4 de maio de 2024
Vinhos

Vinhos com altas pontuações valem a pena?

Na recente viagem a Mendoza, foi possível constatar alguns fatos sobre a relação do consumidor brasileiro com o vinho.

Em linhas gerais, a nossa cultura sobre esta bebida ainda é incipiente, salvo em algumas regiões onde o vinho sempre foi parte do dia a dia. São poucos os cursos de formação de Enófilos, os mais comuns formam Sommeliers.

A mídia especializada ainda é pouca, duas publicações são marcantes, as revistas Adega e Gula. Há um bom guia de vinhos sul-americanos, o Descorchados e outro só dos nacionais, publicado pela Adega. O resto são colunistas nos principais jornais, uns bons e outros nem tanto.

Nas redes, há de tudo. É tanta informação ou desinformação que fica difícil separar o joio do trigo.

Um mecanismo bastante popular é se orientar pelas pontuações atribuídas, aos vinhos, por diferentes críticos. Esta peculiaridade ficou bastante evidente na viagem citada. Todas as vinícolas que eram constantemente premiadas estavam com suas agendas lotadas e os visitantes em busca daquele que seria o seu melhor vinho, nem sempre disponível para degustações.

São poucas garrafas e muito caras…

Já as vinícolas de pequeno porte, com vinhos requintadíssimos e difíceis de serem adquiridos nas lojas, estavam vazias, principalmente por serem quase desconhecidas do público em geral.

O marketing dos “100 pontos” é avassalador.

Avaliar um vinho não é tarefa fácil. Um crítico, para ser respeitado, precisa de muito conhecimento, paladar e olfato apuradíssimos, no mesmo nível de um perfumista e ser o mais isento possível.

Convenhamos, esta última qualidade é quase utópica. Robert Parker Jr. foi um que conseguiu deixar isto bem claro: sempre adquiriu as garrafas que iam ser degustadas, nada de aceitar remessas não solicitadas. Talvez tenha sido a chave do seu sucesso.

Ninguém o substituiu, ainda. Parker não era uma unanimidade. Seu estilo predileto de vinhos, era dirigido a um público muito específico, o consumidor norte americano. Gostava de vinhos intensos, encorpados e madeirados. Apelidaram, maldosamente, de “fruit bomb” (bomba frutada, em tradução livre).

Embora não tenha sido o inventor da escala de 100 pontos, foi quem a tonou popular. Existem outras, numéricas ou não, mas nenhuma representa melhor o ideal de um consumidor: 100 pontos é um senhor vinho!

Curiosamente, alguns aplicativos sobre vinhos, como o conhecido Vivino, estão, lentamente, mudando este quadro ao adotarem uma escala de 5 (cinco) pontos. Honestamente é mais simples e não é difícil fazer uma correlação entre as duas: 5 pts = 100 pts.

(Em passant, sempre lembro da apuração do desfile de escolas de samba aqui no Rio. De acordo com a regra vigente, a menor nota é 9 (nove) e a maior 10 (dez), valendo os décimos. Será que alguém já fez a correlação 9=0?)

Para compreender o que significa uma pontuação, não importando qual escala foi empregada, precisamos observar alguns fatores, o mais importante, é quem atribuiu a nota e qual o seu grau de comprometimento com o mercado de vinhos. Fica subentendido que os críticos locais são os que tem a maior chance de harmonizar com o nosso paladar.

Um segundo ponto, bastante interessante, mas quase sempre pouco divulgado, é como se subdivide uma escala e quais os parâmetros que são usados na hora de analisar.

Tomamos como exemplo a escala de 100 pontos.

Um crítico tem que analisar os seguintes aspectos:

– Cor, 15 pontos;

– Aroma, 25 pontos;

– Estrutura, 25 pontos;

– Qualidade como um todo, valendo 35 pontos (este item é muito subjetivo e o que agrega a maior pontuação).

Há também (como nas Escolas de Samba) limites para os menores valores, embora existam 100 pontos disponíveis:

– As melhores notas se situam entre 90 e 100 pontos;

– As notas médias estão entre 80 e 89 pontos;

– As notas aceitáveis ficam entre 70 e 79.

Fora deste escopo, notas não são mais atribuídas e nem os vinhos são recomendados.

Aqui vai o truque que ninguém explica: as diferenças são mínimas dentro destas faixas. Para o consumidor final, mesmo sendo alguém muito tarimbado, um vinho de 90 pontos é muito perto de outro com 100 pontos.

Tanto é verdade que se tornou comum classificar pela faixa de notas do que pela pontuação exata. Exemplo, “este é um vinho de mais de 90 pontos”.

Se a escala for outra, basta fazer uma correlação. Não importa se são os “bicchieri” (taças) do Gambero Rosso, as estrelinhas do Hugh Johnson ou outra simbologia, há muita qualidade nos vinhos que, por algum motivo, não obtiveram nota máxima.

Pensem nisto na próxima compra.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Imagem de Freepik

Tuty

Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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