24 de abril de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

Já não se fazem generais cheios de brios como os de antigamente

À caça de votos para se eleger senador, Mourão jura apoio irrestrito à reeleição de Bolsonaro

Vice-presidente Hamilton se filiou ao Republicanos para disputar uma vaga no Senado Gustavo Zucchi/Metrópole

O primeiro general a pôr-se de joelhos diante do ex-capitão Jair Bolsonaro foi Luiz Eduardo Ramos, atual ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, antes ministro-chefe da Secretaria de Governo e ministro-chefe da Casa Civil.

O segundo general, Hamilton Mourão Filho, atual vice-presidente da República, é aspirante ao Senado pelo Rio Grande do Sul. Ali, em 2015, ele perdeu o Comando Militar do Sul por ter dito que o impeachment de Dilma era “o despertar para a luta patriótica”.

Há fotos de Ramos de joelhos. No caso de Mourão, seu ato de submissão ao ex-capitão afastado do Exército por má conduta foi sonoro, mas não menos humilhante. Ao se filiar ao partido Republicanos para ser candidato, ele disse ontem:

“O presidente Bolsonaro sabe que tem toda a minha lealdade e apoio irrestrito ao seu projeto de reeleição”.

Michel Temer queixava-se de ser um “vice-presidente decorativo” até que sucedeu Dilma. Mourão tem motivos de sobra para se queixar do tratamento que recebeu de Bolsonaro, mas não o faz. É o vice-presidente mais vilipendiado da história do Brasil.

Sobre Mourão nos últimos três anos, o mínimo que Bolsonaro falou em público foi:

“No meu caso, a escolha do vice foi feita meio a toque de caixa, mas o Mourão faz o seu trabalho, ele tem uma independência muito grande. Por vezes, atrapalha um pouco a gente, mas o vice é igual cunhado: você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado, não pode mandar o cunhado embora”. (26/7/2021)

No último dia 24, Bolsonaro chamou de “peruada” o fato de Mourão ter condenado a invasão russa da Ucrânia, e repreendeu-o de maneira áspera:

“Deixa eu dizer uma coisa: o artigo 84 da Constituição Federal é bem claro e diz que quem fala sobre esse assunto é o presidente. E quem é o presidente? Jair Messias Bolsonaro. E ponto final. Então, com todo o respeito a essa pessoa que falou isso, ele está falando algo que não deve, que não é de competência dela. Quem está falando está dando peruada naquilo que não lhe compete”.

Se os brios do general foram feridos, ninguém sabe. Mourão teria mais chances de se eleger se fosse candidato ao Senado pelo Rio, mas Bolsonaro manobrou e impediu. Enxotado para o Rio Grande do Sul, ele precisa da ajuda do chefe para se eleger. Daí…

Daí ter curvado a espinha como Ramos, que, sem Bolsonaro, estaria de pijama jogando dominó; ou como o general Braga Netto, de saída do Ministério da Defesa para ocupar a vaga de vice na chapa de Bolsonaro à reeleição. Ramos, Mourão, Braga…

O que os generais de antigamente diriam a respeito deles? A respeito de si mesmo, Mourão disse:

“Ainda não chegou o momento de encerrar minha participação na vida política no país. Cada século tem sua crise, e este século 21 não foge deste aforismo”.

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *