20 de abril de 2024
Colunistas Ligia Cruz

A batalha ucraniana

Imagem: Google Imagens – Exame

Só mesmo Vladimir Putin para alinhar progressistas e conservadores do mundo de um lado só. E Volodymir Zelensky, presidente da Ucrânia e humorista na vida real, já percebeu que precisa muito mais que carisma para administrar a crise. Chamou um cachorro grande para a briga e não é pelo riso que vai ganhar.

Quem é a favor de guerras hoje em dia, ainda mais quando o oponente tem uma das maiores forças de combate de mundo? Conflitos armados não são bem-vindos em nossos dias, até que se esgotem as negociações e saídas pela paz. Mas, o ucraniano testou a paciência de Putin.

Somente a capacidade da artilharia russa seria capaz de destroçar as forças armadas da Ucrânia em poucos dias. E mais do que isso, o mundo está vendo também que, além da vantagem estratégica, Putin pode coordenar ciberataques, capazes de tirar o país literalmente do “ar”, desconectar radares, equipamentos de defesa e qualquer coisa que passe pela inteligência artificial.

A existência da Otan está na raiz de todo o problema. A maior crítica de Putin e motivação do conflito é a constante ameaça das forças militares ao longo de sua fronteira. Ressalte-se que essa organização militar é remanescente dos tempos da Segunda Guerra, fortalecida no pós guerra fria, que não foi desativada como deveria quando o muro caiu e a União Soviética se desfez. Subsiste ainda com o argumento hipotético de que a Rússia será sempre uma inimiga em potencial, capaz de trair os tratados de paz em qualquer tempo.

A única saída para a Ucrânia é fazer muito barulho e meter todo mundo no meio do conflito, como está fazendo, mesmo sem ser afiliado da Otan ou integrar a comunidade europeia. Amadorismo.

É legítima a soberania de qualquer país. Nem é preciso que a enfraquecida ONU diga isso ou mesmo que o próprio Putin concorde.

Como autopreservação na sua fronteira, Putin ateou fogo no caldeirão que aquece os ânimos no leste ucraniano. Ele defende a independência de dois estados separatistas, na região do Donbass, Donetsk e Lugansk, que não só são pró-Russia, como uma porta aberta para os ataques. Os separatistas franqueiam a passagem dos equipamentos de guerra russos.

O norte-americano Joe Biden, juntamente com seus pares da Otan, respondeu com sanções econômicas, ainda mais rígidas do que as que foram instauradas após a invasão da Crimeia, em 2014. E continua ensaboando o assunto com ameaças na mídia, mas não deslocou seu exército para o confronto. É fraco, mas não é bobo.

Os países europeus, membros da Otan, também não estão comprando a ideia de enfrentar a Rússia em uma luta franca no continente.

Seria um retrocesso, a anulação de todos os tratados. Isso não é bom para ninguém.

A Europa precisa de gás e petróleo e a Rússia é a segunda maior produtora do mundo e já fornece para todos eles. Além de grãos. Portanto, as sanções, que prometem sufocar a economia russa só não incomoda mesmo os Estados Unidos. A Alemanha, por exemplo, depende amplamente do mercado russo. Como boicotar a inauguração do gasoduto russo-alemão, que recebeu grandes investimentos e vai beneficiar o país?

O presidente ucraniano está fazendo mais uma guerra midiática, um “show man” de stand up. Ele pode apelar para o emocional fazendo com que muitos russos fiquem contra as ações de seu presidente. Mas essas não são armas de guerra. Zelenski não tem a envergadura de um estadista, muito menos de um diplomata. Por isso, deu no que deu.

As manifestações populares na Rússia estão no início, mas Putin, que não tem muita paciência para essas coisas, logo vai dissipar a rebelião. Já limitou o acesso às redes sociais.

Pela dor e pelo medo, o povo ucraniano está sendo instado a se armar e defender a pátria. O mesmo que se colocar na parede e chamar os canhões de Putin.

Óbvio que Zelenski não vai bancar o herói. Não estará na linha de frente como os grandes generais da história.

Em pouco tempo Kiev foi invadida e vai cair com seu presidente, caso nenhum fato novo se apresente.

O ditador russo deu vários avisos antes de tudo isso começar. “não se acerquem da fronteira”. A Ucrânia não atendeu.

Impassível, frio e estrategista, se cansou, ameaçou e fez: invadiu o país. Alguém duvidava disso ou acreditou que Putin perderia seu tempo com um blefe? Seus tanques já estão circulando pelo país.

Consta que esse era um plano engendrado há muito tempo e acelerado depois que as forças da Otan começaram a fazer manobras nas proximidades de sua fronteira.

Com a anexação da Crimeia em 2014, Putin provou à comunidade europeia e ao mundo que não brinca em serviço. Ver-se cercado por inimigos é como acordar todos os dias com uma arma na cabeça. Provocação que ele não aceita. O ex-chefe da antiga KGB conhece a fundo seus inimigos e é capaz de envenená-los, literalmente.

Vladimir Putin não é um herói. A invasão de um país soberano é um crime inconteste. Só que ele percebeu que está sozinho, mesmo com o acordo recém-celebrado com a China. Tudo isso é um grande laboratório para avaliar o poderio bélico e de inteligência de seus oponentes.

O mundo pode mandar comunicados contra a demonstração de força do Kremlin e até boicotar o país, mas se Vladimir Putin é o que todos conhecem, só sairá da Ucrânia quando Zelenski cair. Isso não é chute, ele já pediu a sua cabeça para as forças armadas ucranianas.

Somente com a diplomacia esse conflito pode terminar. Faltam líderes no atual cenário. Emmanuel Macron não é o cara, nem o inglês Boris.

Lamenta-se que no pano de fundo de tudo está o povo russo e ucraniano, coirmãos, que já perderam muito com as guerras.

E que comece o êxodo ucraniano.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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