19 de abril de 2024
Colunistas Ligia Cruz

Renúncia e assassinato abalam o mundo

O cenário da política internacional não termina bem nesta semana para duas personalidades bastante conhecidas em todo mundo, Boris Johnson e Shinzo Abe.

Foto: Google Imagens – Wikimedia Commons

Enquanto no Reino Unido, as nações ligadas à coroa britânica sofrem o impacto da renúncia do primeiro-ministro Boris Johnson, na última quinta-feira, hoje, sexta-feira, o ex-premiê do Japão foi assassinado com dois tiros em Nara, 480 km de Tóquio.

Do japonês, o que se sabe até o momento é que ele foi alvejado por dois disparos de uma arma artesanal, durante uma campanha política para Kei Sato, um membro do alto parlamento japonês.

O agressor foi preso no ato e disse ter planejado o crime, porque Abe era seu desafeto, por pertencer a uma “certa organização”, que ainda não divulgada. Abe morreu devido a uma hemorragia intensa, porque o artefato atingiu uma artéria do pescoço. Ainda não há mais desdobramentos desse fato lamentável que abala a política internacional.

Do outro lado do planeta, Boris Johnson ainda respira com a ajuda dos poucos aparelhos, os que sobraram em sua curta trajetória no cargo mais importante do Reino Unido, depois da rainha.

Na verdade, o desalinhado premier vem sofrendo abalos em sua reputação, desde o ano passado quando foi acusado de participar de 16 festas regadas a álcool, após decretar restrições sanitárias por conta da pandemia. Igualzinho a um certo ex-governador daqui que fechou tudo e foi tomar sol em Miami. Como foi filmado, o britânico não teve como negar.

Esses fatos sustentam as acusações que o partido trabalhista vem fazendo para retirá-lo do cargo. O caso ficou conhecido como Party Gate. Ele se desculpou e começou a circular de máscara e até admitiu não ter tomado vacina, decisão tomada por muitos chefes de estado e medalhões no mundo todo.

Até aí tudo bem, é o direito ao livre arbítrio de não desejar inocular experimentos vacinais não comprovados. A questão é que ele implantou a quarentena, trancou o país e foi para festa. Picada só no povão.

Cometendo gafes e vacilos aqui e ali, Johnson poderia até ter continuado no cargo, não fosse por essa atabalhoada administração da pandemia e por ignorar fatos bastante graves sob o seu nariz. Denúncias de assédio sexual de um assessor seu.

O fato caiu como uma hecatombe para esquentar ainda mais o verão do inglês e levá-lo a renunciar. As acusações de assédio sexual fizeram com que 41% dos seus legisladores batessem em retirada. Todos entregaram os cargos para a vergonha dos elizabetanos.

Chris Pincher, assessor da confiança de Johnson foi acusado de apalpar as nádegas de dois homens em um clube londrino. O comportamento dele já vinha causando desagrado na cúpula do governo desde o final de junho passado e Johnson teria ignorado tais fatos.

Ontem após o caso ganhar os jornais, os ministros da economia e da saúde entregaram os cargos. Depois disso, surgiram mais oito acusações de assédio por parte de Pilcher e a situação do primeiro-ministro ficou insustentável.

Relutante, Johnson não queria se afastar, mas o barulho da oposição e dos próprios membros do partido Conservador não lhe deu outra saída.

Enquanto enfrentava a missão de viabilizar o Brexit, após as saídas de Teresa May e David Cameron, o premier teria a oportunidade de concluir a retirada do Reino Unido da zona do euro se a pandemia e a guerra na Ucrânia não atrapalhasse seus planos.

A saída da União Europeia dividiu os eleitores, mas levou vantagem a ala que achava que os britânicos poderiam caminhar com os próprios pés, sem depender do clube.

O quadro que se desenhou não foi bem esse e nada dignificante. Nos últimos doze meses a inflação bateu na casa dos 9,1%. Johnson cortou impostos dos combustíveis, mas onerou os trabalhadores. E é com esse clima de insatisfação que ele foi forçado a renunciar.

Os russos comemoraram. O primeiro-ministro inglês foi um dos mais entusiasmados defensores de Volodymyr Zelensky. Até quando a maioria dos países europeus começaram a recuar da sanha ensandecida do ator ucraniano. Ele se manteve leal. Só que os recursos empenhados no apoio à Ucrânia saem dos cofres públicos e isso os britânicos não perdoam.

Até que ponto chega a cegueira do poder. Se os conservadores tiverem fôlego para indicar com êxito outro nome para o cargo pode até ser que o Brexit possa ser concluído, senão esse plano pode fracassar com o descabelado premier.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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