Estou morando num condomínio de 72 casas onde temos um número de WhatsApp que nos informa sobre fatos de interesse geral e, há uns três dias, soubemos que temos três casos de Covid.
Como somos “novos no pedaço”, dificilmente saberíamos disso por conta própria. Recomendam que só saiamos de máscara, que todas as crianças também devem usá-las, exceção feita àquelas menores de 3 anos.
Além de nos pedirem que não nos aglomeremos – algo típico das crianças que vivem aqui e que brincam muito juntas – disseram que, por lei, condomínios têm que avisar aos moradores se existe algo que possa causar algum problema de saúde ou que ameace a segurança.
Acredito que ninguém saiba quem pegou, quem está de quarentena, porque isso não foi divulgado e fico pensando: fazer as crianças manter segredo deva ser tarefa inglória…
Lembrei do tempo em que ter telefone era luxo para pouquíssimos e que, sempre que não se queria falar com alguém, se pedia a uma criança atender e a fala: “A mamãe mandou dizer que não está” era bastante frequente: segredos de Polichinelo…
Ao longo do tempo, vamos descobrindo coisas sobre nossos vizinhos por passarmos sempre diante de suas casas, passeando com o cachorro; a coleta do lixo, por aqui, acontece três dias por semana e, passando por suas casas todos os dias, acabamos por descobrir quem toma vinho, quem pede pizza ou esfiha, quem toma leite sem lactose, quem compra compulsivamente via internet, que ração seu cachorro come e, dada a excessiva proximidade das casas, quem consegue educar seus filhos, quem tenta e quem nem isso faz…
E, ao pensar no que passei a reparar depois que vim morar aqui, acabei me lembrando de vários filmes de suspense e de detetives que encontram pistas valiosas da autoria de vários crimes nas latas do lixo. Não há dúvida que são pistas reveladoras – ainda que não de bandidos exatamente!
E, corroborando mina assertiva com relação a segredos em condomínios, um guri de uns 10 anos que adora meu cachorro e jamais passa por ele sem “conversar” um pouco, encontra com meu marido em uma das saídas, faz festa para o cão e diz, a boca pequena: “Tio, você sabia que tem casos de Covid aqui no condomínio?!”
Agora é só aguardar pelo próximo encontro, isto é, se os pais dele forem bem informados, uma vez que eu, pelo menos, ainda não percebi indício algum no lixo descartado…
Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a “falarem a mesma língua”, traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma… Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar… De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena – só não tenho a menor contemplação com a burrice!