Cabeça e o Lula Sem Dedo. Sem dedo, mas com a mão boba mais esperta do mundo.
ps: melhor mudar o título desta crônica para “Um país de faz com Monstros e Netflix”.
Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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