“Eu sei [qual é] o meu lugar perto dele”
É tal o desespero de Bolsonaro com a possibilidade de vir a ser condenado por roubo de joias e tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito, que ele decidiu pedir ajuda a Donald Trump, eleito pela segunda vez presidente dos Estados Unidos.
E o fez de maneira vergonhosa e humilhante. Seguem os principais trechos da sua entrevista à Folha de S. Paulo:
Sobre a vitória de Trump
“Vai refletir no mundo. É um país que é a maior democracia do mundo, projeta poder, que fez valer a sua força. Não tivemos conflito no mundo enquanto o Trump estava lá. E ele gosta de mim. Acredito que só o fato da eleição dele, o que ele tem falado, de liberdade, Elon Musk [empresário e dono do X] está do lado dele, é um sinal para todo mundo de que ele quer uma democracia para o mundo. […] Sempre tive um bom relacionamento com ele”.
Sobre a situação de Trump e a sua
“Quase tudo o que acontece lá acontece aqui. Lá teve [a invasão do] Capitólio, que teve mortes. Tentaram de todas as maneiras colocar na conta dele [Trump]. Lógico, ele é uma pessoa de uma diferença enorme em relação a mim, foi presidente de um país muito rico, fantástico, tem boas amizades com todo mundo, o cara é bilionário. Enfrentou a perseguição do Judiciário. Eu aqui me esquivo. Mas não deixa de ser uma sinalização para cá de ‘faça as coisas direito’. […] Fui o último chefe de Estado a reconhecer a vitória do [Joe] Biden, ele [Trump] não esquece isso. E eu sei o meu lugar perto dele. Eu estou para ele como o Paraguai está para o Brasil.”
Sobre seu desejo de voltar a ser presidente
“Ser presidente é uma merda. Eu não sei como é que cheguei à Presidência. Aconteceu. Dei o melhor de mim. Estava preparado? Não estava. Apesar de 28 anos de Parlamento, quando você vê aquela cadeira lá, cai para trás. Agora, a minha pretensão [é a] de voltar. Eu tenho um sonho. Qual é o sonho? De ajudar o Brasil.”
Sobre Trump e o seu sonho de se recuperar
“Passa por ele. É igual uma caminhada de mil passos, você tem que dar o primeiro, tem que dar o décimo. E o Trump é um passo importantíssimo. Eleger uma boa bancada. Hoje teria 20% da Câmara e 15% do Senado. É muito pouco. Acredito que vem uma bancada enorme em 2026 [no Senado].”
Sobre sua amizade com Trump
O Eduardo [Bolsonaro] tem amizade enorme com ele [Trump]. Tanto é que, de 85 convidados [Trump recebeu convidados em Mar-a-Lago, na Flórida, para acompanhar a apuração], ele [Eduardo] foi e botou mais dois para dentro, o Gilson [Machado, ex-ministro do Turismo de Bolsonaro] e o filho do Gilson. Ele [Trump] me tem como uma pessoa que ele gosta, é como você se apaixonar por alguém de graça, né? Essa paixão veio da forma como eu o tratava, sabendo o meu lugar.”
Sobre ser convidado para ir à posse de Trump
“Se o Trump me convidar, vou peticionar ao TSE, ao STF. Agora, com todo o respeito, o homem mais forte do mundo [Trump]… Você acha que ele vai convidar o Lula? Talvez protocolarmente. Quem ele vai convidar do Brasil? Talvez só eu. Ele [o ministro Alexandre de Moraes] vai falar não para o cara mais poderoso do mundo? Eu sou ex. O cara vai arranjar uma encrenca por causa do ex? Acha que vou para os Estados Unidos e vou ficar lá?”
Sobre sua inelegibilidade e o apoio de Trump
“Acredito que o Trump gostaria que eu fosse elegível. Ele que vai ter que dizer isso aí, mesmo que tivesse conversado com ele, não falaria. [Mas] tenho certeza de que ele gostaria que eu viesse [a ser] candidato.”
PS: Trump é um fenômeno político. Bolsonaro não passa de uma caricatura grosseira de Trump. Por quatro anos, Trump manteve-se à tona e está de volta. Bolsonaro foi o único presidente brasileiro que não se reelegeu e que poderá ser novamente condenado e preso.
Fonte: Blog do Noblat
Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.