19 de abril de 2024
Sergio Vaz

Boas notícias insistem em acontecer


“O quadro geral é tentador para um estraga-prazeres.”
Já faz um mês e meio que se divulgou, com imenso, colossal estardalhaço, que o presidente Michel Temer recebeu no Palácio do Jaburu, tarde da noite, o empresário Joesley Batista – e, daquele dia 17 de maio para cá, repete-se a cada dia que o Brasil está vivendo uma crise política gravíssima, sem precedentes.
Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso abandonou sua normal temperança e sabedoria e saiu em defesa de algo que não está previsto na Constituição que ele ajudou, com brilho e empenho, a redigir – a antecipação de eleições. O senador José Serra saiu-se com a afirmação de que nem em 1964, o ano do golpe militar, a situação política esteve tão grave.
No entanto, ao longo dos últimos dias, diversas boas notícias insistiram em acontecer, como resultado do trabalho da equipe econômica escolhida por Michel Temer ao assumir a presidência em 12 de maio de 2016, quando a presidente que saía deixava a economia do país afundada na mais grave crise da História:
* Pela primeira vez em 14 anos, a meta de inflação caiu. O Conselho Monetário Nacional definiu na quinta, 29/6, meta de 4,25% para a inflação de 2019 e de 4% para 2020.
Pela primeira vez em 14 anos – e é sempre bom lembrar que o PT governou o país por 13 anos, 5 meses e 12 dias. A partir do segundo governo de Lula, e cada vez mais no período Dilma Rousseff, os três princípios básicos da política econômica pós Plano Real – meta inflacionária, câmbio flutuante e superávit primário – foram abandonados, o que resultou em inflação alta, contas públicas esfaceladas e queda da atividade econômica, com aumento brutal do desemprego.
* A balança comercial brasileira encerrou o primeiro semestre de 2017 com saldo positivo de US$ 36,219 bilhões, o melhor resultado desde o início da série histórica, em 1989. Os números foram divulgados na segunda-feira, 3/7.
* As vendas dos shopping centers tiveram alta de 4,6% em maio em relação ao mesmo mês do ano passado. No acumulado dos primeiros cinco meses do ano, a receita do setor subiu 4,5%, segundo informou a Abrasce, a associação do setor, na terça-feira, 4/7.
* As vendas de veículos subiram 4,25% no primeiro semestre. Foi a primeira expansão registrada em um semestre desde 2013. Foram vendidos 1,019 milhão de veículos (entre todos os tipos – automóveis, comerciais leves, ônibus, caminhões), ante 983,4 mil no mesmo período do ano passado.
* E – o item mais positivo das boas notícias divulgados nos últimos dias – a indústria cresceu 0,8% em maio ante abril, o segundo avanço consecutivo nesse tipo de comparação e o melhor resultado para um mês de maio desde 2011. Em relação ao mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 4%, segundo divulgou o IBGE na terça-feira, 4/7.
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Isso assim com o Jornal Nacional, a GloboNews, os demais telejornais, as rádios, os sites das Organizações Globo e mais o jornal O Globo repetindo várias vezes, a cada dia, as acusações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente.
Não é difícil imaginar que os sinais de retomada da economia após os desgovernos lulo-petistas a terem enfiado no fundo do fundo do fundo do poço poderiam estar ainda melhores, se a crise política, em si já extremamente grave, não estivesse sendo insuflada por esse conto do vigário Friboys-Janot-Globo.
Ou, caso prefiram que seja dito assim, se Michel Temer não tivesse feito a besteira de receber no palácio em que mora um bandido munido de más intenções, um gravador e um pacto de felicidade eterna garantido pelo procurador-geral da República.
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O Estadão reuniu, em um editorial nesta quarta-feira, dia 5/7, uma série de dados recentes da economia, vários deles resultados setoriais do crescimento da indústria em maio. São muitos, esses dados. O conjunto impressiona. Eles estão destacados em trechos do editorial “Indústria em alta – até maio” que reproduzo:
* Em maio, “a produção cresceu em todos os grandes segmentos da indústria, com destaque para automóveis e outros bens de consumo duráveis, além de máquinas e equipamentos, conhecidos pelo nome genérico de bens de capital. Depois da ampla destruição iniciada no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, sinais de recomposição começam a multiplicar-se. A indústria geral produziu em maio 0,8% mais que em abril e 4% mais que um ano antes.”
* “O volume acumulado em cinco meses foi 0,5% superior ao de janeiro a maio de 2016, mas em 12 meses o resultado ainda foi 2,5% menor que o do período imediatamente anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também esse dado é animador, no entanto, porque os valores se tornam menos negativos e a atividade tende à recuperação, depois de longa e penosa fase de recuo.”
* “A produção de bens duráveis de consumo, puxada pela fabricação de automóveis, aumentou 6,7% de abril para maio e ficou 20,7% superior à de igual mês do ano anterior. De janeiro a maio superou a de um ano antes por 11% e em 12 meses cresceu 0,4%.”
* “Uma das novidades mais animadoras é o aumento da produção de bens de capital. O crescimento mensal chegou a 3,5%, mesma taxa obtida na comparação dos cinco meses do ano com os cinco primeiros de 2016. Em 12 meses a expansão foi de 0,9%. O avanço tem sido puxado pela produção de equipamentos para a agricultura, com aumento de 24,8% na comparação de janeiro-maio com o mesmo período do ano anterior. O mesmo confronto indica um ganho de 24% na fabricação de bens de capital para construção, um indício muito positivo.”
* “As exportações de manufaturados têm contribuído para a ativação da indústria. De janeiro a junho o valor embarcado, de US$ 37,7 bilhões, foi 10,1% maior que o de um ano antes, pela média diária. As vendas externas de semimanufaturados também têm crescido: a receita do semestre, de US$ 15 bilhões, foi 17,5% superior à de janeiro a junho de 2016.”
* As exportações de automóveis de passageiros (US$ 3,3 bilhões) lideraram as vendas externas de manufaturados. Veículos de carga (US$ 1,4 bilhão) ficaram em terceiro lugar, depois de aviões (US$ 1,7 bilhão). Também no País as vendas de veículos têm crescido. As de junho, de 194,9 mil unidades, foram 13,5% maiores que as de junho de 2016, segundo a Fenabrave, associação das concessionárias. As do semestre, de 1,02 milhão de veículos, superaram as do ano anterior em 3,6%.”
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O editorial sério, sisudo, do jornalão que é sempre sério, sisudo, termina com uma frase que achei fantástica:
“Sem ser ainda uma grande festa, o quadro geral é tentador para um estraga-prazeres.”
É a perfeita expressão da verdade dos fatos: com esses indícios de melhora da economia, o quadro geral é tentador para um estraga-prazeres aparecer. Algum líder populista que não tenha qualquer tipo de compromisso com a verdade, com a lógica, com a aritmética. Que saiba mentir sem corar, e faça um discurso oco, vazio, mas capaz de atrair milhões de votos entre a população mais carente de tudo, em especial educação, informação, capacidade de ligar fatos e consequências.

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