18 de abril de 2024
Colunistas Walter Navarro

Moby Dick Vigarista & Muttley

Sozinho! Guardem bem este estado sólido, gasoso e, principalmente, líquido das coisas.

Meu toalete (banheiro) sofre reformas. Eu também. A diferença é que as minhas não vão resolver o estrago.

Na madrugada de sexta-feira, apaguei durante o segundo capítulo de uma singela série na Netflix, “Alba”: uma gostosa é drogada e estuprada pelos amigos do namorado (dela), numa praia espanhola. O namorado (dela), também drogado, teria participado da curra? Ainda não sei-o-o-o.

Deve ser horrível viver num país cheio de praias.

Sábado, lá pelas 8h da madrugada, acordei com o pedreiro Edvânio. Não em minha cama, graças a Deus, mas martelando azulejos e destroços da quase suíte, ao lado do meu quarto.

Pior que começar o dia assim, só se eu tivesse sonhado com a prática de um bom 69 com Dilma. 120 mil vezes pior seria com Lula, o ladrão que alguns pacóvios querem eleger pela terceira vez. 120 é a posição 69 com uma garrafa de “51” no cu.

O que um subido rapaz, como eu; faz, depois de acordar de uma suruba com o pedreiro, Dilma e Lula? Suicídio? Eutanásia? Claro! Mas preferi beber para esquecer.

Meus amigos Canalhas viajaram. Até me convidaram, mas “não frequento clubes que me aceitem como sócio. Esses são meus princípios, mas se vocês não gostam deles, tenho outros”.

Assim, lá fui eu para o bar “Paratodos”, aqui na esquina, sozinho! 15 minutos de caminhada. Não fui correndo porque a última vez que fiz isso foi em 1955, à tarde!

Normalmente, quando sozinho, fico entre brumas e Brahmas, ouvindo música no celular. Ouço também conversas chatas e o asfalto ruidoso porque sempre esqueço os fones de ouvido.

Fui de Benito di Paula a Portishead, pode? Yesssssssss!

Invariavelmente, quando só ou sozinho, sempre acabo e me acabo com, “Carta”, de Francis Hime/Ruy Guerra, para caprichar na tortura. Afinal, como diz meu dentista, “se não doer, não tem graça” ou “no pain, no pleasure”.

Quando estou irritantemente feliz, penso num 69 com Dilma ou num 120 com Lula, o ladrão que seus asseclas querem eleger pela terceira vez. “No pasarán!”.

A linda “Carta” é de fazer Buda cortar os pulsos com corda enferrujada: “Nunca estive tão sozinho nos caminhos da tristeza, nos campos de outra nobreza, nos lagos de tanto vinho. Nunca estive tão sofrido nos trilhos da solidão, nas carreiras da paixão, nas dentadas desse pão”.

Dentadas, se você ainda tem dentes, como diz meu outro Tiradentes.

Quando a gente se acha, se leva a sério, a vida como ela é te soca com luvas; não de pelica, mas de lona “Locomotiva” velha, recheada com pregos “Santa Cruz”.

E assim foi. Quando eu estava quase com pena de mim, à beira de verter lágrimas de Lacoste, a linda e fatal canção é interrompida por uma chamada de Belo Horizonte.

Era o abominável telemarketing do Hospital da Baleia! Pode? Ouiiiiiiiiiiiii.

Por que Baleia? Freud, Lacan, Jung e Google explicam: “O nome surgiu porque o hospital está inserido na Mata da Baleia. Esta, por sua vez, recebeu a denominação pelo fato de imagens aéreas sugerirem o formato da calda de uma baleia”. Entendi!

Vejam bem, até colaboro, ou já colaborei, com o Hospital da Baleia, mas poesia numa horta dessas?

Eu lá, na sofrência, sozinho! De frente para um pingo de Mata Atlântica, tomando uma gelada, com sol de inverno. Depois de “Retalhos de Cetim”, catando cacos de azulejo e de mim; lembrando de quando peguei a Sharon Stone, depois dela cruzar e descruzar as pernas. Aí vem a “menina do Baleia”, pedindo dinheiro? Às 15h12 da tarde? Se ainda fosse 15h13!

OK! Eu sei que uma doação para o Hospital da Baleia ajuda a abrir portas que beneficiam e priorizam as necessidades dos pacientes.

Estou ciente de que, a cada dia, novos desafios são descobertos e, com eles, a chance de salvar milhares de vidas. São centenas de pacientes que diariamente buscam tratamento para as mais variadas e complexas doenças. A minha generosidade é a chave que permite um atendimento qualificado e humanizado, oferecendo o suporte necessário para garantir a melhor chance de cura. Todos os dias é uma oportunidade para eu abrir essa porta e fazer a diferença.

Sim, todos os dias! Mas tinha que ser logo sábado, às 15h12? Misericórdia, piedade e clemência!

Saudade não tem idade, mas caridade tem hora.

De nada adiantou, Francis e Olivia Hime terminando: “Nunca estive tão cansado nas calmarias de um bar, nas paradas de um olhar, nas tatuagens de um fado. Nunca estive tão assim, tanta rama e tanta gana, tão maduro e tão sem cama, tão seguro e tão sem fim”. Fiquei tão sem mim.

PS: Como a ignóbil bandeira brasileira, o absurdo telemarketing deveria ser proibido no Brasil. Só deveriam ser permitidos na Ucrânia, mas nunca aos sábados. Segundas, terças, quartas, quintas, sextas e domingos também.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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