O bordão “eleição sem Lula é fraude” ganhou requintes de desfaçatez nunca antes experimentados.
Ativistas (Jefferson Bernardes/AFP)
Tornar-se presidente da República ou melar as eleições. A tática de Lula de jogar mais gasolina na crise sem precedentes que arde no país tem um aliado na outra extremidade. Tanto o dono do PT quanto Jair Bolsonaro não têm qualquer disposição de aceitar o resultado das urnas caso sejam preteridos.
Autor da emenda do voto impresso, aprovada e não implantada, segundo o TSE por falta de dinheiro e de tempo hábil, Bolsonaro sempre tergiversa quando questionado se respeitará a vontade do eleitor. Embora não tenha dado a mínima – nem mesmo mandou representante para os testes oficiais das urnas -, insiste na tese de que o sistema eletrônico é fraudulento. Um escudo para contestar uma eventual derrota.
E sua turma, ativíssima nas redes, e barulhenta, não só fará coro à tese de fraude como já dispara ameaças caso o ex-capitão não chegue lá.
Na outra ponta, o bordão “eleição sem Lula é fraude” ganhou requintes de desfaçatez nunca antes experimentados.
Impedido pela Lei da Ficha Limpa de disputar eleições devido à condenação colegiada em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, Lula criou a farsa do registro no último minuto do último prazo. Para tal, o PT arregimentou torcedores angariados pelo MST, que, pela primeira vez, anunciou que cobraria (R$ 250 mil) do partido para custear a tarefa.
Tudo devidamente filmado para o horário eleitoral na TV, a ser encenado por Fernando Haddad, mais uma vez candidato-poste. Na primeira, foi vitorioso e tornou-se prefeito de São Paulo, quando Lula ainda não tinha amargado as dores do patrocínio de Dilma Rousseff. Prova disso é que Haddad não conseguiu se reeleger prefeito nem com Lula ao vivo e em cores em seu palanque.
Ao despudor de registrar a candidatura do chefe com atestados de antecedentes criminais de São Bernardo do Campo, onde seria seu domicilio caso não residisse na cela da PF de Curitiba há mais de uma centena de dias, o PT agora quer apoiar a campanha presidencial em uma carta normativa da Comissão de Direitos Humanos da ONU.
O documento, de acordo com os petistas, obriga o país a ter Lula como candidato. Como se vivêssemos em estado de exceção. Como se a Lei da Ficha Limpa de nada valesse. Como se um organismo internacional, seja qual for, pudesse falar mais alto do que as instituições do país.
Vale registrar que o comissariado de direitos humanos da ONU expede ordens a torto e a direito. Algumas disparatadas, como as dirigidas à Venezuela. O governo Nicolás Maduro já foi “obrigado” a cessar a violência contra a oposição e, ao mesmo tempo, recebeu apoio contundente contra as sanções internacionais às mesmas violências.
Isso posto, sabe-se que a “liminar” da ONU é balela pura. Mas poderosíssima para a propaganda petista. Corrobora com a narrativa de que Lula é perseguido e que as instituições brasileiras inexistem ou, pior, se mancomunaram contra o ex, mentira exposta no artigo assinado por ele no New York Times.
O PT sabe que a candidatura Lula será indeferida e que dificilmente haverá tempo para emplacar Haddad. Assim, aposta na implosão de tudo. Ou na vitória de Bolsonaro, que não é o mesmo mas é quase igual.
E o faz com o discurso de “luta”, em nome do estado de direito e da democracia, valores pelos quais não tem qualquer respeito. Vende-se, e com sucesso, como proprietário do bem e de toda a virtude. Na outra banda, Bolsonaro é dono da moral, da família e até de Deus.
Lula escancarou que, da cadeia, dá ordens para que os seus ponham fogo. Bolsonaro não deixa por menos, parte para o pau. Desdenha de qualquer um que dele discorde – só “analfabetos” criticaram seu programa de governo.
Ambos são nitroglicerina pura. Estão prontos para não aceitar reveses às suas pretensões.
Fonte: Blog do Noblat
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
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