20 de abril de 2024
Ricardo Noblat

À espera de fatos novos

Presidente Michel Temer
(Foto: Marcos Corrêa / PR )

Por ora, não se espere de nenhum dos grandes partidos políticos a iniciativa de procurar o presidente Michel Temer para dizer que o abandonará, devolvendo em seguida os cargos que ocupa no governo. Nem o PSDB, nem o DEM, muito menos o PMDB o fará. O PDS também não.
O ministro Gilmar Mendes teve razão quando disse que a Justiça Eleitoral não será “joguete” da ninguém, e que os políticos devem resolver a crise criada por eles mesmos. É verdade que a crise foi criada por Temer ao receber a visita clandestina do dono do Grupo JBS e ser gravado por ele.
Mas, sim: desde que o teor nada republicano da conversa foi revelado, quatro pequenos partidos, donos de 63 cadeiras na Câmara dos Deputados, anunciaram sua passagem para a oposição. E dentro dos maiores partidos é rara a alma que acredita na permanência de Temer na presidência.
Temer está empenhado em ficar, e tudo fará para isso. O deputado Osmar Serraglio só soube que não era mais ministro da Justiça quando o país já conhecia o nome do seu substituto – Torquato Jardim. Por elegância, Temer jamais procederia assim. Mas por elegância, não perderá o poder.
Durante duas horas, ontem à noite em São Paulo, Temer reuniu-se com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Tasso Jereissati (CE), presidente em exercício do PSDB. Foi sondar a disposição deles de continuar apoiando o governo. Saiu satisfeito com o que ouviu.
Ouviu que o PSDB aguardará o resultado do julgamento do pedido de impugnação da chapa Dilma-Temer que concorreu às eleições de 2014 e que é acusada de ter abusado do poder econômico. Antes uma manobra concebida só para “encher o saco”, o pedido tornou-se uma coisa séria.
Uma decisão sobre ele deveria ser tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a partir do próximo dia 6, mas não será. Um dos sete ministros do TSE pedirá vista do processo. E levará, pelo menos, de duas a três semanas para examiná-lo melhor. É tudo o que Temer quer, embora negue.
Uma vez que ocorra isso como previsto, restará aos partidos torcer para que surja um fato novo capaz de provocar a renúncia de Temer. Ou capaz de apressá-los a sair do governo. Ou ainda capaz de incendiar o país e de engrossar o coro por diretas, já, obrigando-os então a agir
O mercado financeiro não está nem aí para que Temer fique ou vá embora. Desde que as reformas prometidas por ele acabem aprovadas no Congresso, tanto faz quem presidirá o país até o último dia de 2017. Para o mercado, a solução seja qual for só não pode demorar, causando danos à economia.
Como os angolanos gostam de dizer, esse é o ponto da situação.
Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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