20 de abril de 2024
Colunistas Sylvia Belinky

Somos todos iguais


Alguém pediu que eu colocasse no meu Facebook a foto de um tema que me representasse. Pensei bastante e cheguei à conclusão de que, atualmente, o que me representa é o vira-latas que adotei, Scooby, pelo qual me apaixonei perdidamente!!!
Eu teria que sair na foto com ele, e fiquei me preparando porque detesto tirar fotografia, pois é sempre aquela caca: o cachorro ficou lindo, mas eu saí de olho fechado; saí razoavelmente, mas o cachorro se mexeu – uma vez que não para, sofre de delírio ambulatório…
A sorte é que hoje você pode tirar 62 fotos e escolher uma só sem, na verdade, estar jogando nada fora, nem um rolo de filme! Esse é, sem dúvida, um comentário de alguém do século passado…
Além disso, tem o advento das “selfies” – fotos que você mesmo tira sem amolar ninguém embora eu não consiga: quando me acho, perco o cachorro e vice-versa!
Mas, descobri algo interessantíssimo que, certamente, vai causar “frisson” na plateia: eu usava cabelos claros, com reflexos, devendo ser a única mulher que, parando de pintar os cabelos depois dos 60, ficou com eles… escuros!! Pessoalmente, eu não gostei nada, mas … não deixa de ser uma novidade – mais barata com certeza!
Outro dia, ouvi no rádio uma brasileira contando sobre o distanciamento social na Suíça, onde ela mora. Na quarentena por lá, as farmácias só vendiam remédios, ainda que tivessem outras coisas para vender. Deu como exemplo, a tinta para cabelos de que precisava: teve que ir a várias até achar uma que, ou não levava a sério a quarentena ou o dono achava que tinta para cabelos era medicamento, o que é fato: muitas mulheres ficam “doentes” se os cabelos brancos aparecerem!
Bom, voltemos à minha foto que ainda não saiu. Fico pensando que talvez eu devesse ajudar um pouco a natureza, passar um rímel, um blush… Afinal das contas, e o meu “glamour”? Imediatamente, me veio à cabeça uma piadinha de quarentena, em que a criatura dizia: “Oba!! Hoje vou sair! É a minha vez de levar o lixo lá fora e estou tão emocionada… Nem sei que roupa vou usar!” E me senti igualmente ridícula com a ideia do rímel e do blush…
Acabei ficando com pena das influencers sem nada de novo pra mostrar, pra vestir, pra passar sabe-se lá onde… E pensei: o cabelo estará desgrenhado, já que não dá para ir ao cabeleireiro, nem pra comprar roupa nova e, se mostrarem alguma dentre as muitas que ganham, é possível que os “influenciados” encarem isso como… provocação!
Lembrei também das crianças prodígio de 7 anos – aparentando 14 – vestidas, pintadas e fazendo caras e bocas para sua plateia, em especial para papai e mamãe, que babam em cima da filhinha cuja conta bancária os sustenta…
Como será que estão se virando, presas dentro de casa como todos? Como lidar com esse narcisismo exacerbado que, como diz Caetano Veloso, “acha feio o que não é espelho”?
Essa é a primeira vez no mundo em que gente com muito ou pouco dinheiro, sendo muito ou pouco importante, famosa ou desconhecida, está, de fato, nesta mesma situação e igualmente ameaçada…
Tenho para mim que esse nivelamento vai mostrar que os que sempre são “mais iguais do que os outros”, quer gostem muito ou pouco, são mesmo (e só) iguais a todos…

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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