29 de março de 2024
Tecnologia

Windows 11, vale a pena migrar?

Na época do lançamento do Windows 10, em 2015, um evangelista da Microsoft declarou durante um evento que o sistema seria “a última versão do Windows”. E durante seis anos, isso pareceu ser verdade. Em vez de agrupar recursos e lançá-los em uma nova versão, a Microsoft adotou uma política de atualizações semestrais do sistema que ao longo dos anos moldaram o Windows 10 em algo que é, atualmente, bem diferente (e melhor) do que o que foi originalmente lançado.

Por isso, fiquei surpreso quando testei o Windows 11. É verdade que o sistema tem mudanças importantes na interface, que a deixam mais bonita e mais “intuitiva”, mas também tem regressões estranhas, eliminando recursos que estão presentes no Windows há décadas, e ficou pior do ponto de vista da compatibilidade com hardware antigo.

Além disso, recursos prometidos quando o sistema foi anunciado, como a capacidade de rodar aplicativos Android e a integração com o Teams, simplesmente estão ausentes ou foram implementados “pela metade”. A impressão que tenho é que o sistema foi lançado às pressas, inacabado, talvez numa tentativa de incentivar a venda de PCs no final do ano.
Como testamos o Windows 11

Testamos o Windows 11 em um notebook ASUS VivoBook 15, equipado com um processador Intel Core i7 de 11ª geração rodando a 2,8 GHz (i7-1165G7), 16 GB de RAM, unidade SSD de 500 GB e uma GPU Nvidia GeForce MX330.

A versão do sistema é a 21H2, compilação (Build Number) 22000.318, com o “Pacote de Experiência de Recursos do Windows 1000.22000.318.0”. O sistema veio pré-instalado no computador, e fizemos a configuração inicial como um consumidor faria ao tirar o notebook da caixa.

O ASUS VivoBook 15 (Modelo X513EP) foi nossa máquina de teste para o Windows 11. Imagem: ASUS

Mesmo com hardware “de ponta”, o Windows 11 me deu um susto: logo nos primeiros minutos de uso do computador ficou clara uma estranha corrupção de vídeo que ocasionalmente distorcia texto e imagens na tela, deixando-os com um aspecto pixelizado.

Ao abrir apps como o OneNote, a tela frequentemente ficava preta ou, pior, virava uma confusão de linhas coloridas em movimento. Cheguei a suspeitar de um defeito de hardware (no painel LCD ou em algum cabo interno), mas felizmente o problema desapareceu com uma atualização do driver de vídeo.

Corrupção de vídeo encontrada nos primeiros minutos com o Windows 11. Problema foi resolvido após uma atualização de drivers. Imagem: Rafael Rigues / Olhar Digital

Outro problema incomum ocorreu quando tentei entrar em uma conferência via Teams. Uma mensagem dizendo que “os alto-falantes pararam de funcionar” surgiu na tela, e tive de reiniciar o notebook para ter som de volta. Algo que nunca vi acontecer em meus 27 anos de experiência com o Windows.

Tem estilo, mas e a substância?

Vamos começar pela mudança mais visível: a interface. A primeira coisa que um usuário vai notar é a barra de tarefas centralizada na parte inferior da tela, em vez de alinhada à esquerda como era desde o Windows 95.

Isso, por si só, não faz diferença alguma no uso diário (e você pode alinhar a barra à esquerda em Configuração / Personalização / Barra de Tarefas). Mas basta um clique no novo Menu Iniciar para ficar claro o maior problema do Windows 11: ele adora brincar de esconde-esconde.

É um tema comum em várias partes do sistema: opções e recursos que antes podiam ser acessados diretamente agora estão escondidos atrás de um botão ou submenu. Considerando nosso exemplo, o Menu Iniciar: no Windows 10 basta um clique para ver, de uma só vez, os últimos apps adicionados ao sistema, uma lista alfabética com todos os que estão instalados e seus apps favoritos, fixados em blocos dinâmicos.

No Windows 11, a organização é diferente: no topo do menu estão os apps “Fixados”, uma região que a Microsoft parece estar usando como um outdoor para promover apps. Vários dos que estão listados ali não estão realmente instalados no sistema, e são atalhos para versões Web (como o ClipChamp e o PicsArt Pro, por exemplo) ou são baixados no primeiro uso, como o WhatsApp.

Em seguida vem as “Recomendações” (péssimo nome), que são apps recém-instalados ou os últimos arquivos com os quais você trabalhou. Quer a lista de todos os apps instalados? Você precisa clicar em Todos os aplicativos, ao lado de Fixado. O que era uma operação com um clique, virou dois.

A ferramenta de busca é outro bom exemplo. No Windows 10 ela é uma caixa de texto ao lado do Menu Iniciar, com uma função bem clara: “Digite aqui para pesquisar”. No Windows 11, ela é o ícone de uma lupa. Pior: se você parar o cursor do mouse sobre ele, não vai ver nada que sugira uma busca, mas sim uma lista de apps que abriu recentemente usando essa ferramenta. É preciso clicar no ícone para, aí sim, ver que existe um campo de busca.

Outra coisa que piorou: não é possível arrastar e soltar itens sobre os ícones do Menu Iniciar. Esse é um recurso que existe no Windows, literalmente, há décadas. Você podia usá-lo para colocar um atalho para um app no Menu Iniciar, ou arrastar um documento para cima do ícone do app correspondente para abrí-lo. Não mais.

No Windows 11 o app de configurações ficou mais elegante e fácil de usar. Mas o velho “painel de controle” do Windows XP ainda é parte do sistema, basta procurar por ele. Imagem: Rafael Rigues / Olhar Digital

Mas tenho que reconhecer que o novo visual tem seus pontos altos. Mudanças que parecem simples, como os cantos arredondados das janelas, os novos ícones e o efeito de transparência nas janelas, dão ao Windows 11 uma aparência mais elegante.

O app de Configurações ficou muito melhor organizado, com ícones coloridos de fácil identificação. Outro app que mudou para a melhor foi o Explorador de arquivos: em vez de um milhão de ícones em múltiplas barras de tarefas, ele agora tem apenas dez, que ficam ativos conforme o contexto, o que dá uma boa indicação do que você pode fazer no momento.

Em construção

Há outros pontos no Windows 11 que estão ausentes ou inacabados. Um exemplo é a tão falada capacidade de rodar apps Android no PC, algo que já é possível em alguns Chromebooks. Em teoria, o usuário poderá buscar um app no catálogo da Amazon (e não na Play Store, que fique claro) e instalá-lo com um clique.

Mas o subsistema responsável por isso ainda não está presente na versão do Windows 11 disponível ao grande público, embora já esteja em teste (de forma limitada) com os Insiders, usuários com acesso a versões em desenvolvimento do sistema. Portanto, se esse é seu principal motivo para migrar, é melhor esperar.

Outro item inacabado: a tão falada integração com o Teams. Há um botão no menu Iniciar que, em teoria, permite acesso rápido à sua lista de contatos para iniciar uma conversa. Mas isso só funciona se você tiver uma conta pessoal. Usuários corporativos ainda tem que baixar o app separadamente no site da Microsoft.

A tão falada integração com o Teams não funciona com contas corporativas. Você ainda vai precisar baixar o app. Imagem: Rafael Rigues / Olhar Digital

É algo no mínimo estranho, considerando que o Teams nasceu como uma ferramenta de comunicação para o mercado corporativo. Entretanto, ultimamente é clara a tentativa da Microsoft de transformá-lo em um app para o grande público, como uma espécie de alternativa ao iMessage da Apple.

O que mais?

Uma mudança bastante significativa (e que também acontecerá no Windows 10) é que a Microsoft Store agora suporta aplicativos “tradicionais” do Windows, conhecidos como apps “Win32”. Coisas como o Photoshop, Firefox, Opera, WhatsApp Desktop e muitos outros podem ser baixados da loja, sem a necessidade de visitar um site de downloads ou a página do desenvolvedor. Antes, apenas apps baseados na plataforma UWP (Universal Windows Platform) eram listados.

Isso é uma boa notícia para os desenvolvedores, já que dá a eles uma “vitrine” bem no meio do sistema operacional. E também para os usuários, especialmente os que tem menos conhecimento técnico e são frequentemente enganados por “sites de download” duvidosos, criados para bombardeá-los com malware ou propaganda.

Aplicativos “tradicionais” para o Windows finalmente estão disponíveis na loja, incluindo os programas da Adobe. Imagem: Rafael Rigues / Olhar Digital

Quem trabalha com muitos apps abertos ao mesmo tempo (olá, colegas jornalistas!) vai gostar dos Snap Layouts. Basta parar o cursor do mouse sobre o botão maximizar de qualquer janela e surgirá um menu permitindo escolher um entre vários “arranjos” das janelas na tela, do tradicional meio a meio (dois apps, cada um ocupando 50% da tela) até um com quatro apps visíveis simultaneamente.

O arranjo e apps que você escolher se tornam um Snap Group, que aparece quando você para o cursor do mouse sobre o ícone de um dos apps no menu Iniciar. Com ele todas as janelas do grupo podem ser minimizadas ou restauradas ao mesmo tempo, com um clique. Isso facilita muito a organização.

Snap Layouts e Snap Groups facilitam a organização de quem precisa trabalhar com várias janelas abertas ao mesmo tempo. Imagem: Rafael Rigues / Olhar Digital

Me acostumei a trabalhar com um grupo 1×2, com o navegador ou editor de texto ocupando a metade esquerda da tela e o app de mensagens e um media player dividindo a metade direita. Assim, fica fácil saber se uma mensagem que chegou é algo importante, ou descobrir o título da música que está tocando, sem ter de trocar entre janelas ou sequer mover o mouse.

O único ponto ruim é que não dá pra “salvar” um grupo e reabrir todos os apps, com as janelas em suas posições, mais tarde. Se você fechar os apps que são parte do grupo, ele desaparece. Seria legal poder criar um atalho “Hora de trabalhar!” que já deixasse tudo pronto com um clique.

Exemplo de um layout 1×2. Editor de textos, app de comunicação e media player simultaneamente na tela. Imagem: Rafael Rigues / Olhar Digital

Para os gamers, uma novidade interessante é a integração do app do Xbox ao sistema operacional. Isso significa acesso fácil aos jogos do Gamepass (se você for assinante) e também ao serviço de jogos via streaming da Microsoft, antigamente apelidado de “XCloud” mas aqui chamado simplesmente de “Jogos em Nuvem”.

Com uma conexão rápida o bastante, você pode entrar em instantes em uma partida de Forza Horizon 5, sem instalar nada no computador, mesmo que seu PC não tenha uma GPU poderosa o bastante para rodar o jogo localmente. Basta um controle conectado via Bluetooth ou USB. Mas vale lembrar que esse não é um recurso exclusivo do Windows 11, e também está disponível no Windows 10. Basta instalar o app do Xbox.
Antes de atualizar, preste atenção no hardware

Vale lembrar que o Windows 11 tem requisitos de hardware diferentes do Windows 10. Entre eles um computador com um processador Intel de 8ª geração, AMD Ryzen 2000 ou mais recente, equipado com um módulo de segurança TPM 2.0, 4 GB de RAM e 64 GB de espaço em disco.

É o requisito de processador que vai “pegar” muita gente, deixando de fora muitas máquinas que, apesar do hardware antigo, rodam bem o Windows 10. É o caso de minha máquina pessoal, um notebook com um processador Intel Core i5 da segunda geração, ou a do trabalho, com um Core i3 de 7ª geração.

O Windows 11 é bastante exigente quando ao hardware onde vai rodar, e mesmo máquinas que rodam bem o Windows 10 podem não ser compatíveis.
Imagem: Rafael Rigues / Olhar Digital

Nesses casos, a atualização para o Windows 11 não será oferecida no Windows Update, mas o usuário continuará recebendo atualizações de segurança do Windows 10, que será suportado pela Microsoft até 2025.

Sim, há meios de instalar o Windows 11 em uma máquina que não é oficialmente suportada, mas isso deve ser feito por sua própria conta e risco. O sistema pode funcionar, ou você pode encontrar toda sorte de bugs. E nestes sistemas, não há garantia de que você irá receber atualizações de segurança.
Vale migrar para o Windows 11?

A atualização do Windows 10 para o Windows 11 é gratuita, mas no estado atual do sistema, não vejo motivo para se apressar. A própria Microsoft parece estar ciente disso, já que não definiu uma “data limite” para a gratuidade. Em contraste, no lançamento do Windows 10 a empresa prometeu upgrades gratuitos a partir do Windows 7 ou 8.1 por apenas um ano, embora mesmo após esse prazo houvessem formas, legais, de fazer a atualização.

Eu pretendo esperar ao menos mais seis meses, até a primeira grande atualização, para ver se as principais arestas são aparadas ou se surge algum novo recurso imperdível. Até lá, ficar no Windows 10 é a melhor opção.

Fonte: Olhar Digital, por Rafael Rigues

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