9 de outubro de 2024
Colunistas Sylvia Belinky

A visão do precipício

Estamos, para não variar, sendo feitos de trouxas e nosso presidente tem certeza absoluta de que o plano dele e dos seus filhinhos, como já tive oportunidade de dizer anteriormente neste mesmo espaço, criados à sua imagem e semelhança está dando 100% certo!

Tenho o prazer de contradizer esta crença e dizer, com toda a certeza, de que não está dando 100% certo: há alguns seres humanos que se recusam a se deixar “emburrecer” assim, embora isso não faça nenhuma diferença para ele!

Eu, como parte de uma minoria, se o atual presidente se reeleger, estarei entre os que devem ser exterminados, ou porque estou entre os que pensam, ou porque sou judia, ou pelas duas razões – já com os negros e mulatos, a coisa deverá ser um pouco mais complicada e levar mais tempo…

Finalmente, vou aproveitar este espaço e colocar um texto de Domenico de Masi, que eu adoraria ter escrito e que é a síntese do que penso e venho sentindo há tempos, ainda que este sentimento não tenha surgido agora, especificamente com o nosso atual presidente, mas com TODOS os políticos que nos governam, com o nosso voto e beneplácito.

E, mais uma vez, me curvo diante de um dos maiores sábios que este país produziu e que, há mais de 50 anos disse: “O brasileiro não sabe votar!” E como quiseram lhe arrancar a pele, ele achou que o melhor que faria era jogar futebol… (Para quem não se lembra ou não sabia, Edson Arantes do Nascimento, o “Rei Pelé”:
TRECHOS DA ENTREVISTA COM DOMENICO DE MASI. (retirei alguns trechos e os negritos são meus)

“Neste momento, vocês estão nas mãos de um ditador”, disse o sociólogo italiano Domenico De Masi, autor de O Ócio Criativo, argumentando que Mussolini, Hitler e Erdogan também foram eleitos”.

“Essa ditadura reduz a inteligência coletiva do Brasil. Durante esta pandemia, Bolsonaro se comportou como uma criança, de um jeito maluco. Ou seja, o ditador conseguiu impor um comportamento idiota em um país muito inteligente. Isso é o que fazem as ditaduras.

Este me parece um fato tão óbvio e, no entanto, às vezes nos passa desapercebido. Quando o país é comandado por pessoas tão tacanhas, a tendência é o rebaixamento geral do nível cognitivo de sua população.

É fácil entender o porquê. Sob Bolsonaro, Damaris, Araújo, Pazuello, Salles, Guedes e companhia, vemo-nos obrigados a retomar debates passados, alguns situados na Idade Média, ou no século XIX, como se fossem novidades.

Terraplanismo, resistência à vacinação e a medidas básicas de segurança sanitária, pautas morais entendidas como questões de Estado, descaso com o meio ambiente, tudo isso remete a um passado que considerávamos longínquo.

Quando entramos nesse tipo de debate entre nós, ou com as “autoridades”, é como se voltássemos da pós-graduação às primeiras letras do curso elementar. Somos forçados a recapitular consensos estabelecidos há décadas, como se nada tivéssemos aprendido.

É como forçar cientistas a provar de novo a esfericidade da Terras ou a demonstrar a eficácia da vacinação, ou defender, outra vez, a necessária separação entre Igreja e Estado, mais de 230 anos depois da Revolução Francesa.

É muita regressão e ela nos atinge. De repente, nos surpreendemos discutindo o óbvio, gastando temas com temas batidos e desperdiçando energia arrombando portas abertas séculos atrás na história da humanidade.
À parte da necessária luta política para nos livrarmos o quanto antes dessa gente, entendo que existe uma luta particular e que depende de cada um de nós: a luta para não emburrecer…

Manter a lucidez e a inteligência através da leitura de bons autores e da escrita. Manter viva a sensibilidade pela conversa com pessoas normais e pela boa música. Assistir a bons filmes para contrabalançar a barbárie proposta pela vida diária e pelas redes sociais.

Enfim, mantermo-nos íntegros e fortes para a reconstrução futura do país.

A cultura competitiva, que estabelece com critérios perniciosos, o que é ter sucesso, faz com que, quem entrar nesse jogo perverso, sinta-se, no final das contas, um perdedor”.

Maior tragédia ainda: seu contraponto em NADA, ABSOLUTAMENTE NADA, melhora nossas perspectivas, a não ser pelo fato de que sua presença desperta um ódio feroz e ele, desta feita, estará sob uma lupa sendo vigiado a cada passo ou tentativa de dá-lo, o que já é um alento para quem só pode escolher entre um psicopata demolidor e um ladrão descarado…

E viva o REI PELÉ!

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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