Faltou-lhe aí a compreensão de que será presidente do Brasil
Bolsonaristas (Adriano Machado/Reuters)
Depois de agregar votos de milhões que não fechavam com a sua cartilha mas temiam a vitória do PT e a continuidade da corrupção, Jair Bolsonaro voltou a atender prioritariamente as demandas dos seus. Na outra ponta, o petismo, que na reta final da campanha tentou emplacar Fernando Haddad como salvador da democracia contra o fascismo para captar eleitores além dos fiéis, passou a pregar o avesso: resistência ao presidente eleito e, portanto, à democracia.
Popular e com apostas positivas na economia, Bolsonaro teve algum fôlego para resistir às pressões. Conseguiu atrair o juiz Sérgio Moro, bancou a presença de militares no time de elite, deu carta branca para a montagem das equipes econômica e da Justiça. Cedeu nos ministérios das Relações Exteriores e na Educação. Pôs gente absolutamente sintonizada com o jeito Bolsonaro de ser, mas muito longe dos critérios técnicos que prometera em campanha.
Faltou-lhe aí a compreensão de que será presidente do país e não só da sua turma. Erro gravíssimo.
Entre os derrotados, o equívoco é outro. Mas semelhante. O PT se considera dono de 47 milhões de votos, fazendo pouco de todos os que votaram em Haddad pelo menos pior, pelo #elenão. Mais absurdo: sonha educá-los, pastoreá-los.
Primeiro, trabalham para nutrir seus crentes, algo para lá de difícil depois da redução de cargos no Executivo e de dinheiro para sindicatos, centrais e movimentos ditos sociais. Agora, tudo tem de ser no gogó. A tarefa seguinte é ainda mais árdua: sair do isolamento e atrair o campo da esquerda e de centro-esquerda. Todos vacinados contra o oportunismo do PT, que os convoca para sair de crises e os descarta sem qualquer cerimônia quando consegue o que quer. Chega agora a falar de união com o “campo democrático”, o mesmo que sempre rechaçou.
A proposta (indecorosa) está na carta enviada por Lula na sexta-feira aos participantes da primeira reunião da Direção Nacional do PT depois da derrota no segundo turno. Ele convoca as esquerdas, a centro-esquerda e o campo democrático para “o exercício cotidiano de resistência”, partindo da premissa da ilegitimidade da eleição de Bolsonaro. Em suma, um chamamento contra o sufrágio universal, contra a premissa básica da democracia.
Nela, Lula solta a voz para a sua claque: “Bolsonaro se apresentou como um candidato antissistema, mas na verdade ele é o pior representante desse sistema. Foi apoiado pelos banqueiros, pelos donos da fortuna, foi protegido pela Rede Globo e pela mídia, foi patrocinado pelos latifundiários, foi bancado pelo Departamento de Estado norte-americano e pelo governo Trump… foi o verdadeiro candidato do governo Temer”.
Uma narrativa e tanto para quem escolheu Michel Temer por duas vezes para vice de sua pupila Dilma Rousseff, se lambuzou dos favores dos donos da fortuna, deu dinheiro a rodo para vários deles, foi condenado e preso por corrupção.
A carta de Lula é tão fantasiosa e hilária (ou apavorante) quanto os dizeres dos pensadores de Bolsonaro. Se a galera do presidente eleito quer combater o “marxismo cultural”, seja lá o que isso quer dizer, Lula quer turbinar as “denúncias” de que o país vive em estado de exceção – só para impedi-lo de voltar ao poder.
A capacidade de se conectar com as massas, estabelecer linha direta com elas e falar o que elas querem ouvir fizeram de Lula o maior líder popular do país, posto que da cela especial da PF de Curitiba o ex tem visto ser ocupado velozmente por Bolsonaro.
Mas vencedores e vencidos ainda não se desapegaram das urnas.
Como não conseguiram encontrar os plugues, Lula e o PT insistem na modelagem conhecida de forjar a história em benefício próprio, algo que as eleições de 2016 e 2018 provaram absoluta ineficácia.
Por sua vez, Bolsonaro, que soube melhor do que ninguém usufruir da comunicação online para angariar votos, tem de mostrar que é capaz de ir além da caserna e do templo. Tem, obrigatoriamente, de sair de sua rede de conforto e se ligar no país que espera muito mais dele do que lição de moral de gurus ultraconservadores.
Fonte: Blog do Noblat – Veja Abril
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
Usamos cookies em nosso site para oferecer a você a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.