Não é novidade o menosprezo pelas eleições proporcionais.
O plenário da Câmara (Luis Macedo/VEJA)
Na mais imprevisível eleição pós-democratização, na qual o vale tudo testou todos os limites – candidato condenado e preso desafiando a Justiça, topando ser substituído a contragosto no minuto final, e outro esfaqueado em plena campanha -, há algo que não surpreende: o pouco caso frente à escolha de deputados, associada agora à pregação de não se reeleger ninguém ou de anular o voto.
Não é novidade o menosprezo pelas eleições proporcionais. Elas dificilmente frequentam os debates, quase nunca são medidas em pesquisas. Não raro, deputados são números decorados ou rabiscados em colas pelos eleitores pouco antes de chegar às urnas. Mais difícil ainda é encontrar um eleitor que saiba o nome de quem mereceu o seu voto poucos meses depois do sufrágio.
A perversidade dessa desimportância está no fato de que não há democracia sem Parlamento. Mais: embora todo poderoso, presidente da República algum consegue administrar sem maioria na Câmara e no Senado. Não é demais dizer que a qualidade de um governo depende diretamente do perfil do Congresso, ainda que muitos de seus integrantes se rendam com facilidade às ofertas nada republicanas feitas em nome da governança.
Curiosamente, esses cambalachos acabaram por demonizar mais os deputados do que os chefes do Executivo responsáveis pelas propostas indecorosas.
Embora muitos, propositalmente, misturem todos no mesmo saco, a maior parte da bandidagem apurada pela Lava-Jato situa-se nos tempos de Lula e Dilma Rousseff e nos governos estaduais da época, tendo Sérgio Cabral como ícone. E, ainda que alguns sejam réus e acusados por mais de um crime (55 dos 513 deputados são suspeitos ou investigados por corrupção), 70% dos parlamentares federais não respondem a qualquer processo. Podem até ter vários defeitos, e têm, mas não há indicativos de que roubem. São, portanto, vítimas da generalização.
Sumidos entre o pipocar quase cotidiano de pesquisas eleitorais para a Presidência da República e para os governos estaduais, os 8,4 mil postulantes a deputado federal são candidatos de segunda categoria; os 17,8 mil que disputam as assembleias estaduais, de terceira. No horário obrigatório de rádio e TV, praticamente se resumem a um nome e um número, com, no máximo, uma frase de efeito para enfeitar a aparição.
As regras parecem injustas. E são. Foram feitas para manter benesses dos parlamentares, incluindo as dos que dizem repudiar privilégios. Postura que aumenta a confusão, corroborando para o eleitor enfiar tudo e todos no mesmo balaio maldito. Normas criadas para afastar o eleitor e perpetuar currais de votação. Para impedir caras novas e minar as chances de políticos sérios, que, mesmo trabalhando com afinco, se deixam misturar ao joio.
Assim sendo, como enxergar o trigo? Como repor a necessária dignidade a um Poder tão maltratado por boa parte das excelências que o ocupa?
Não são poucas as dissonâncias, impropriedades e mazelas das casas legislativas. É urgente mudá-las, exigir e cobrar muito mais do que o quase nada que elas têm ofertado. Mas como não há democracia sem elas, de nada adianta campanhas por nulidade do voto ou contra qualquer um que tenta se reeleger. A renovação é sempre bem-vinda, revigora e energiza a política. Mas o novo pelo novo não é aval de qualidade e seriedade.
Principal instrumento da democracia, o voto – um direito que não deveria ser obrigação – vai além da urna. Eleger alguém não coloca um ponto final. Ao contrário, inicia-se um ciclo. Ao eleitor cabe definir se de negação ou vitalidade.
Fonte: Blog do Noblat – Veja Abril
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
Usamos cookies em nosso site para oferecer a você a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.