24 de abril de 2024
Sergio Vaz

Está melhorando (3)

Foto: Arquivo Google

Quem não vê isso é doido ou então lulo-petista de carteirinha. Por Sérgio Vaz
De vez em quando aparece no Facebook um post dizendo algo do tipo: “Mas de que adiantou tirar a presidente?”
É uma tentativa desesperada dos lulo-petistas de exercitar aquilo que eles sabem fazer bem: mentir, confundir, mistificar, esconder a verdade, mascarar a ficção como fato.
O lulo-petismo, ou ao menos parte dele, está fazendo um esforço hercúleo para convencer o país de que nada mudou.
Exaustas depois de 13 anos e tanto de despautérios, muitas pessoas inteligentes começam a ceder à propaganda lulo-petista de que o governo Michel Temer é igualinho que nem os dois últimos, os de Dilma Rousseff, o primeiro de 2011-2014, e aquele segundo iniciado em 2015 e felizmente acabado em maio de 2016.
Tudo no Congresso está igual a antes, nos diz a propaganda massacrante, feita com apoio até mesmo de parte da grande imprensa. E boa parte do país acredita.
Não é verdade que este governo é igual ao anterior.
O governo Dilma Rousseff enfiou o Brasil na mais grave crise econômica que já houve em 500 e tantos anos de História.
O governo Michel Temer sem dúvida cometeu muitos erros, em especial nas indicações para tal e tal cargo político ou jurídico.
O governo Michel Temer sem dúvida cometeu muitos erros demais da conta. Demais da conta. Demais da conta.
Mas o governo Michel Temer está começando a tirar o Brasil do lodaçal em que ele foi enfiado pelo lulo-petismo.
Não é a mesma coisa, não. São coisas diferentes. Contrárias. Antípodas.
Dilma nos enfiou no buraco. Este governo tampão, ponte, pinguela, está nos tirando do buraco.
Quem não conseguir admitir isso tem problemas sérios de visão, de compreensão do mundo. É doido. Ou lulo-petista de carteirinha.
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Deu nos jornais da quinta-feira, 9/2: a inflação medida pelo IBGE em janeiro ficou em 0,38% – o resultado mais baixo para um mês de janeiro desde o início da série histórica do IPCA, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o índice oficial do governo.
Com isso, o IPCA acumulado em 12 meses caiu de 6,29% em dezembro de 2016 para 5,35% ao final de janeiro. Cerca de metade do índice acumulado em 12 meses em janeiro passado.
Deu nos jornais da terça-feira, 7/2: a produção de veículos cresceu 17,1% em janeiro, na comparação com o mesmo mês de 2016. Foi o primeiro crescimento mensal na produção de veículos no Brasil com o mesmo período do ano anterior desde 2013. O presidente da Anfavea, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, Antonio Megale, disse a Cleide Silva, do Estadão: “O índice geral de queda nas vendas vem diminuindo e esperamos estabilização neste trimestre e números positivos no ano.”
Terceiro “deu nos jornais” dos últimos dias – desta vez nos de sexta-feira, 10/2: a safra brasileira de grãos deve atingir 221,4 milhões de toneladas este ano, um aumento de 20,3% em relação à safra do ano passado. Se essa estimativa, divulgada pelo IBGE, for confirmada, será a maior colheita de grãos da História.
Quarto “deu nos jornais” – no sábado, 11/2: a Standard & Poor’s, uma das três maiores agências de classificação de risco do mundo, elevou a nota da Petrobrás de B+ para BB-, que é três níveis abaixo do grau de investimento, o selo de bom pagador. Foi a primeira grande demonstração do mercado financeiro mundial de que os esforços para tirar a estatal de petróleo do atoleiro em que o desgoverno do PT a enfiou já estão dando resultados.
Em apenas nove meses sem Dilma Rousseff, Guido Mantega e Graça Foster dando ordens, a Petrobrás mostra que já está se reconstruindo.
“A Petrobrás melhora a passos largos”, declarou Flávio Conde, analista da consultoria WhatsCall. “O plano de desinvestimento está sendo bem gerido, ainda que a Justiça venha barrando o programa de vendas.”
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Vai dar nos jornais desta terça-feira, 14/2, pois já deu na internet, no rádio e na TV da segunda, 13: a Bolsa de Valores de São Paulo teve  seu quinto pregão seguido de valorização, subindo 1,27%, a 66.967 pontos — maior valor desde 20 de março de 2012.
“A elevação foi sustentada principalmente por ações ligadas a mineração e siderurgia, depois de o minério de ferro ter saltado quase 6,5% na China, ao maior valor desde agosto de 2014”, segundo reportagem de Rennan Setti e Lucas Moretzsohn no site de O Globo. “Os maiores destaques foram as ações da Vale, que avançaram 9,17% (ON, com voto, a R$ 35,81) e 6,78% (PN, sem voto, a R$ 33,35). Quarenta e duas das 59 ações que compõem o índice Ibovespa operam em alta. No câmbio, após avançar 0,44% na semana passada, o dólar abriu a segunda-feira em alta, mas desacelerou e fechou perto da estabilidade. A moeda americana encerrou a sessão cotada a R$ 3,112, com valorização de 0,06%.”
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“O Brasil tem rumo, o governo tem uma agenda e pela primeira vez em muito tempo as políticas fiscal e monetária combinam.”
Assim começa editorial do Estadão da terça-feira, 7/2. Ele prossegue:
“Graças a isso tem sido possível apostar no recuo da inflação e, com segurança, baixar os juros básicos. Há ainda muitos problemas pela frente, mas a sensação de estar num trem desgovernado passou. Em síntese, são essas as principais mensagens contidas num artigo e numa entrevista de dois economistas muito respeitados, publicados nos últimos dois dias no Estado. Dificilmente alguém poderia, com realismo, formular neste momento comentários mais otimistas que esses a respeito da economia brasileira e de suas perspectivas. Afinal, depois de anos de irresponsabilidade e desgoverno, o País começa a mover-se para sair do atoleiro da mais longa e funda recessão de muitas décadas.”
Na sexta-feira, 3/2, o artigo de Celso Ming na página 2 do Caderno de Economia do Estadão começava assim:
“Desta vez é mais do que puramente torcida. Há um punhado de sinais de que as coisas na economia começam de fato a melhorar.”
As íntegras do editorial e do artigo de Celso Ming vão aí mais abaixo.
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“O navio parou de afundar. Estamos de volta à racionalidade econômica.”
Este foi o título da entrevista de página inteira com José Roberto Ermírio de Moraes, membro do conselho de administração do Grupo Votorantim, um dos maiores do país, publicada no Estadão de segunda-feira, 13/2.
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No domingo, 12/2, reportagens de dois dos melhores jornalistas da área de política e economia em atividade hoje na grande imprensa – José Fucs e Miriam Leitão– publicaram textos com tom bastante semelhante. Ele no Estadão, ela em O Globo. Os dois mostraram, demonstraram, através de exemplos, números, a discrepância, a esquizofrenia do governo Michel Temer: na economia, as coisas começam a dar certo. O dream team escolhido por Temer para enfrentar a maior crise econômica do Brasil em 500 e tantos anos começa a mostrar resultados. Mas porém todavia contudo no entanto, no front político…
O artigo de Miriam Leitão tem o título bem farhadiano de “A Separação”, o mesmo da obra-prima do grande cineasta iraniano. Transcrevo o começo:
“Há um divórcio entre economia e política. A economia começa a dar sinais de melhoras cada vez mais consistentes; a política se afunda em crises e decisões ruins. Na semana passada, o Senado encheu a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) de investigados, um ministro ficou numa guerra judicial, a Câmara tentou reduzir poderes da Justiça Eleitoral.
“Empresários têm ido falar com o ministro Henrique Meirelles e outros integrantes da equipe para contar que a crise ainda é grave, mas existem sinais de melhora. Os indicadores antecedentes mostram isso, e o ministro, como contou ontem este jornal, já acredita que o PIB do primeiro trimestre pode ser positivo. A recuperação não será rápida porque a crise foi longa e funda demais, mas já há sinais positivos. Semana passada, o ministro da Fazenda ouviu de um investidor estrangeiro que, na sua avaliação, a crise política acabará levando mais rapidamente à aprovação das reformas. Pode ser, mas o mais provável é que a confusão política paire sobre a economia reduzindo o ímpeto da retomada.”
A reportagem de José Fucs, um balanço dos nove primeiros meses do governo tampão de Michel Temer, diz o seguinte:
“Embora não tenha conseguido ainda o reconhecimento da população, Temer já tem resultados para apresentar. Apesar das turbulências e de tropeços na área política, no campo econômico ele promoveu uma considerável mudança de rumo no País, em relação ao quadro herdado de Dilma. Ao abraçar uma agenda claramente reformista, baseada no programa “Ponte para o Futuro”, elaborado em 2015 por seu partido, o PMDB, Temer tenta imprimir sua marca na gestão do País.
Os números registram a mudança. A inflação, que estava em 10% ao ano quando Temer assumiu, chegou a 5,35% no acumulado em 12 meses. Em janeiro, a variação do IPCA, que mede a inflação oficial, ficou em 0,38%, a menor para o mês desde o início da série, em 1979. Após três anos de recessão, a economia começa, enfim, a reagir. A expectativa dos economistas dos bancos é de que o crescimento em 2017 fique em 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e alcance uma taxa anualizada no final do ano de 2,5%.”
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Afinal, um país com rumo
Editorial, Estadão, 7/2/2017.
O Brasil tem rumo, o governo tem uma agenda e pela primeira vez em muito tempo as políticas fiscal e monetária combinam. Graças a isso tem sido possível apostar no recuo da inflação e, com segurança, baixar os juros básicos. Há ainda muitos problemas pela frente, mas a sensação de estar num trem desgovernado passou.
Em síntese, são essas as principais mensagens contidas num artigo e numa entrevista de dois economistas muito respeitados, publicados nos últimos dois dias no Estado. Dificilmente alguém poderia, com realismo, formular neste momento comentários mais otimistas que esses a respeito da economia brasileira e de suas perspectivas. Afinal, depois de anos de irresponsabilidade e desgoverno, o País começa a mover-se para sair do atoleiro da mais longa e funda recessão de muitas décadas.
O artigo, assinado pelo professor, consultor e ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore, revisita a história e mostra a enorme mudança ocorrida, recentemente, na condução das políticas monetária e fiscal. Durante décadas, o BC pouco pôde fazer para controlar a inflação e, portanto, preservar o poder de compra da moeda.
Ao contrário: foi usado regularmente, por muito tempo, para cobrir com emissões o excesso de gastos do Tesouro e garantir o crédito subsidiado ao setor agrícola. Durante a maior parte desses anos, o controle direto de preços pelo governo substituiu, sempre de modo muito precário, é claro, a função estabilizadora da política monetária. Isso durou até o começo dos anos 1990.
O artigo salta as experiências de estabilização fiscal e monetária iniciadas a partir do Plano Real, em parte bem-sucedidas, e chega ao período da presidente Dilma Rousseff, quando o voluntarismo dominou a política do BC e os juros foram reduzidos de forma irrealista, enquanto as contas públicas pioravam velozmente e a inflação ganhava impulso.
O contraste com as práticas implantadas a partir do ano passado é evidente. O BC manteve juros muito altos até surgirem sinais claros de recuo da inflação e de avanço no programa de recuperação das contas públicas, incluído o encaminhamento da reforma da Previdência. Criticou-se o novo presidente do BC, por ter aparentemente demorado a iniciar o corte de juros, mas a avaliação mudou rapidamente, escreveu Pastore, quando ficou claro que “Ilan Goldfajn optara pelo caminho certo”.
O artigo de Pastore saiu no domingo. Na segunda-feira foi publicada a entrevista de Armínio Fraga, presidente do BC na fase final do governo de Fernando Henrique Cardoso. Foram implantadas nessa fase as políticas de metas de inflação, câmbio flutuante e metas fiscais, componentes do chamado tripé macroeconômico, destruído na última gestão petista. As avaliações dos dois economistas se complementam. O BC, observou Armínio, “tem trabalhado bem e está encontrando espaço para reduzir os juros”.
Se o ajuste das contas públicas for mais veloz, acrescentou, o BC terá mais liberdade para administrar a política monetária. O quadro fiscal “ainda é extremamente preocupante, mesmo se contarmos com o sucesso na reforma da Previdência”.
Mas o ajuste é a única saída possível. Os problemas, no entanto, vêm sendo enfrentados e isso marca uma ampla diferença em relação ao governo anterior. A sensação de estar num trem desgovernado, a caminho do precipício, passou, resumiu o entrevistado.
A avaliação de Armínio foi reforçada com uma observação sobre novas políticas em áreas especialmente importantes. Não só no BC, mas também na Petrobrás, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), na Eletrobrás “e em outros lugares”, há mudanças de orientação, já com resultados positivos. Há uma agenda com itens importantes, “como o controle dos gastos públicos e a reforma da Previdência”, e “impacto no longo prazo”.
As ideias de uma agenda, de um rumo e de um esforço de articulação de políticas compõem um cenário animador. Nada será fácil, mas a existência de um roteiro sensato e bem definido já é um dado extremamente positivo.
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Sinais de melhora
Por Celso Ming, Estadão, 3/2/20167
Desta vez é mais do que puramente torcida. Há um punhado de sinais de que as coisas na economia começam de fato a melhorar.
Ninguém se iluda, os grandes problemas continuam todos aí. As contas públicas, por exemplo, seguem desequilibradas, como o rombo do ano passado (déficit primário de R$ 155,7 bilhões, ou de 2,47% do PIB). O comportamento do PIB no quarto trimestre de 2016 e início deste ano deverá continuar negativo. O desemprego está a 12% da força de trabalho. As vendas no varejo seguem fracas. O nível do endividamento familiar está alto demais. Quem for por aí ainda enxergará muito copo meio vazio ou até em esvaziamento.
O amanhecer nunca chega de repente. A escuridão continua, mas o canto do sabiá já vara a madrugada, o burburinho vai crescendo nas ruas e quem acorda cedo pode vislumbrar o roseado que se forma pelos lados do nascente.

As expectativas, por exemplo, estão mudando para melhor e ocupando os espaços antes tomados pelo desânimo ou pela sensação de que a crise se prolongou além do esperado. É só conferir as novas bases com que o mercado passou a trabalhar, tal como aparecem semanalmente na Pesquisa Focus feita pelo Banco Central em cerca de 100 instituições, consultorias, departamentos de Economia das empresas.
A inflação está em franca retirada. Há apenas sete meses, ninguém apostava em que 2017 apresentasse inflação inferior a 6% ao ano. Agora, a percepção é de que a meta de 4,5% ao ano será atingida. A desinflação arrasta para baixo também os juros básicos. A Selic estava a 14% em novembro e agora o mercado já trabalha com 9,5% ao final deste ano. É uma derrubada de 4,5 pontos porcentuais, o que não é pouco. O presidente do Banco Central já passou o recado de que, “a longo prazo, a meta de inflação caminha para os 3,0% ao ano”.
A Bolsa de Valores, cujo comportamento em geral antecipa os fatos, acusou neste início de 2017 (até esta quinta-feira) avanço acumulado de 7,22% do seu índice de preços, empurrado pela entrada líquida, obtida até 1.º de fevereiro, de R$ 6,244 bilhões de recursos estrangeiros para aplicações em ações.
No ano passado, o investimento estrangeiro líquido no País superou em mais de 30% as expectativas iniciais do Banco Central. Atingiu US$ 79 bilhões, mais de duas vezes o saldo comercial. Para este ano, a projeção é de chegada de mais US$ 75 bilhões.
As exportações de janeiro cresceram 20,6% sobre as de janeiro de 2016. Essa melhora não se restringiu aos produtos básicos (crescimento de 30%). O despacho de manufaturados aumentou 7,4% e o de semimanufaturados, 27,5%. Em boa parte, esse bom resultado se deveu ao aumento dos preços que, na média da pauta brasileira, foi de 20,1%. O saldo comercial (exportações menos importações) que já foi de US$ 47,7 bilhões em 2016 tem tudo para ficar acima disso em 2017, apesar da perspectiva de aumento das importações, por conta do avanço do PIB e do consumo. A produção industrial apresentou expressiva melhora em dezembro, de 2,3%. O agronegócio deverá dar um show de desempenho neste ano (crescimento da produção de cerca de 15%).
Tudo pode melhorar, se o governo conseguir puxar para baixo seu déficit fiscal e se der andamento às reformas. É esperar mais algumas semanas para ver.
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Entre o atraso e a modernidade
Por José Fucs, Estadão, 12/2/2017.
Ao completar nove meses no cargo neste domingo, incluindo o período de 110 dias como interino, o presidente Michel Temer continua mal avaliado nas pesquisas. Segundo um levantamento divulgado no início de fevereiro pelo instituto Ipsos, uma das maiores empresas de pesquisa do mundo, Temer é aprovado por apenas 19% dos brasileiros, o mesmo resultado obtido em junho e julho. Seu governo também recebe nota baixa no boletim popular – 59% da população o classificam como ruim ou péssimo. Pior ainda, 74% consideram seu governo inferior (40%) ou igual (34%) ao da ex-presidente Dilma Rousseff.
Embora não tenha conseguido ainda o reconhecimento da população, Temer já tem resultados para apresentar. Apesar das turbulências e de tropeços na área política, no campo econômico ele promoveu uma considerável mudança de rumo no País, em relação ao quadro herdado de Dilma. Ao abraçar uma agenda claramente reformista, baseada no programa “Ponte para o Futuro”, elaborado em 2015 por seu partido, o PMDB, Temer tenta imprimir sua marca na gestão do País.
Os números registram a mudança. A inflação, que estava em 10% ao ano quando Temer assumiu, chegou a 5,35% no acumulado em 12 meses. Em janeiro, a variação do IPCA, que mede a inflação oficial, ficou em 0,38%, a menor para o mês desde o início da série, em 1979. Após três anos de recessão, a economia começa, enfim, a reagir. A expectativa dos economistas dos bancos é de que o crescimento em 2017 fique em 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e alcance uma taxa anualizada no final do ano de 2,5% (veja os gráficos).
“A minha visão é de que houve uma mudança de peso em relação ao que havia antes”, diz o economista Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea, uma empresa de investimentos sediada no Rio de Janeiro. “Hoje, o Brasil segue vulnerável, mas aquela sensação de que era um trem desgovernado, de que estávamos indo para um precipício, não existe mais.”
Pressionado pela urgência imposta pela crise e por um mandato-tampão de dois anos e oito meses, a ser completado em 2018, Temer produziu um total de 62 medidas, de acordo com dados oficiais, desde o desembarque no Palácio do Planalto, em 12 de maio. A lista inclui medidas corriqueiras da administração, como o reajuste dos benefícios do Bolsa Família, mas revela a dimensão da mudança que está em curso, na qual poucos analistas acreditavam quando Temer tomou posse. “Para ser sincero, eles fizeram mais do que eu imaginava que seriam capazes de fazer nesse tempo”, afirma o consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e ex-economista-chefe do Santander.
A maior metamorfose está ocorrendo na economia. Mesmo com o desemprego batendo recorde e a retomada em marcha lenta, Temer conquistou pontos na questão fiscal, a mais urgente no momento, com a aprovação da PEC do teto dos gastos pelo Congresso Nacional. “O governo tirou o bode da sala”, diz Schwartsman.
Só que, para cumprir de forma efetiva seu papel, o teto dos gastos depende da reforma da Previdência Social, hoje a principal fonte do rombo bilionário no orçamento federal, enviada pelo governo ao Congresso em dezembro. Se não for desfigurada no Legislativo, a reforma da Previdência representará, ao lado do teto, o maior ajuste fiscal da história recente do País.
Simplificação. Ainda em fevereiro, Temer deverá encaminhar ao Congresso uma reforma trabalhista, cujos principais pontos foram apresentados a lideranças sindicais no final do ano, com o objetivo de modernizar as relações de trabalho. Ele afirmou que pretende também promover uma minirreforma tributária, destinada a simplificar os tributos, para permitir a redução do tempo gasto com o pagamento das obrigações com o Fisco, um dos mais altos do mundo.
Fora da esfera do Legislativo, Temer garantiu desde o princípio, com o apoio do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a autonomia operacional do Banco Central, para que a instituição possa administrar a política monetária aparentemente sem interferências políticas, comuns no governo Dilma. A política de concessão de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), antes voltada para a produção de “campeões nacionais”, tornou-se mais horizontal, sem benefícios para setores específicos, com o dinheiro dos pagadores de impostos. Na Petrobrás, onde se concentrou o propinoduto montado por PT, PMDB e PP, que prosperou nos governos de Lula e Dilma, a gestão foi profissionalizada. Os preços dos combustíveis deixaram de ser usados como ferramenta de política econômica.
Na arena política, porém, ele parece puxar o Brasil para trás. Apesar de sua habilidade política, que permitiu a construção de uma base respeitável no Congresso, Temer parece alheio às demandas das ruas, contra a corrupção e em defesa da Lava Jato. Ao mesmo em que trabalha para implementar uma agenda reformista no País, Temer cultiva práticas da “velha política”, ao recrutar caciques do PMDB, vários citados em delações da Lava Jato – como ele próprio – para ocupar postos de destaque na Esplanada dos Ministérios (leia o quadro).
“Se é verdade que o presidente Temer tem uma legitimidade formal, baseada na Constituição, ele precisava conquistar uma legitimidade efetiva, a partir de seu próprio desempenho político – e, neste aspecto, deixou a desejar”, diz o cientista político José Álvaro Moisés, diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP. “O presidente Temer deveria ter tido a coragem e a clareza de separar do seu governo as pessoas do seu partido e de seu círculo mais próximo, que foram mencionadas em delações da Lava Jato, como ele mesmo, e provavelmente serão denunciadas na Justiça.”
Contrapartidas. Mesmo na economia, Temer deu seus tropeços. Logo no início do governo, sancionou um aumento salarial para servidores do Judiciário e do Ministério Público da União. Depois, no final do ano, deu seu aval ao reajuste de servidores de oito categorias. No início de fevereiro, emitiu outro sinal contraditório com o controle de gastos, ao criar dois ministérios, elevando o total para 28, só quatro a menos que nos tempos de Dilma.
Na renegociação das dívidas estaduais, Temer abriu mão da cláusula que restringia a concessão de aumentos salariais para o funcionalismo dos estados e sancionou a lei aprovada pelo Congresso sem a exigência das contrapartidas previstas no projeto original. “A renegociação das dívidas dos estados foi muito mal conduzida até agora”, diz o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, uma escola de negócios de São Paulo, e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. “O problema dos Estados não é dívida, é folha de pagamento, de ativos e inativos, e ele vai se agravar nos próximos anos, porque haverá um envelhecimento dos servidores, com impacto na Previdência de vários estados.”
O Brasil de Temer, como se vê, oscila entre o atraso, materializado na “velha política”, acossada pela Lava Jato, e a modernidade, centrada na realização das reformas econômicas de que o País precisa para garantir o crescimento sustentável. Mas, como diz José Álvaro Moisés, não dá para separar a política da economia no Brasil de hoje. Do resultado dessa dicotomia encarnada por Temer dependerá, em boa medida, o futuro do País. “O perigo é o meio sucesso”, afirmava o ex-senador e economista Roberto Campos (1917-2001), mencionado em artigo recente pelo ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola.

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